Deia Lopes, chef baiana que apostou na iguaria para transformar a sua realidade


Por José Mion
Ícone da gastronomia no Norte e Nordeste, saudável e versátil na cozinha, a tapioca é celebrada neste dia 15 de julho. Para festejar a data, conversamos com Deia Lopes, chef baiana, nascida em Aurelino Leal, a cerca de 180 quilômetros de Salvador. Conhecida como a “rainha da tapioca”, ela construiu sua história de empreendedora através da iguaria extraída da mandioca e viu sua vida mudar a partir dela. O ingrediente, inclusive, foi o meio que usou para dar uma guinada em sua vida, com a concepção da Toca da Tapioca, restaurante que comanda em Serra Grande, no distrito de Valença, no litoral baiano.

“A tapioca mudou a minha vida e minha realidade. Quando eu era criança, minha mãe vendia amendoim na rodoviária e sempre voltava pra casa com a farinha e uma proteína. Nem sempre a proteína era suficiente para o dia seguinte, então, ela misturava tudo com água e resultava em uma tapioca de farinha de mandioca. Embora não fosse exatamente como a tapioca que temos hoje, ela já estava presente em minha vida e me mostrando sua versatilidade na cozinha”, nos contou a chef, que recentemente integrou o elenco do reality Cook Island - Ilha do Sabor, do canal fechado GNT, que teve outro baiano, o chef Kaywa Hilton, como um dos jurados

A relação de Deia com a tapioca é tão forte, que ela chega a se comparar com o ingrediente. “Uma única raiz, a gente transforma em vários subprodutos, e eu, com minha vontade de mudar de vida, fiz tantas coisas e passei por tantos perrengues... Somos resistentes”, define.

 Parte de sua alimentação quando pequena, a tapioca esteve presente na vida de Deia em diversas etapas, até virar base do seu negócio, que completa 15 anos em 2023. “Trabalhei em três hotéis preparando tapioca, mas percebi que a minha tapioca era diferente no Txai Resort”, revela a chef. Foi no hotel de luxo em Itacaré que ela ganhou vivência nos fogões, primeiro como ajudante de cozinha e, aos poucos, ganhando conhecimento e prática com o chef do local até ser alçada ao posto de chef principal. Ainda assim, para garantir um futuro melhor para seu filho, se desdobrava trabalhando paralelamente em outro resort, onde recepcionava turistas vestida com trajes típicos de baiana e fazendo tapiocas. Lá estava o insumo de novo. Difícil se desvencilhar.



Na Toca da Tapioca, ela começou vendendo as opções recheadas. O menu foi crescendo, mas ela segue sendo uma estrela, inclusive em versões coloridas, à base de beterraba, cenoura, cúrcuma, manjericão, alecrim e até de café. Por lá, o cliente come de pão de queijo de tapioca a camarão envolto na tapioca e os clássicos dadinhos. Sucesso de público e crítica, o restaurante pode até, em breve, ganhar o mundo. “A ideia é transformar esse negócio em franquia e levar essa forma de usar a tapioca para vários locais, de Serra Grande para o mundo”, profetiza a baiana, que passou por muito até chegar aonde está hoje.


Aos 13 anos, por exemplo, se mudou para São Paulo, com uma das irmãs. “Sempre me adaptei muito fácil e comecei a ajudar minha irmã, que fazia faxina em uma casa em Alphaville. Ficava brincando com uma das crianças da família e logo virei babá, tendo apenas duas folgas no mês”, afirma Deia, que deixou a função ao ter seu primeiro filho. Para dar conta da criação do pequeno, fez faxina também e trabalhou até em um McDonald’s. Antes de voltar para a Bahia, a cozinha, de alguma forma, já garantia o pão de cada dia seu e de seu filho.
Para Serra Grande, se mudou por uma oportunidade de emprego. Lá, chegou a morar numa pousada trabalhando o dia todo. O pouco dinheiro que sobrava ao final do mês era guardado com carinho e tornaria seu sonho em realidade pouco tempo depois, a primeira unidade da Toca da Tapioca, hoje com ambientação charmosa, com varanda ampla e dois andares.

Lá, são mais de 30 variações da iguaria que lhe dá o nome, seja em versões doces e salgadas ou compondo opções, como o camarão envolto na tapioca com aipim, queijo coalho e molho de maracujá. O cliente ainda pode degustar pratos à base de peixes, carnes e frutos do mar. 

“No começo, só vendíamos tapioca. Com o tempo, outros pratos foram surgindo no menu e, por ser muito versátil, sempre fomos mantendo esse ingrediente (a tapioca) nas receitas. Afinal, tapioca cai bem no café da manhã, no almoço e no jantar”, afirma a chef, que oferece até os discos de tapioca prontos e congelados para o cliente preparar em casa. “Se ela, a tapioca, era a estrela e tem tanto significado em minha trajetória, por que não estar presente no nome também? Tinha que ser Toca da Tapioca”, diz Deia.
Siga: @tocadatapioca.restaurante.
 
Tapioca: saiba como surgiu a iguaria
 

Você sabe como surgiu a tradicional tapioca? A principal iguaria da culinária nordestina tem mais de 500 anos e surgiu no território brasileiro bem antes dos portugueses invadirem. A tapioca tem como matéria prima a mandioca, raiz rica em nutrientes como fibras, carboidratos, potássio e cálcio, dela é feita a farinha, ou goma, que quando peneirada, origina o prato que quebrou as fronteiras do nordeste e hoje é consumido por todo o Brasil.

Onde tudo começou

Em geral, a mandioca tem origem na América do Sul, mas muitos estudiosos afirmam que a primeira vez que os europeus tiveram contato com a mandioca foi em terras brasileiras,, o que pode significar que a mandioca seja especificamente brasileira e precisamente nas imediações do Alto Rio Madeira, em Rondônia. Os registros contam que há muito tempo a mandioca era um alimento consumido pelos indígenas de diferentes formas, como tapioca, que não era a preferida dos indígenas, com frutas, peixes, carnes e já preparavam o biju, primo da tapioca que tem a mesma forma de preparo, só que fica aberto.

Durante o período colonizador português a tapioca se espalhou e acabou virando alimento dos escravos que passaram pelas terras do Brasil. Nesse período, por volta de 1500, o coco foi incorporado à iguaria e ficou bem popular nas regiões norte e nordeste, com o passar do tempo e através de todas as revoluções históricas, foi adotada pela cultura nordestina e hoje é símbolo e patrimônio cultural, como é o caso da cidade de Olinda, cidade irmã da capital de Pernambuco, Recife.



Fotos: Divulgação. Fonte Alô Alô Bahia

#elcocineroloko

Por fim, não esqueçam de nos seguir em nossas redes sociais @elcocineroloko, para dicas, receitas, novidades: blog @sossegodaflora.blogspot.com e visite nosso Instagram




Comentários

Postagens mais visitadas