A Presença de Moçambique na História do Brasil



Os portugueses chegaram a Moçambique, na África Oriental em 1498 e a administração foi instalada três anos mais tarde, ficando o território dependente do Estado da Índia até 1752. Em 1569, Moçambique foi elevada à condição de capitania-geral, englobando a região de Sofala e a do Monomotapa. A ocupação de Moçambique se iniciou em 1507, contudo, segundo o historiador Luiz Felipe de Alencastro, a penetração portuguesa em Moçambique foi muito frágil, sobretudo se comparada à conquista e à ocupação de Angola, na costa ocidental da África.

Durante boa parte da colonização portuguesa, Moçambique desempenhou a função de entreposto comercial e de ponto de apoio para os navios com destino ao Oriente.

O fluxo de escravos de Moçambique para o Brasil, em especial para o Rio de Janeiro, foi pequeno e irregular até o início do século XIX, havendo, no entanto, referências a iniciativas de negociantes desta praça, engajados no circuito de Moçambique, Sena e Goa, para instalar uma companhia de comércio de gêneros e escravos africanos, em 1744. Algumas décadas antes, em 1719, uma ordem de d. João V enviada ao governador-geral do Estado do Brasil, d. Sancho de Faro e Sousa, determinava uma alteração emergencial na rota do tráfico de escravos do Atlântico para a baía de Lourenço Marques, no sul de Moçambique, em virtude dos ataques de navios holandeses aos portugueses na costa ocidental da África. Essas medidas demonstram que, até o final do século XVIII, o tráfico de escravos da África Oriental ainda não havia se consolidado.

A participação mais efetiva da África Ocidental no fornecimento de escravos para o Rio de Janeiro declinou entre 1795 e 1811, ano em que Manolo Florentino verificou um crescimento da oferta de cativos oriundos de Moçambique. Esse crescimento se explica, em termos mais amplos, pela Abertura dos Portos, em 1808, que favoreceu o aumento do número de expedições para Moçambique a fim de resgatar escravos. Nesse movimento, ganhou destaque o porto de Quilimane. Para o porto de Salvador, outro importante mercado de escravos da colônia, a demanda de escravos permaneceu sendo suprida pela região do Congo-Angola. 

O porto do Rio de Janeiro, entretanto, não monopolizava o recebimento de africanos de Moçambique. Houve reivindicações de comerciantes do Pará, envolvidos no tráfico de escravos em diferentes regiões africanas, dentre as quais Moçambique, na última década do século XVIII, para obter isenção do pagamento de direitos (impostos) por um certo período de tempo, demonstrando que outros portos coloniais eram abastecidos de cativos da África Oriental. Entre 1795 e 1811, segundo dados do autor, a Ilha de Moçambique era responsável por 4,1% do contingente de africanos aqui desembarcados. A partir da abertura dos portos, com o estabelecimento da corte portuguesa no Rio de Janeiro, a exportação de africanos pela costa oriental alcançou um ritmo ainda maior do que as saídas dos portos da costa atlântica.

O tema do tráfico de escravos aparece como o mais recorrente quando se pensa em África, ocidental ou oriental. Moçambique, como outras regiões africanas, a exemplo de Angola e Benguela, também foi local de degredo. Os inóspitos e “hostis” domínios africanos receberam réus da Inconfidência Mineira condenados ao degredo em Moçambique e Angola, como indica a correspondência do vice-rei, conde de Resende, para a Corte, de 29 de abril de 1792, em que se registra também a condenação à pena capital de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes.

A historiadora Juliana Magalhães identificou manifestações culturais originadas com os “moçambiques” no Vale do Paraíba de hoje. “Moçambique”, a propósito, é designação corrente para danças devocionais praticadas em larga escala nas festas do divino e de reis no centro-sul do Brasil. 

Cozinha Bantu

Alguns dos primeiros habitantes do atual Moçambique eram pequenos grupos de caçadores-coletores, freqüentemente chamados bosquímanos.

Esses grupos nômades viajavam de um lugar para o outro em busca de frutas, legumes, raízes e sementes da estação.

Para complementar sua dieta primitiva, os grupos também seguiriam rebanhos de animais selvagens, como a impala (um antílope africano) e o fanfarrão, matando-os com arcos e flechas venenosos. 

Os assentamentos permanentes nunca foram estabelecidos porque a agricultura (cultivar terras para produzir colheitas) não era praticada.

Por volta de 300 d.C., africanos de língua banto introduziram a prática da agricultura em Moçambique.

Por volta de 300 d.C., africanos de língua banto introduziram a prática da agricultura em Moçambique.

Os Bantu, que eram principalmente agricultores e ferreiros, migraram para o atual Moçambique em busca de terras agricultáveis.

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A principal atividade econômica dos bantus era a agricultura de sequeiro e a criação de animais voltados para a subsistência. No âmbito das diversas estratégias de sobrevivência, que constituem os modos de vida da população, o uso dos recursos naturais não estava apenas limitado ao cultivo da terra, mas incluía também a caça e a coleta de produtos florestais e de plantas medicinais, entre outras atividades. 

As principais culturas ligadas à alimentação bantu incluíam os cereais (milho, sorgo, milheto, arroz); as leguminosas (diversos tipos de feijões e amendoim); a batata doce, o nhame, a mandioca e uma variedade de vegetais (hortaliças). No entanto, desde a chegada dos portugueses, no século XV, o País vem sofrendo profundas transformações políticas, econômicas e sociais, que afetam os sistemas alimentares.

Na culinária, nosso uso abundante de leite de coco, condimento de pratos como moqueca, canjica e ensopados, deita raízes nas paragens de Sofala, centro moçambicano.

Na mão oposta, a América portuguesa forneceu a batata-doce, popular em Quelimane. O etnógrafo Luís da Câmara Cascudo lembra que daqui partiram o caju e o milho, dois dos principais cultivos no país africano hoje. Outra de nossas “remessas” foi o inconfidente e poeta Tomás António Gonzaga, degredado em 1792 na pujante Ilha de Moçambique, onde construiu vida próspera. No período escravista, documentos dão conta de que “mulatos da Bahia” ensinaram gente de Sofala a fazer cachaça: “[O] primeiro exemplo registrado de transferência de know-how entre Brasil e Moçambique”, graceja o antropólogo José Luís Cabaço. Por sinal, “cachaça”, termo cuja etimologia é disputada, pode ter origem em línguas bantu da costa índica.

Nas procissões das irmandades de Minas Gerais essa região da África Oriental está presença na tradicional Guarda de Moçambique de Nossa Senhora do Rosário


Fonte: A terra de Santa Cruz 

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