A importância do Tupi na formação da nossa identidade.

Tucupi, abacaxi, pipoca, tapioca, nossa gastronomia esta impregnada de termos do Tupi, a língua mais falada no Brasil no seculo 18 e foi a  língua oficial do Brasil junto com o
português até o século 18. E só deixou de ser falado porque o Marquês de Pombal, em 1759, proibiu o ensino do tupi. 

O tupi antigo era conhecido até o século 16 como língua brasílica. No século 17, ele passou a ser chamado de língua geral, pois incorporou termos do português e das línguas africanas. Mas continuava sendo uma língua indígena, assim como é até hoje o guarani no Paraguai, falado por 95% da população. Nas relações formais, é o castelhano que se fala, mas em casa é só o guarani. 
A dissolução do tupi foi rápida porque a perseguição foi muito violenta. Mesmo assim, até o século 19 ainda havia muitos falantes do tupi. Hoje, a língua geral só é falada no Amazonas, no alto Rio Negro – chama-se nheengatu e tem milhares de falantes entre os caboclos, índios e as populações ribeirinhas.


O objetivo de Pombal era enfraquecer a Igreja Católica e os jesuítas, que utilizavam a língua indígena para se aproximar e catequizar os nativos brasileiros. Com a proibição, o tupi desapareceu como idioma funcional (sobrevivendo apenas como a variação nheengatu na Amazônia).Com o passar do tempo, o tupi antigo evoluiu para outras línguas, como o nheengatu (ou língua geral amazônica, falada até hoje), mas acabou perdendo importância a partir de meados do século 18, quando o então primeiro-ministro português, Marquês de Pombal, proibiu o uso e o ensino do tupi no Brasil e decretou o português língua oficial.

A contribuição do tupi se deu principalmente no vocabulário, já que não houve influências importantes na gramática do português (na pronúncia, na fonética ou na sintaxe). “Desde cedo, a língua portuguesa entrou em contato com essas línguas [indígenas]. Então é natural que, do ponto de vista do vocabulário, os portugueses tenham encontrado nomes de plantas e animais que não eram conhecidos [até então]. O vocabulário da língua portuguesa está repleto de palavras indígenas, porque os portugueses encontraram aqui um novo mundo da fauna e da flora”.

Além dos nomes de plantas, animais e gastronomia, houve uma grande contribuição do tupi para os nomes de lugares no Brasil. Topônimos como Iguaçu, Pindamonhangaba, Ipiranga, Ipanema, Itaipu e Mantiqueira são palavras ou expressões indígenas. Há heranças do tupi também em verbos, como cutucar, e em expressões populares como estar na pindaíba ou ficar jururu.

A contribuição do tupi, no entanto, não ficou restrita ao Brasil. Algumas palavras indígenas brasileiras ganharam o mundo e influenciaram idiomas como o inglês e o francês. O dicionário de língua inglesa Merriam-Webster cita várias palavras de origem tupi, como manioc (que vem de mandioka), capybara (que vem de kapibara), toucan (que vem de tukana), jaguar (que vem deîagûara) e tapir (que vem de tapi'ira, conhecida como anta no Brasil).


Entre os casos da influência tupi no mundo está a palavra akaîu, que se transformou em caju na língua portuguesa. 
A fruta tipicamente brasileira ganhou espaço na culinária mundial, tanto por sua polpa quanto pela castanha. 
O sucesso linguístico veio no embalo do gastronômico.

Várias línguas hoje conhecem a fruta por palavras derivadas do akaîu. Entre os exemplos de vocábulos derivados do original indígena estão cashew (inglês, sueco, alemão, holandês, dinamarquês), acagiú (italiano), kaju(turco), cajou (francês), kásious (grego), kashu(búlgaro e japonês) e kašu (estoniano).

Apesar de a maior parte dos vocábulos vir do tupi, há contribuições isoladas de outras línguas como a palavra guaraná, que vem de warana, de origem sateré-mawé. Os Saterés-Mawés, que vivem no estado do Amazonas, são considerados os inventores da cultura do guaraná porque conseguiram beneficiar o fruto. Assim como a tupi akaîu, a palavra warana influenciou outros idiomas, além do português.

A trajetória única de um engenheiro negro que mostrou o sertão do Brasil aos brasileiros e deixou seu nome em importantes ruas de São Paulo e Salvador.

Presente no cotidiano dos brasileiros, a língua tupi expressa a visão de mundo dos habitantes autóctones antes da chegada dos portugueses.

