Bredo, Caruru, Amarantos, uma síntese alimentar e cultural
Bredo também chamada de Caruru
O Bredo é uma planta nativa das Américas, foi a primeira vez conhecido pelos europeus através dos Maias no México.
Na cultura brasileira, estudiosos acreditam que foi culturalmente introduzido pelos africanos.
Teriam sido combinadas as culinárias do Daomé nagô, da Nigéria ioruba e da Bahia.
Cita-se o caso do caruru de origem indígena, preparado com bredo, outra planta do gênero Amaranthus e que, levado para a África incorporou o quiabo, planta africana, tendo, então, o caruru retornado modificado, para o Brasil.
Suas folhas são ricas em taninos vegetais, saponinas, alcaloides, proteínas e glicosideos.
Contém boa quantidade de ferro, potássio, cálcio e vitaminas A, B1, B2, C.
Propriedade terapêutica:
Lactígeno, emoliente, vermífuga, antibacteriana, antidiabética, anti-hiperlipidêmica, antioxidante.
Indicação terapêutica:
Infecções, problemas hepáticos, hidropsia, catarro da bexiga, tratamento da inflamação durante a micção, constipação, disenteria.
Leia mais:
Caruru é a designação comum a certas plantas do gênero Amaranthus, da família das amarantáceas, algumas de folhas comestíveis, bastante utilizada em culinária.
A maioria delas é invasora de plantações.
É também conhecida como bredo em Pernambuco e na Bahia, onde é utilizado na culinária local, reservando-se o termo "caruru" a um prato que, geralmente, não leva esta planta nos seus ingredientes.
O famoso prato tipico baiano, o Caruru, no Piaui leva verduras, feijão, e coco bacuri, tudo isso bem pilado e, ao contrario da receita baiana, usam-se as folhas dos quiabos.
Um dos legados que os indígenas deixaram para o Piauí foi a culinária.
No estado há uma forma peculiar de temperar os ingredientes, mas há quem diga que o grande diferencial da comida piauiense é a forma como ela é preparada.
Guilherme Piso, que viveu em Pernambuco (1638-1644), relata o caruru feito com a erva de uso medicinal e alimentício (e não com quiabos).
No seu relato em Historia Naturalis Brasiliae, o médico do conde Maurício de Nassau informa que "come-se este bredo (caruru)como legume e cozinha-se em lugar de espinafre...". Outro relato, em 1820, na Amazônia, por Von Martius, cita o "caruru-açu" durante uma refeição com os nativos próximo ao rio Madeira, quando experimentou "um manjar de castanhas socadas com uma erva parecida com o espinafre..." Ou seja: esta descrição é de caruru feito com a planta caruru, originária das Américas (e não da África, que é o caso dos quiabos).
Para o prato teriam sido combinadas as culinárias do Daomé nagô, da Nigéria ioruba, e indígena da Bahia.
Durante sua visita à África, no fim do século XVIII, o padre Vicente Ferreira Pires chamou de "caruru de galinha" a refeição em Daomé, revelando que o uso do dendê, palmeira de origem africana.
Originalmente, o caruru brasileiro era um refogado de ervas que servia para acompanhar outro prato (carne ou peixe).
Os historiadores afirmam que o sabor da nossa comida foi estabelecido pelos índios.
O hábito que hoje temos de usar o milho, a farinha de mandioca, macaxeira cozida com sal, o mel e pimenta da terra foram herdados dos indígenas.
Além disso, também tivemos influências dos africanos e portugueses. Com a chegada destes povos houve um interesse pela carne vermelha e pelas frutas locais, como o bacuri e a manga.
Desde 1756, os botânicos europeus cozinharam os neurônios na identificação e classificação, até que elas vieram em 1971: Amaranthus viridis.
Avisaram, porém, que a espécie proveniente da África possivelmente cruzou com outras americanas após atravessar o oceano. Ramificações à parte, vale mencionar que é um alimento e tanto do ponto de vista nutricional.
