A miscigenação gastronômica do Sul-Bijajica

Talvez uma das mais belas características da sociedade brasileira seja a miscigenação. A população brasileira é constituída de uma vasta pluralidade racial, que ocorreu devido a mistura de diversos grupos humanos, entre eles, indígenas, africanos, imigrantes europeus e asiáticos. 

A alegria, a cultura e o charme que só a mistura do povo brasileiro consegue agrupar tao bem, fazendo com que sejamos donos de grande criatividade e originalidade.

Apesar da cultura indígena ser uma das mais espoliadas, (a população indígena) foi amplamente exterminada pelos conquistadores diretamente e pelas doenças que eles trouxeram, caindo de uma população de milhões para cerca de 150 mil em meados do século XX, quando continuava caindo.
Os povos indígenas do Brasil compreendem um grande número de diferentes grupos étnicos que habitam o país desde milênios antes do início da colonização portuguesa, que principiou no século XVI, fazendo parte do grupo maior dos povos ameríndios.

Um dos fortes legados indígenas foi a sua culinária, Tinham amplo conhecimento da produção de bebidas fermentadas a partir de tubérculos, raízes, folhas, sementes e frutos como o milho, mandioca, batata-doce, buriti, caju, amendoim, banana, ananás, deixaram forte herança na culinária brasileira, com pratos à base de mandioca e milho, tais como a pamonha e o beiju, e também com o guaraná, palmito, batata-doce, cará, pinhão, cacau, amendoim, caruru, serralha, mamão, araçá e caju, embora haja dezenas de outros hoje pouco comuns ou de conhecimento apenas regional, como o abajeru, apé, araticum, azamboa, bacaba, bacupari, camboim, cambucá, curuanha, curuiri, guti, grumixama, guapuronga, mocurí, mundururu, murici, ubucaba e umari. 


Outros vegetais introduzidos pelos indígenas foram fibras como o algodão, o tucum, gramíneas, bambus e o guaratá bravo para fabrico de tecidos, ornamentos e cestaria; para fazer vassouras, a piaçava; gêneros de abóboras para produzir cabaças, usadas para armazenar água ou farinha. Dos alimentos derivados de animais, destacam-se os de tartarugas e seus ovos, como o arabu, o abunã, o mujanguê e o paxicá; de peixes, como a paçoca e o moquém (também podem ser de outros animais), o piracuí, a moqueca e a mixira.

Os primeiros açorianos chegaram à Santa Catarina na metade do século XVIII, chegaram para consolidar as fronteiras do sul do Brasil e ao mesmo tempo solucionar os problemas econômicos e demográficos do Arquipélago dos Açores.

O rei de Portugal na época D. João V, ofereceu ás pessoas que moravam nas Ilhas dos Açores várias vantagens para que viessem morar aqui no sul do Brasil. Eles receberiam transporte até as terras brasileiras, terras para plantarem, instrumentos de plantio, sementes e farinha para o sustento.
Dos imigrantes que chegaram, uma parte se fixou nas freguesias de Nossa Senhora do Rosário, da Enseada de Brito e de Nossa Senhora da Conceição da Lagoa. Essas pessoas vieram das seguintes Ilhas dos Açores, São Jorge, Terceira, Graciosa, Pico, São Miguel, Santa Maria e Faial.

O povoamento das regiões litorâneas do sul do Brasil, deve-se principalmente aos açorianos que quando aqui chegaram desenvolveram atividades como a pesca, o plantio de farinha de mandioca, café e algodão.


Atualmente vivem no Brasil mais de um milhão e duzentos mil portugueses, grande parte constituída por açorianos e seus descendentes. 
Esta preparação se assemelha à um cuscuz de massa de mandioca com amendoim cru e açúcar mascavo que, à primeira vista, mais se parece um pumpernickel, mas, dizem alguns, com um sabor infinitamente melhor. 

A massa de mandioca usada vem dos engenhos na época em que se faz farinha – entre abril e junho - e chega bem sequinha, podendo ser congelada para a entressafra. O que não se sabe é de onde vem o costume de se comer bijajica, que se estende por vários municípios vizinhos. Tampouco, a origem do nome, homônimo de outra iguaria catarinense – um bolinho de polvilho com ovos e açúcar, frito em banha." 

A Bijajica é um bolo cozido no vapor, de massa de mandioca crua, amendoim e açúcar, aromatizado com cravo e canela, que é tradicionalmente preparado no interior de Santa Catarina, em territórios onde os engenhos de farinha artesanal tiveram grande importância econômica. 

A preparação tem origem indígena, mas a receita atual é resultado da influência açoriana no estado a partir do século 18. Hoje a receita é guardada e repassada às novas gerações por quituteiras da comunidade Areais da Ribanceira, em Imbituba, no litoral do estado, onde cerca de 50 famílias vivem do cultivo da mandioca em terrenos comunitários.
A bijajica, foi recentemente  incorporada ao catálogo Arca do Gosto da Slow Food, um catálogo mundial que identifica, descreve e divulga cerca de mil ingredientes e produtos ameaçados.

A Bijajica, tem origem histórica ligada aos engenhos artesanais da região de Florianópolis, e uma das principais ameaças à bijajica a é especulação imobiliária e a falta de regulação fundiária, que provoca a desapropriação dos agricultores. Nos últimos anos, a produção de farinha reduziu drasticamente porque não há mais terras para plantar e os engenhos estão desaparecendo, com isso, os

produtores estão sendo forçados a migrar para as cidades. “A comunidade é a única que produz a bijajica, se não tivermos mais a matéria-prima, a tradição vai acabar”, explica Marlene Borges, presidente da Associação. Para apoiar a preservação da atividade, o Centro de Promoção de Agricultura de Grupo – CEPAGRO criou um ponto de cultura para apoiar a manutenção de engenhos de farinha no litoral do estado de Santa Catarina. Veja o vídeo:
https://www.youtube.com/watch?v=IbheywT1To4


Conheça a  Receita de Bijajica 
Ingredientes: 
500 g de massa de mandioca ralada, bem espremida (talvez seja necessário 1 kg de mandioca). 
500 g de amendoim vermelho cru triturado (usei processador, mas pode ser no liquidificador ou máquina de carne) 
250 g de açúcar mascavo 
1 colher (chá) de sal (ela disse uma pitada, mas uma colherinha rasa está de bom tamanho para o equilíbrio) 
12 cravos triturados (poderia até ser mais para esta
quantidade; também medida minha) 

Misture bem todos os ingredientes e coloque, sem apertar, na parte de cima de uma cuscuzeira ou panela de vapor, forrada com pano de algodão. Cubra com as pontas do pano, feche a panela e cozinhe por mais ou menos meia hora ou até sentir com os dedos que a massa está cozida e grudadinha. Aí é só virar e desenformar. Se quiser fatias perfeitas, espere esfriar um pouco para cortar. 

A versão que parece mais autêntica é cozida e me parece que fica semelhante à pamonha (até pensei, quando li a receita, que poderia ser servida em folhas de milho verde).

Comentários

  1. Vi hoje uma receita de Bijajica, no programa Mais Você da Ana Maria Braga, que leva também a canela em pó.

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