A simbologia ancestral das Paparutas.

A comunidade da Ilha do Paty está localizada no município de São Francisco do Conde-BA se destacam a secular festa de São Roque e, em especial, o grupo cultural denominado de As Paparutas da Ilha do Paty, ou simplesmente As Paparutas.

O termo vem do nome paparota que significa de papar, comida, refeição. 

De acordo com líder comunitário Altamirando de Amorim, como as pessoas da comunidade chamavam As Paparutas, manteve-se o nome As Paparutas Boas que, no entendimento local dizem ser Comidas Boas. 

Verifica-se neste contexto para a compreensão da etimologia da palavra encontra se dificuldades para definição da origem e real significado na lingual portuguesa como um neologismo local. Alguns aspectos e características da localidade dão a confirmação que o arquipélago tem a sua população oriunda das inúmeras concentrações quilombolas que se espalharam pelo recôncavo baiano.

A manifestação cultural notadamente conhecida como “As Paparutas”, é na prática, um grupo teatral que encena o labor das mulheres, escravas nas cozinhas dos brancos do Brasil Colonial, acompanhado de cantorias e movimentos de dança. 

A musicalidade, o aroma das comidas típicas da Bahia e a plástica do seu figurino se agregam para uma apresentação de rara beleza, significados e forte apelo à valorização da população local. 

Trata-se de um grupo cultural composto por mulheres na sua maioria negras residentes da Ilha, que é ocupada por cerca de duzentos moradores. 

Paty é uma das quatro ilhas banhadas pelas águas da Baía de Todos os Santos (BTS) e cercadas de manguezais no município franciscano, Estado da Bahia, no Recôncavo Baiano e de onde são extraídos diversos frutos do mar e que garantem a sobrevivência da maior parte dos seus residentes, compostos na sua totalidade por negros e seus descendentes 

O grupo As Paparutas Boas é formado por cerca de dezenove mulheres de distintas idades, que se caracterizam com roupas longas e muito coloridas. 

Em geral são saias estampadas e blusas lisas de cores vivas, utilizam utensílios de cozinha na cabeça, quase sempre um tacho ou gamela de madeira ou barro, onde são acomodados os alimentos por elas preparados. 

As comidas típicas de forte influencias africana, após o ritual de danças e cantorias são oferecidas ao fnal da apresentação aos presentes. 

As músicas utilizadas nos folguedos são compostas quase sempre pelos músicos integrantes do referido grupo cultural, na sua maioria homens, mas também há mulheres e formado por onze pessoas de idades variadas que tocam instrumentos de corda e percussão, acompanhados por três vocalistas. 

As bailarinas formam um círculo e no meio, ao som da musica, uma a uma se apresenta canta e provocam os presentes a participar do evento, a qual dura quase todo o dia. 

Segundo o coordenador do referido grupo e também presidente da Associação Benefcente dos Moradores do Paty (ABMP), o senhor Altamirando de Amorim, nos evidencia que: “o movimento das Paparutas se constituem em um marco cultural, artístico e referencial para nós moradores da ilha e nos confere diferencial e destaque no senário local, de tal modo que já extrapola as fronteiras do estado.” 

Apesar de ganhar notoriedade local, regional e nacional mais recentemente, trata-se de um movimento cultural secular, tem a missão de manter viva a tradição de preparar pratos típicos da cozinha africana, como o acarajé, caruru, frigideira de siri, moqueca de camarão, peixe frito e o feijão fradinho. 

Após preparar as iguarias, elas saem de casa dançando ao ritmo dos tambores com os pratos na cabeça em direção à pequena praça, onde todos os moradores da comunidade, já as aguardam para começar a festa. 

No centro da roda fica uma Paparuta, localmente chamada Aiá ou a dona da cozinha, que vem sempre vestida de branco, dançando com uma colher de pau na mão e um grande caldeirão e tem a função de acompanhar, fiscalizar e experimentar as guloseimas que serão ofertadas aos presentes. 

É este importante personagem figura como central no folguedo e tem a função, dentre outras atribuições, de provar e aprovar ou não os pratos, que lhe são apresentados pelas demais. Importante aqui salientar que, apesar da centralidade de Aiá todas as demais integrantes, também tem importância singular no evento, como forma de enfatizar a irmandade e solidariedade ente os componentes do grupo. 


A dança das Paparutas da ilha do Paty acontece impregnada de significados da importância aos alimentos extraídos das águas e do manguezal da Baia de Todos os Santos, para a sobrevivência da comunidade, num ritual lúdico que atravessa gerações, preservando uma das mais belas manifestações culturais do Recôncavo Baiano. 