Os Maias já sabiam e o usavam para prevenir doenças.
Comestível da raiz aos brotos, cheio de vitaminas e minerais, proteínas e fibras. Vitaminas A, B, C e K, ferro, magnésio, cálcio e potássio.
Em Angola e no Benin, a expressão corrente é “calulu”.
Um grupo de linguistas defende que a palavra nasceu de “kulúlu”, que é o nome dado pelo grupo étnico Bacongo à porção de comida que as mulheres deixam separada para seus maridos.
A preparação inclui tomate, batata doce, abobrinha e óleo de palma, acrescida eventualmente de peixe seco ou fresco, ou carne seca. Iguaria rica e bastante típica de São Tomé e Príncipe, onde é refeição familiar habitual, servida em cerimônias religiosas, casamentos e para convidados.
Chegamos, então, ao “caruru” brasileiro.
Uns dizem que ele vem mesmo do africano “kalalu”, locução que aponta genericamente qualquer folhagem destinada à culinária. Outros afirmam que é derivado do tupi-guarani “caaruru”.
Um refogado de ervas que, originalmente, acompanhava pratos de carne ou peixe. Depois, o caruru metamorfoseou-se na famosa receita baiana, feita com quiabo, pimenta-malagueta, camarão seco e azeite de dendê. Parceira dos acarajés ou abarás, consumida na tradicional festa de São Cosme e São Damião.
Curiosamente, nosso caruru não leva uma única folha ou talo de caruru, callaloo ou calalu.
A verdura existe no Nordeste sim (onde é coloquialmente chamada de bredo), mas entra em outras composições regionais. É tão popular na Semana Santa quanto em Caruaru, Pernambuco. E não, “caruaru” não é corruptela de “caruru”. Quer dizer “comer sapo”, em tupi-guarani. Sem nenhum tempero.
Texto: Fábio Angelini
Dividir o alimento com os deuses é prática comum em inúmeras culturas, bem como convidá-los para comer conosco.
Em muitas civilizações antigas, os rituais visavam ofertar parte da colheita às suas divindades, de forma litúrgica o alimento tornava-se sagrado.
No candomblé, não poderia ser diferente, o alimento é fundamental, pois é fonte de vida e saúde, ninguém pode viver sem se alimentar.
Infelizmente há os que o fazem com precariedade, alguns comem com fartura e desperdício, outros não têm nenhuma opção. Graças aos orixás, essa realidade não é definitiva nas cozinhas e mesas das casas de candomblé, sempre fartas, onde após os cultos sabia que logo chegaria o ajeum (comida sagrada que antes de ser servida aos homens, é ofertada aos nossos deuses). Esse alimento sagrado não supre apenas as necessidades do corpo, mas especialmente as do espírito.
Em todos os terreiros a hora da refeição é momento de confraternização e alegria.
Compartilhar o axé, ou o alimento sagrado, é tomar parte da alegria do outro. Contudo, vale ressaltar que a alegria que permeia os rituais não deve ser confundida com a falta de respeito.
O Ajeum é um momento muito importante nas festas dos terreiros de Candomblé e Umbanda, isso porque após os ritos de celebração aos orixás são ofertadas comidas às pessoas ali presentes, comidas como carnes de animais sacrificados em honra aos orixás (LODY, 2012).
É vital lembrar que as comunidades afro-ameríndias, onde os recursos eram escassos, um fator importante e que vem ao longo dos anos sendo esquecidos, são os alimentos a base de folhas, que fazem parte das praticas alimentares dos povos indígenas e afrodescendentes, que encontraram nas pequenas roças, hortas e quintais uma forma de subsistência criativa, transformando ervas e plantas, em cura e em alimentos.
O próprio termo "Roça" dá significado a muitas casas de candomblé, nos da esta dimensão da importância deste espaço na elaboração cotidiana do alimento votivo.
