Homenagem ao historiador Ubiratan Castro no Setembro da Cozinha Tradicional e das PANC na Bahia.

Faço aqui minha pequena homenagem, à contribuição do historiador Ubiratan Castro, mais conhecido como Bira Gordo como gostava de ser chamado, morto em 2013.

Um dos mais destacados pesquisadores da história e da cultura afro-brasileira, Ubiratan Castro de Araújo teve diversos trabalhos publicados, entre artigos, ensaios e livros. 
Contribuiu de forma decisiva na construção na oficialização do processo de patrimonialização e salvaguarda do Ofício das Baianas de Acarajé.



“Segundo vários depoimentos da primeira metade do século XX, anos 40 e 30, as famílias ficavam esperando, às sete horas da noite, a mulher do acarajé passar, e era uma espécie de cerimônia (...), porque sua voz era especialmente aguda e alta para anunciar de longe ‘Iê acarajé, iê abará’; aí o povo se preparava, pegava o dinheiro, ia às portas. 
Esse acarajé e esse abará iam nas portas, como se come ainda na Costa d’África. 
É acarajé, e não sanduíche; com pimenta, algum camarão, mas basicamente acarajé.” 
(Ubiratan Castro de Araújo, ex-diretor do Centro de Estudos Afro-Orientais da Universidade Federal da Bahia em entrevista realizada em 18/12/2001)
Nascido na cidade de Salvador em 1948 Ubiratan Castro de Araújo licenciou-se em História pela Universidade Católica de Salvador sendo também bacharel em Direito pela Universidade Federal da Bahia. Concluiu o mestrado em História pela Université Paris X-Nanterre e doutorado em História pela Université Paris IV-Sorbonne. 

"No Mercado do Ouro, o dia começa bem cedo. 
Um aboio cortante ecoa na escuridão. 
Ê mingau! De ta-pi-ó-ca! 
A humidade e o lusco-fusco da madrugada dão dramaticidade ao pregão de Tia Constança, uma negra reforçada, de cara bolachuda e de coração também imenso. 
Nunca deixou um parente africano sem um caneco de mingau."
Ubiratan Castro 

Foi também Professor da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFBA, diretor do Centro de Estudos Afro-Orientais daquela Instituição, presidente da Fundação Cultural Palmares e do Conselho para o Desenvolvimento das Comunidades Negras de Salvador. 
Exerceu o cargo de diretor-geral da Fundação Pedro Calmon – Centro de Memória e Arquivo Público da Bahia. Esta Fundação atua na execução de políticas de promoção do livro e da leitura, na preservação da história e da memória do Estado, além da dinamização das bibliotecas e arquivos públicos. 
Recebeu títulos e diversos prêmios, dentre os quais destacam-se os da Academia Portuguesa de História, da UNEGRO - União dos Negros pela Igualdade, o Troféu Clementina de Jesus e a Medalha do Bicentenário da Restauração Portuguesa.

Dentre os primeiros, destacam-se “A política dos homens de cor no tempo da independência”, “Responsabilidade Pública e Direito à Igualdade do Cidadão Negro no Brasil” e “A baía de Todos os Santos: um sistema geohistórico resistente”. Intelectual orgânico, empenhou-se no combate à discriminação racial no Brasil e no mundo, participou ativamente dos Seminários Preparatórios e da própria Conferência Mundial contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata.
 
Foto @Dadá Jaques

Foi irmão professor da Venerada Ordem do Rosário de Nossa Senhora dos Homens Pretos às Portas do Carmo.
Publicou os volumes historiográficos Guerra da Bahia (2001) e Salvador era assim - Memórias da cidade (1999).
Foto @Dadá Jaques

Membro da Academia de Letras da Bahia, estreou na ficção com o livro de contos Sete Histórias de Negro (2006), cuja reedição em 2009, Histórias de negro, vem ampliada com mais cinco narrativas.

Sua fama de contador de historias, piadas e incidentes do cotidiano, aos quais acrescenta um tempero especial de graça, irreverência, inteligência e imaginação, nos legou este belo trabalho intitulado "Histórias de negro" prefaciado por João José Reis. 

Os contos de Bira apresentam personagens que a
máquina do escravismo e do racismo tentou triturar com maior ou menor intensidade e sucesso, mas o leitor não vai encontrar aqui um mero rosário de lamentações. 
Tal como aparecem na historiografia recente da escravidão, os personagens deste livro não se deixaram vencer facilmente, não se apresentam como vítimas absolutas, mas também não são heróis imbatíveis. São homens e mulheres que reagem, negociam, resistem,atacam, se juntam solidários, às vezes vencem, outras perdem, raramente desistem.

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