Sua excelência o Cacau😍



Este será um dos alimentos que terão tratamento especial e receitas na Oficina Sotoko, que acontecerá dias 23 e 24 de abril, em Serra Grande, Baixo Sul da Bahia.

Theobroma cacao

“Houve tempo de dedos corroídos,

Duro clamor nos dias mais sofridos,

Cobra no inverno, bala no verão,

De cacau era a flor no coração.”

Cyro de Mattos

REZA A LENDA….


Havia um grande deus onipotente chamado Sibu, que tinha poderes para criar homens e animais a partir de sementes. Sibu transferiu seus poderes para outro deus, Sura, lhe entregando suas preciosas sementes. Sura precisou sair e enterrou as sementes para guardá-las. 

Mas Jabaru, uma outra divindade, viu tudo e desenterrou as sementes e as comeu. Quando Sura voltou, Jabaru cortou sua garganta e enterrou seu corpo no local onde desenterrou as sementes. Jaburu ficou satisfeito com seus atos e voltou para sua casa onde ele descansou com sua esposa.

Depois de um tempo, Jaburu voltou ao túmulo onde havia enterrado Sura e descobriu que no lugar onde estava o corpo haviam crescido duas estranhas árvores.

Uma era um cacaueiro e a outra um pé de cabaça. Ao lado das árvores, quieto, estava o deus onipotente Sibu. Ele então ordenou que Jaburu preparasse uma bebida a partir das sementes do cacaueiro. Jaburu apanhou uma fruta repleta de amêndoas e uma cabaça e levou tudo à sua esposa que preparou a bebida e serviu na cabaça. 

O maldoso Jabaru levou a bebida até Sibu que ordenou que ele bebesse primeiro e assim Jabaru fez. Era uma bebida muito gostosa e então ele foi rápido bebe-la. Mas o prazer da bebida se transformou em agonia. O cacau nascido do corpo de Sura fez a barriga de Jabaru inchar, inchar, até estourar, deixando cair pelo chão todas as sementes que ele havia roubado e comido.

Sibu devolveu a vida a seu amigo Sura e lhe entregou novamente as sementes, assegurando que todos os humanos e animais possam nascer e crescer, para desfrutar toda a generosidade da Terra.

Obs: Apesar de ser uma lenda, percebemos a relação da lenda com as questões ambientais. 

O próprio desejo de consumir cacau e chocolate é como se fosse um mito que se perpetua ao longo do tempo.

A lenda projeta a cacauicultura como uma alternativa dos deuses para produzir um excelente alimento sem agredir a natureza, através da mata cabrucada.

Na foto as Folhas do Cacau, dos Enroladinhos das Folhas, e do Bobo feito apartir das sementes verdes do Cacau(Cacau Aguado como chamam na Cabruca)

Processamento do Cacau











O processamento da semente do cacau começou entre os grandes povos pré-colombianos, cuja elite bebia um chocolate primitivo, misturado com água, pimenta vermelha, milho e mel, em celebrações da vida e da morte. Entre aquelas civilizações, em que se confundiam selvageria e sofisticação, o cacau foi alimento, objeto de devoção e símbolo de poder.

No século XVI, com a invasão colonial um conquistador espanhol, Hernán Cortés, fez com que acabasse a festa mesoamericana: aniquilando o império de Montezuma, o maior soberano asteca, e levando o cacau para a Europa. Era o fim da pré-história do chocolate.

E o começo de um novo romance entre a humanidade e o doce que conquistaria os paladares de nobres e plebeus,em todas as partes do mundo.

Prisioneiros de guerra e jovens virgens não faziam planos de longo prazo no Império Asteca. Todos os anos, milhares deles eram sacrificados em rituais sádicos, em que os corações das vítimas eram arrancados com facas para aplacar a ira dos deuses - o que, na prática, era um pedido por mais chuva. Nem as crianças escapavam: quanto mais chorassem antes do golpe final, melhor. Sinal de que a estação seca não seria tão seca assim.

Por mais destrutivos que fossem seus rituais, aos olhos do colonizador, os astecas dominaram a região central do México entre 1325 e 1521 e tiveram importância fundamental na história da alimentação.

Foram eles que primeiro gourmetizaram o Chocolate, a bebida impressionou Hernán Cortés (curiosamente o próprio algoz dos astecas), com a bebida preferida da elite daqueles índios: o chocolate.

Desenhos do artista Percy Lau para Bahia (série 268) coleções do Rio de Janeiro

Mas, antes de migrar do Novo para o Velho Mundo, o cacau - matéria-prima do chocolate - teve trajetória ilustre entre povos ainda mais antigos, acompanhando banquetes, rituais e até os túmulos da nobreza maia, e antes dela dos olmecas, e antes deles de uma comunidade misteriosa da América Central: a primeira a ter a ideia de transformar o fruto do cacaueiro em bebida. Mas que ainda não era chocolate.

No princípio, era a birita

No Brasil a referência mais antiga sobre o cultivo de cacau na Bahia data de 1655, quando o vice-rei D. Vasco de Mascarenhas confessou-se, em carta enviada ao capitão-mor do Grão Pará, seu apreço pelo chocolate e julgou útil ao Brasil a intensificação do seu plantio, principalmente na Bahia, pelo clima semelhante ao amazônico.

Em 1746, Antonio Dias Ribeiro, da Bahia, recebeu algumas sementes e introduziu o cultivo na Bahia. O primeiro plantio foi feito na fazenda Cubículo, às margens do rio Pardo, no atual Município de Canavieiras. Em 1752 foram feitos plantios no Município de Ilhéus.

A partir da década de 1770 a coroa portuguesa passou a incentivar o plantio de novas lavouras de exportação para diminuir a dependência do comércio do açúcar. Teve início o plantio de lavouras alternativas como café, cacau e algodão.

