Com menor acidez, novo azeite de dendê agrega valor à culinária baiana

Batizado de Unaué, o novo azeite de dendê foi testado em restaurantes do município baiano, com bastante aceitação tanto pelo sabor como pela qualidade.

Experimentos realizados pela Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac) com uma variedade híbrida de dendê desenvolvida pela Embrapa Amazônia Ocidental (AM) resultaram na produção de um novo tipo de azeite, com baixa acidez e sabor mais suave.

Com menor acidez, novo azeite de dendê agrega valor à culinária baiana

A solução impacta diretamente a culinária baiana, visto que a alta acidez do dendê é tida como responsável por distúrbios gastrointestinais, o que afasta muitos apreciadores. O cultivo do híbrido pode contribuir ainda para a sustentabilidade da dendeicultura da região, principalmente de pequenos produtores, por aliar baixo custo de produção e resistência a pragas.

O novo azeite, desenvolvido na Estação Experimental Lemos Maia (Esmai/Ceplac), no município de Una, BA, é resultante do cruzamento entre o dendezeiro de origem africana (Elaeis guineensis) e o caiaué, de procedência americana (Elaeis oleífera), conhecido como HIE OxG híbrido interespecífico (entre o dendê e o caiaué). Batizado de Unaué, foi testado em restaurantes do município baiano, com bastante aceitação tanto pelo sabor como pela qualidade. 

O produto herdou a baixa acidez e a alta concentração de ácidos graxos insaturados (bons para o coração) do caiaué, além de ser mais claro e uniforme. Por apresentar alto percentual de oleína, é indicado para moquecas, fritadas de ovo, aipim, frango etc. Já a versão para acarajés vem com certo teor de estearina, pois as baianas produtoras de acarajés preferem um azeite com mais gordura.

Segundo o pesquisador da Ceplac José Inácio Lacerda Moura, o futuro aponta para a estruturação de um trabalho em parceria com a Embrapa voltado à distribuição de mudas do híbrido a produtores, especialmente agricultores familiares, dispostos a produzir e processar o dendê na própria fazenda. Há que se considerar ainda que o híbrido tem porte baixo, o que minimiza os custos de colheita e apresenta resistência moderada a pragas e doenças, notadamente ao Anel Vermelho, doença comum e altamente letal ao dendezeiro de origem africana (Tenera)


Experimentos da Ceplac com dendê da Embrapa  

Os experimentos na Bahia com o dendê americano tiveram início em 2009 e seus resultados foram divulgados em artigo publicado na revista Agrotrópica, em abril de 2019, assinado pelos pesquisadores Ricardo Lopes e Raimundo Cunha (Embrapa Amazônia Ocidental) e Sinval Pinto, Lindolfo Filho e José Moura (Ceplac).



O declínio da dendeicultura baiana, de acordo com José Moura está baseado em vários fatores, tais como: custo com a colheita em razão da altura, baixa produtividade, óleo com alta acidez em virtude do manejo inadequado, falta de assistência técnica e problemas fitossanitários.

Os pesquisadores avaliaram que o híbrido, quando comparado às cultivares de dendezeiro, apresenta como vantagens menor crescimento em altura, melhor qualidade do óleo e resistência a pragas e doenças, com destaque ao Anel Vermelho (AV), causado pelo nematoide Bursaphelencus cocophilus Cobb, que é o principal problema fitossanitário nos dendezais baianos. Portanto, além do potencial produtivo dos HIE OxG, houve interesse em avaliar a resistência desse material à doença.

No estudo foram avaliadas 12 progênies de HIE OxG para produção de cachos de frutos frescos (CFF) e resistência ao Anel Vermelho. O experimento foi implantado em 2009, no campo da Ceplac/Esmai, com o delineamento de blocos ao acaso com cinco repetições e 12 plantas por parcela. As avaliações foram realizadas do quarto ao oitavo ano após o plantio. A mortalidade de plantas devido ao AV foi de 4%. Os HIE OxG apresentaram alta resistência ao AV e alto potencial produtivo, demonstrando grande potencial para cultivo na Bahia.

Moura explica ainda que na região do Baixo Sul da Bahia tem-se uma área de aproximadamente 30 mil ha de dendezeiros subespontâneos explorados comercialmente, sendo muitas dessas áreas consideradas marginais, com predominância de plantas do tipo Dura e com árvores ultrapassando a fase de declínio produtivo. Com a idade avançada das plantas, além do declínio produtivo, como as plantas são muito altas, tem-se baixo rendimento da colheita, resultando em alto custo de produção do óleo.

“Destaca-se também que a falta de manejo adequado das populações espontâneas e dos plantios comerciais, tem contribuído para o aumento de doenças nos dendezeiros baianos, entre as quais se destaca o AV”, conta o pesquisador.


Fonte Embrapa

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