Ruínas do casarão da fazenda que pertencia à família Queiroz 

As informações sobre o passado mais remoto da Ilha do Paty, embora pouco precisas, pela falta de documentos históricos que garantam a sua veracidade, dão conta de que a localidade, nos séculos XVII e XVIII, teria sido utilizada como local de esconderijo por grupos de “negros” escravizados fugidos de São Francisco do Conde, Santo Amaro e Cachoeira. Esse possível acontecimento remete a ideia de que na Ilha do Paty poderia ter existido um quilombo, como acreditam alguns dos seus moradores, mas sem comprovação sobre esses “fatos”. 

Fala-se também que as terras da ilha teriam sido doadas por D. Pedro II a um amigo, no entanto nada se sabe sobre os desdobramentos desse acontecimento também. Sabe-se que por força do artigo 3, das Disposições Transitórias da Constituição do Estado, de 02 de agosto de 1947, a Ilha do Paty, Madre de Deus e outras localidades que faziam parte do território de São Francisco do Conde, à época, passara a fazer parte do município de Salvador. Sendo que vários anos depois a Ilha do Paty foi reincorporada ao território de São Francisco do Conde. 

Conta-se ainda que a ilha fora uma fazenda de gado de propriedade da família Queiroz, da qual restam às ruínas do antigo casarão colonial. Essa historia apresenta-se com elementos um pouco mais consistentes, sobretudo, porque há entre os seus moradores alguns descendentes da família Queiroz que vivem no local até hoje e que confirmam a história. Além do casarão da família Queiroz, existe um outro monumento antigo na ilha. 


É uma pequena olaria que fica no meio da mata, e tem um grande valor simbólico para os moradores que a consideram sagrada. Segundo Sr. Altamirando Amorim, presidente da ABMP, a comunidade da ilha se formou a partir da fazenda da família Queiroz, dos proprietários e trabalhadores, inclusive por remanescentes de ex-escravos. 

Quanto ao termo PATY, que dá nome a ilha, trata-se de um vocábulo indígena que denomina uma espécie de palmeira que vive na Mata Atlântica, comum nas zonas costeiras da Bahia e de algumas regiões do sudeste do Brasil, na ilha ainda se encontram alguns exemplares do pati. A primeira escola da ilha chamava-se Escola Luis Viana Neto, ela não possuía prédio próprio e as aulas aconteciam nas salas das casas de alguns moradores que voluntariamente cediam suas casas para que a escola funcionasse. 

E em 27 de setembro de 1978 foi construída a Escola São Roque, em homenagem ao padroeiro da ilha, cuja festa é comemorada no último sábado de setembro. A moradora mais velha da ilha é Dona Guilhermina de Jesus que tem mais de 90 anos de idade. Ela é a matriarca de uma família grande, tem 8 filhos, 26 netos e 25 bisnetos. 

Dona Guio, como é conhecida na ilha, foi marisqueira durante 50 anos. É viúva, criou os filhos e ajudou a educar os netos catando marisco no mangue pelos arredores da ilha. 

A comunidade da Ilha do Paty tem sua base constituída a partir de três núcleos familiares: a família Queiroz, a família Sacramento e a família Amorim. 

As uniões realizadas entre membros pertencentes a esses três núcleos básicos vêm ampliando e fortalecendo o elo existente, configurando-se assim praticamente numa única e grande família. Este fator certamente contribui positivamente para o forte sentimento de pertença existente na comunidade, além da situação geográfica, do próprio tamanho da localidade e dos seus referenciais culturais, cuja fama já ultrapassou as fronteiras do país. Pois, a pequena Ilha do Paty ganhou projeção e ficou mais famosa depois que um de seus filhos ilustres começou a fazer sucesso nas telas do cinema e na televisão. 

Trata-se do ator Lázaro Ramos, que viveu nesta localidade e teve contato com grupos culturais importantes da região como as Paparutas – a principal referencia cultural da Ilha do Paty – e que ao falar sobre sua vida antes da fama tem divulgado, nas entrevistas que tem dado a imprensa, sobre a sua relação com a Ilha do Paty e sua gente. 

A mariscagem compreende uma categoria de pesca artesanal muito peculiar no Brasil, em especial nas regiões litorâneas e ribeirinhas, sendo exercida, sobretudo, por mulheres – marisqueiras ou mariscadeiras, que desenvolvem a atividade tanto para consumo próprio quanto para venda. 

Em São Francisco do Conde (BA), apesar da principal atividade econômica ser o processamento e o refino de petróleo, o que confere ao município o maior valor de Produto Interno Bruto per capita brasileiro, a mariscagem compreende importante estratégia de subsistência da população, que sofre com o agravamento das desigualdades sociais, enfrentando problemas associados à pobreza, à falta de infraestrutura sanitária e ao analfabetismo.

