Jurema Sagrada e o sincretismo afro-indígena

 

"Quando era menina, sentia o cheiro desse mato, vinha sempre aqui, era como o mato, os bichos, as gentes chamasse...

Meu finado marido era raizeiro, entrava no mato, conhecia todo tipo de folha, de raiz, taioba, benjoim, capim de chero, aqui tudo tem esse valor, ele conversava com toda essa gentes"

"Mainha plantou de uma talisca essa Jurema, nessa época, ela perde todas as folhas, veja, ela fica assim, toda nua, depois recolhe força, e volta né..
Viu como tá cheio de passarinho, eles vem pegar um pouquinho de força da Jurema"

#elcocineroloko


Jurema Sagrada e o sincretismo afro-indígena
Conhecida também como Catimbó, o culto à Jurema mistura elementos afro-ameríndios e é mais difundido no nordeste do Brasil; a fumaça dos cachimbos, o respeito às ervas sagradas e os cânticos marcam os rituais.
O período da colonização foi marcado por rituais e cultos ligados à cultura indígena e afrodescendente. Dentre as religiões que apresentam seus primeiros registros nesta época, está a Jurema Sagrada, também conhecida como Jurema Nordestina ou Catimbó, de origem afro-ameríndia.

Por meio de cantos, danças, infusões, cachimbos e dizeres sagrados, indígenas se colocavam em contato com seus antepassados e com outros seres do plano espiritual. Aos olhos dos colonizadores e dos jesuítas, tais práticas eram um grande empecilho à divulgação da fé cristã em terras brasileiras. É o que diz o historiador Rainer Souza.
"A Jurema, na verdade, é uma árvore da caatinga e do agreste que tem sua casca utilizada para a fabricação de uma bebida mágica que concede força, sabedoria e contato com seres do mundo espiritual. Dessa maneira, o uso da árvore desencadeia a formulação de uma experiência religiosa com o mesmo nome", explica o historiador.

Para ele, os praticantes do catimbó são aqueles que se reúnem em terreiros ou casas para realizarem a ingestão da bebida feita a partir da árvore, empregando o uso de tabaco e buscando o contato com um mundo espiritual alcançado através do transe.
O artigo "A Jurema Sagrada - Resiliente religião de matriz indígena do Nordeste do Brasil", do historiador Alexandre L'Omi L'Odò, mestre em ciências da religião e sacerdote juremeiro e do candomblé, diz que há pouca documentação histórica que relate as práticas religiosas indígenas entre os séculos XVI e XX, o que deixou uma lacuna difícil de ser preenchida por completo no campo comum da história.

"Por outro lado, a permanência da forma de ser indígena na nossa língua, comida, imaginário e religiosidade, comprova o que os documentos não registraram — afinal eram escritos pelos colonizadores opressores brancos. Os terreiros de Jurema são os maiores livros orais acerca da cultura indígena e, de certo modo, africana. Eles demonstram a tradição em seus traços culturais e filosóficos, nos limites da antropologia, sociologia e da história", informa um trecho do documento.
Os cânticos sagrados dos terreiros são um dos elementos mais fortes de preservação do "ser da matriz indígena", na Jurema Sagrada. Neles é possível absorver a história desse povo cantada sistematicamente, em linhas melódicas que revelam a sua filosofia e imaginário, segundo o especialista.

O mestre em ciências da religião enfatiza que esta prática religiosa se manteve viva, "mesmo após todo o holocausto indígena que dizimou quase por completo as diversas etnias/civilizações deste país. Contudo, sua presença e força no mundo urbano das cidades do Nordeste, sobretudo, em Recife e Região Metropolitana, é muito forte".

"É preciso separar os cultos", diz iniciada em Jurema Sagrada

Em seu artigo, o historiador Alexandre L'Omi L'Odò enfatiza que a Jurema não é Umbanda. "Muitas pessoas as confundem, mas elas não podem ser confundidas. A Umbanda tem pouco mais de 100 anos de existência no Brasil, a Jurema já estava aqui séculos antes. Esta é a primeira diferença", diz.

Além disso, o sacerdote destaca que a Jurema se utiliza de elementos próprios que não são ligados às práticas umbandistas, como o cachimbo, o tronco da jurema, os mestres e encantados.


Ao seguir a trilha dos mestres Bastide, Cascudo e Mário de Andrade, entre outros, Luiz Assunção nos apresente, neste livro, um estudo inédito sobre a decisiva contribuição indígena à religiosidade afro-brasileira. Sua investigação sobre a presença do culto da jurema nos rituais de umbanda do sertão nordestino se inicia com um breve histórico das nações indígenas que povoam a região e de suas manifestações mágico-religiosas.

Dados
Título: O Reino Dos Mestres: A Tradiçao Da Jurema Na Umbanda Nordestina - 1ªed.(2006)
O Reino dos Mestres A tradição da Jurema na Umbanda Nordestina
Ao percorrer o interior nordestino em meticulosa e paciente investigação etnográfica, Luiz Assunção nos revela o universo cultural pontuado pela presença ativa da jurema, mostrando como se dá sua inserção na prática e nas crenças dos terreiros, como ela influencia a umbanda e se deixa influenciar por ela, como se reproduz e se transforma.
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