Musgo mais antigo do mundo está ameaçado pelo aquecimento global

 Takakia ocupa a cordilheira do Himalaia e o Planalto do Tibete há pelo menos 165 milhões de anos 

Há cerca de 65 milhões de anos, a placa tectônica indiana começou a placa tectônica indiana começou a colidir com a euro-asiática, dando origem à cordilheira do Himalaia e ao Planalto do Tibete. Quando isso ocorreu, um ser vivo já ocupava esse local há milênios e ele se recusou a abandonar sua casa, apesar do caos. 

Conhecida como o musgo mais antigo do mundo, a Takakia se adaptou rapidamente ao frio e radiação intensos das grandes altitudes, mas agora está ameaçada pelo aquecimento global.  

“O genoma da Takakia está evoluindo rapidamente devido à sua elevação no Himalaia, o que ajuda a lidar com o ambiente cada vez mais extremo”, afirmou a Ralf Reski, geneticista da Universidade de Freiburg e autor principal do artigo publicado nesta quarta-feira, 9. “No entanto, o genoma não evolui rápido o suficiente para lidar com as mudanças climáticas.”

Esse gênero é composto por apenas duas espécies – T. lepidozioides e T. ceratophylla. Embora uma ou outra possa ser encontrada em algumas áreas mais remotas dos Estados Unidos da América e no Japão, somente no Tibete ambas as espécies existem, na região dos Himalaias.

Este musgo, que não cresce mais do que alguns milímetros, é considerado a planta mais antiga que ainda existe na Terra, com cerca de 390 milhões de anos, e é um descendente das primeiras espécies vegetais que deixaram os ambientes marinhos para trás e foram as primeiras formas de vida a colonizar as massas terrestres. Além disso, os cientistas acreditam que este fóssil vivo é o musgo com a maior capacidade de se adaptar rapidamente a mudanças ambientais, o que pode explicar por que ele ainda sobrevive após milhões de anos.

“Embora o genoma do Takakia evolua rapidamente”, explica Ralf Reski, pesquisador da Universidade de Freiburg e um dos autores do artigo publicado esta semana na revista ‘Cell’, o musgo não parece ter sofrido alterações morfológicas nos últimos 165 milhões de anos. “Isso faz do Takakia um verdadeiro fóssil vivo”, diz, apontando que “esse aparente contraste entre uma forma inalterada e um genoma em rápida mudança é um desafio científico para os biólogos da evolução”.

O Takakia é o que poderíamos chamar de um sobrevivente natural. No entanto, as mudanças climáticas impulsionadas pelas atividades humanas na Terra podem ameaçar encerrar esta história de adaptação. O musgo evoluiu ao longo de milhões de anos, ajustando-se às mudanças ambientais gradualmente, mas agora seu habitat está mudando rapidamente e talvez não consiga lidar com essas mudanças repentinas.

Os pesquisadores afirmam que, nos últimos 20 anos, as populações de Takakia têm diminuído “significativamente” no Tibete, enquanto outras espécies vegetais têm se beneficiado do aumento da temperatura.

“Nosso estudo mostra o quão valioso o Takakia é para nos ajudar a entender a evolução das plantas terrestres. O declínio populacional que encontramos é alarmante”, reconhece Yikun He, da Capital Normal University, na China. “Felizmente, o fato de saber que a planta está ameaçada de extinção também nos dá a oportunidade de protegê-la, por exemplo, cultivando-a em laboratório”, destaca.

“O Takakia viu os dinossauros surgirem e desaparecerem. Testemunhou o surgimento dos humanos. Agora podemos aprender algo sobre resiliência e extinção com este pequeno musgo”.



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