Em todo o litoral baiano, assim como em São Francisco do Conde, os mariscos exercem forte influência na culinária, preservando a cultura alimentar local. 

Nesse município, a mariscagem é praticada na sede municipal e em várias comunidades pesqueiras e se volta à captura de camarão, sururu, ostra, siri, mapé e caranguejo, que, em geral, são processados nas residências das marisqueiras e comercializados na localidade e em cidades circunvizinhas. Dado que algumas comunidades pesqueiras do município não contam com sistema público de abastecimento de água, esgoto e de coleta de lixo e o fato do beneficiamento de mariscos tradicionalmente ser realizado em ambiente doméstico, há um contexto que concorre para a contaminação do pescado, resultando na obtenção de produtos com perfil microbiológico e físico-químico não conforme com os padrões nacionais vigentes. . Nesse cenário, a busca pela qualidade dos alimentos passou a constituir tema de grande preocupação, posto que a nocuidade dos produtos obtidos encontra-se condicionada às condições estruturais de processo disponíveis nas comunidades e ao modo de atuação dos manipuladores de alimentos que, dentro de uma terminologia, compreende todas as pessoas que preparam, distribuem e/ou vendem alimentos. 

Considerando a qualidade do alimento como o resultado de um conjunto de condições e cuidados compreendidos em toda a cadeia produtiva, desde a obtenção da matéria-prima até a sua utilização, pontua-se a necessidade de que princípios de higiene pessoal, de alimentos e do ambiente sejam estabelecidos, reforçados e monitorados, sendo essencial a realização de atividades.

http://www.scielo.br/pdf/csc/v19n5/1413-8123-csc-19-05-01561.pdf 

São Roque é considerado na religião católica como o protetor das doenças, na Bahia, sincretizado com Obaluaê, aparece como uma forma encontrada pela comunidade em sua formação para amenizar os males que lhes afligiam, tendo a devoção ao santo padroeiro permanecida ano após ano, através do hábito de fazer promessas e da realização de uma festa religiosa. São Roque é considerado na religião católica como o protetor das doenças, na Bahia, sincretizado com Obaluaê, aparece como uma forma encontrada pela comunidade em sua formação para amenizar os males que lhes afligiam, tendo a devoção ao santo padroeiro permanecida ano após ano, através do hábito de fazer promessas e da realização de uma festa religiosa. 

A devoção aos santos no Recôncavo Sul tem sua tradição desde o século XIX. 

Segundo Ana Oliveira, a presença de oratórios enquanto bem era constante do patrimônio de pequenos lavradores, médios e grandes fazendeiros da região e expressavam o apego aos santos e o exercício da religiosidade popular, característico das sociedades rurais do período, onde o estabelecimento das relações entre as pessoas e os santos, através de promessas, rezas, e outros meios, tomava o lugar do espaço deixado pela falta de assistência dos párocos e vigários responsáveis pelo bem-estar espiritual dos fiéis. 

Em estudo sobre a epidemia da cólera na Bahia oitocentista, Onildo Reis David também aponta o recorrer aos santos como um costume dos baianos para resolver os problemas e salienta dentre as devoções o culto a São Roque de forma coletiva no município de Cachoeira-Ba, Reconcavo Baiano, no qual as pessoas preferiam acreditar no poder de cura do santo a seguir as recomendações médicas para a prevenção da cólera. 

Na África, o culto de obaluaiê parece fazer parte de sistemas religiosos pré-yorubás. Segundo certas lendas Obaluaiê estaria instalado na região de Ifé, antes da chegada do conquistador Odudúa e teria precedido Orumilá, na colina de Oké Itaxé. Quanto ao mito de sua criação muitos autores fazem referência a ele ser filho de Nanã, mas foi criado por Iemanjá, pois, por causa de um feitiço usado por Nanã para engravidar, Omolu nasceu deformado. 

Desgostosa com o aspecto do filho, Nanã abandonou-o na beira da praia, para que o mar o levasse. 

Um grande caranguejo encontrou o bebê e atacou-o com as pinças, tirando pedaços da sua carne. Quando Omolu estava todo ferido e quase morrendo, Iemanjá saiu do mar e o encontrou. Iemanjá penalizada, acomodou-o numa gruta e passou a cuidar dele, fazendo curativos com folhas de bananeira e alimentando-o com pipoca sem sal nem gordura até que o bebê se recuperou, criando-o como se fosse seu filho.

Ritual de dança e gastronomia como viés de educação ambiental numa comunidade negra do município de São Francisco do Conde-Bahia-Brasil 

file:///C:/Users/ACER/Downloads/3388-11278-2-PB.pdf

http://www.arquivors.com/reginalva_festanomilagre.pdf


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