O engenheiro baiano Teodoro Sampaio (1855-1937). "O Tupi na Geografia Nacional", de 1901, ressalta o papel dos bandeirantes na difusão de topônimos de origem tupi por todo o País e esclarece a origem etimológica de muitos daqueles. "São frases acabadas, traduzindo uma ideia, um episódio, uma feição típica dos lugares a que se aplicam; são, a bem dizer, verdadeiras definições do meio local", diz. Alguns exemplos: Apiaí (rio dos homens ou dos machos), Anhangabaú (rio ou ribeiro do malefício, da diabrura ou do feitiço), Boipeba (cobra chata, cobra venenosa), Capibaribe (rio das capivaras), Curitiba (pinhal, mata de pinheiros, pinhões em abundância), Ipanema (água ruim, imprestável), Jararaca (o que colhe ou agarra envenenando), Moqueca (fazer embrulho), Paraná (rio enorme), Sambaqui (depósito de conchas e ostras), Toca (casa, refúgio) e Votu (vento).



Theodoro Sampaio

Theodoro_SampaioNasceu em 1855, no Engenho Canabrava, município de Santo Amaro da Purificação, filho do padre católico Manoel Fernandes Sampaio e da escrava Domingas da Paixão. Formou-se engenheiro em 1877. Trabalhando como professor de Matemática e desenhista do Museu Nacional, conseguiu poupar dinheiro suficiente para comprar a alforria de sua mãe e de três irmãos. Foi casado com Dona Capitulina Moreira Maia e com ela teve oito filhos, seis homens e duas mulheres. Após a sua primeira esposa adoecer mentalmente, Theodoro viveu maritalmente com Glória Maria da Fonseca, senhora da sociedade paulistana, com quem teve mais três filhos. Após o falecimento da primeira esposa, o engenheiro veio a se casar no Rio de Janeiro com Amália Barreto Sampaio, com quem viveu até falecer.

Aos nove anos de idade, Theodoro Sampaio foi levado ao Rio de Janeiro pelo seu pai, padre Manuel Sampaio, capelão do Engenho Canabrava. Na então capital federal, foi matriculado no Colégio São Salvador em regime de internato, onde aos 15 anos de idade tornou-se auxiliar de ensino. Concluído os estudos preparatórios, ingressou na Escola Central, de onde saiu 5 anos depois, formado em engenharia civil. Quando ainda era estudante universitário, atuou como desenhista no Museu Nacional e ali expandiu seu círculo de relações, tendo conhecido o naturalista norte-americano Orville A. Derby, com quem participou, em 1879, da expedição científica ao Vale do São Francisco, que se destinava a estudar os portos do Brasil e a navegação interior. 

Ao término da expedição, Theodoro foi convidado a integrar a Comissão Geográfica e Geológica de São Paulo, sendo, mais tarde, designado diretor da Comissão de Saneamento e posteriormente consultor técnico da antiga Secretaria do Interior desse estado. Durante sua gestão, o engenheiro reformou grande parte da rede de esgotos da cidade, além de aumentar e desenvolver o seu sistema. Durante a sua permanência no litoral paulista, desenvolveu estudos para o porto de Santos, publicando uma monografia na Revista de Engenharia, em 1879.

Após ter sido um dos fundadores do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo em 1894, Theodoro Sampaio foi admitido como sócio do IGHB (Instituto Geográfico e Histórico da Bahia) em 21 de outubro de 1898, passando a fazer parte da sua diretoria como orador oficial e membro da comissão da Revista Estatutos a partir de 11 de maio de 1913. Mais tarde, em 1922, o engenheiro viria a ser o presidente desta instituição. Em função das atividades profissionais que desenvolvia, escreveu livros sobre aspectos geográficos do Brasil, com destaque para O Rio São Francisco e a Chapada Diamantina, durante os seus estudos para o rio São Francisco. A língua nativa e os povos indígenas também despertaram a curiosidade desse intelectual negro baiano e sobre o tema ele escreveu O tupi na geografia nacional, sua obra-prima. Dentre as muitas publicações de Theodoro Sampaio destacam-se: Tremores de terra na Bahia; Tremores de terra no recôncavo da Bahia de Todos os Santos e O Tupi na geografia nacional.

Theodoro veio a falecer no Rio de Janeiro em 1937, para onde se transferira aos 83 anos de idade, residindo em uma modesta casinha situada no bairro de Laranjeiras. Seu corpo foi sepultado no cemitério São João Batista.

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