O plantio tradicional do cacau no sul da Bahia seguiu o sistema de “mata cabrucada”. O sistema cabruca é caracterizado pelo plantio do cacau sob a sombra das árvores da Mata Atlântica e é utilizado na região cacaueira do sul da Bahia por mais de duzentos anos.

Ele é responsável pela conservação da biodiversidade, dos solos e das águas e da produção florestal e de sementes, óleos, resinas, flores e outros produtos não madeireiros.

Nas primeiras décadas do século XX o cacau era o mais importante produto de exportação da Bahia e vários fazendeiros de origem humilde, proprietários de vastas plantações de cacau e de importantes casas comerciais, tornaram-se os novos ricos da sociedade baiana.

Em 1990 a produção sul baiana sofreu com a “vassoura de bruxa” que, aliada aos preços declinantes do produto no mercado internacional, gerou uma forte crise no setor. Após a crise econômica, o cacau tipo 1 Bahia deixou de ser negociado em bolsas de valores.

Hoje o Brasil é o quinto maior produtor de cacau do mundo e o Pará é o maior produtor nacional.

O primeiro fruto do cacau bebido nas Américas foi uma intrigante versão de cerveja artesanal (5% de álcool) produzida pela fermentação de sua polpa doce.

É exatamente o que sugere um estudo da Universidade da Pensilvânia, com vasilhas de cerâmica datadas entre 1400 a.C. e 1100 a.C, de um sítio arqueológico de Honduras. “Os resultados foram espantosos”, afirmou Patrick McGovern, um dos autores. "Todas as vasilhas deram resultado positivo para teobromina.”

Esse alcalóide, primo da cafeína, é a impressão digital do cacau, podendo ser constatado no formato das vasilhas, semelhante ao de recipientes de bebida de outros povos, apontava para a natureza alcoólica de seu conteúdo.

O cacau foi citado pela primeira vez em literatura botânica no início do século XVII como Cacao fructus por Charles de L’ecluse . Em 1737 foi introduzido o binômio Theobroma cacao L. 

A palavra Theobroma significa alimento dos deuses e é inspirada na crença mesoamericana da origem divina do cacaueiro. O termo cacau deriva da palavra cacahualt (idioma nahuatl) falada pela civilização maia.

Nos tempos dos astecas a semente já era consumida depois de ser torrada e moída. Com ela se faziam pratos com legumes e também uma bebida amarga usada em rituais para brindar a Quetzalcóatl, o deus-serpente emplumado.

À bebida davam o nome de xocatl. Acredita-se que as amêndoas também tinham uso comercial e eram usadas como moeda.

O contato inicial dos europeus com o cacau foi em 1502, quando um dos navios da quarta expedição de Colombo às Américas encontrou, na costa norte da atual Honduras, uma canoa nativa contendo amêndoas de cacau para comércio. No começo os espanhóis não sabiam como usar as sementes e produziam um prato gorduroso e amargo. Até que alguém teve a ideia de misturar com o açúcar das Índias e teve um resultado incrível! No final do século XVI, a bebida de cacau adoçada já era um sucesso para quem pudesse pagar por ela!

As primeiras casas de chocolate europeias serviam uma bebida espessa, quente e doce. Até que Casparus van Houten, um holandês, descobriu um novo método de processar as sementes misturadas ao leite. Van Houten descobriu um método de reduzir a gordura para produzir uma massa de cacau que podia então ser pulverizado. Em 1838 a patente de Van Houtem expirou e novos fabricantes entraram em cena, tornando o chocolate mais popular.

USOS INDÍGENAS 

No Brasil, para indígenas yanomami e ye'kwana, o chocolate também é sinônimo de vida nova. Os índios transformaram a cultura tradicional do cacau, já utilizado nas comunidades como remédio, em alternativa de sustento e luta contra o garimpo que assola a terra indígena Yanomami nos estados de Roraima e Amazonas.

Os índios Kuna, da costa do Panamá, utilizavam o cacau para se protegerem contra a elevação da pressão arterial.

Possui efeito estimulante devido a presença de teobromina e cafeína. É rico em carboidratos e proteínas, além de alto valor energético.

Externamente auxilia na regulação da permeabilidade capilar melhorando a circulação sanguínea. Sendo indicado para tratamento de celulite, olheiras e problemas circulatórios em geral.

Tanto o cacau sólido quanto a manteiga e até mesmo o chocolate (em concentrações a partir de 70% de cacau sólido) são riquíssimas fontes de antioxidantes. Compostos bioativos importantes encontrados nas matérias primas extraídas do cacau incluem flavonóides, procianidinas e epicatequina. Embora estas moléculas não sejam exclusivas do cacau, o extrato de cacau contém um nível particularmente elevado destes compostos em comparação com outros produtos vegetais.

Estudos demonstram que o consumo de cacau (em concentrações a partir de 70%) está ligado a um melhor fluxo sanguíneo e melhora da sensibilidade à insulina dentre outros inúmeros benefícios.

No que tange os cuidados com a pele e os cabelos, a alta concentração de antioxidantes da manteiga de cacau, incluindo ácido oleico, ácido palmítico e ácido esteárico trazem inúmeros benefícios, sendo altamente nutritivo, fornecendo uma camada de proteção contra estressores e radicais livres, o que combate o envelhecimento precoce da pele e das cutículas capilares por agressões ambientai.
No couro cabeludo melhora a circulação e oxigenação dos folículos pilosos proporcionando força e resistência aos fios.

Inscrições para Oficina Sotoko pelo whatsapp com a Loy (93)992413769 😉


#agroecologia #comeréumatopolítico #bahia #elcocineroloko #cacau


Comentários

Postagens mais visitadas