Neste espaço convivem de forma harmônica, além dos participantes da comunidade, todos os elementos relacionados a natureza, riachos, hortas e herbolários, espaços dedicados aos animais que são alimentados de forma orgânica neste espaço, e que farão parte da alimentação do dia-a-dia, bem como na preparação do alimento votivo, confeccionado para as datas festivas.
As plantas se tornaram essenciais para a sobrevivência da maioria dos seres vivos do planeta, devido não somente à sua importância ecológica, mas também por deterem uma complexa estrutura química, tornando-as indispensáveis na evolução da cultura humana através do fornecimento de uma variedade de materiais para o uso (MEDEIROS, 2010), seja para alimentação, na medicina, nas vestimentas, nos combustíveis, como em outros bens materiais (MINNIS, 2000).
Além dessas necessidades, a utilização das plantas abrange outros contextos como: magia, uso empírico/simbólico e rituais mantenedores e gerenciadores da ordem social (ALBUQUERQUE, 2005), os quais estão presentes em culturas e crenças de comunidades locais em todo o mundo (ALBUQUERQUE & ANDRADE, 2005; ALMASSY-JUNIOR et al., 2005).
Estes alimentos nativos e locais, somaram-se ao sabor marcante que aqui chegou através dos porões dos navios negreiros, e dos intercâmbios entre Bahia e Africa, bem como da Rota das Especiarias, constituíram um sistema alimentar identitário, que compõem a famosa comida baiana, expressa a mesma mistura que formou o povo brasileiro, onde se originaram as mais belas e variadas tonalidades que fazem os afro-descendentes desse país.
Ervas Litúrgicas
Abàfè = Pata de Vaca
Àbámodá = Folha da Fortuna
Àbàrà Òké = Baunilha de Nicuri
Ábèbè Kò = Tira Teima
Ábèbè Òsún = Erva Capitão
Abéré = Picão Preto
Ábitólá = Cambará
Àfòmón = Erva de Passarinho
Àgbá = Romanzeiro
Àgbàdó = Milho
Àgbaó = Imbaúba
Agbéye = Melão D'Água
Àgbon = Coqueiro
Àgogo = Figueira do Inferno
Àjóbi, Àjóbi Oilé, Àjóbi Pupá = Aroeira Comum, Aroeira Vermelha
Àjóbi Funfun = Aroeira Branca
Akan = Cará Moela
Akòko = Acoco
Jokonije = Jarrinha
Alékèsì = São Gonçalinho
Àlùbósà = Cebola
Àlúkerésé = Dama da Noite
Àlùmóm = Boldo Paulista
Àmù = Sete Sangrias
Apáòká = Jaqueira
Àrìdan = Aridan
Àrùsò = Alfazema do Brasil
Àsíkùtá e Efin = Malva Branca
Ata = Pimenta Malagueta
Ataare = Pimenta da Costa
Atopá Kun = Arruda
Àtòrìnà = Sabugueiro
Awùrépépé = Agrião do Para, Pimenta D'Água
Bàlá = Taioba
Balabá = Lirio do Brejo
Bánjókó = Bem me Quer
Bàrà = Melancia
Bejerekun = Pindaíba
Bujè = Jenipapeiro
Dandá = Junquinho
Dankó = Bambu
Efínfín = Alfavaca
Efínrín Kékéré = Manjericão da Folha Miúda, Manjericão
Ègé = Mandioca
Ègúsi = Melão
Èkèlegbara = Perpétua
Ekun = Sapê
Elégédé = Abóbora
Èpà = Amendoim
Eré Tuntún = Levante Miúda
Eró igbin = Erva de Bicho
Èsìsì = Urtiga da Folha Grande
Etába ou Asá = Tabaco, Fumo
Étipónlá = Erva Tostão
Ewé Bàbá = Boldo
Ewé Bíyemí = Quebra Pedra
Ewé Boyí = Bétis Cheiroso
Ewé Gbúre = Bredo
Ewé Idá Òrìsà = Espada de São Jorge
Ewé Inón = Folha Fogo
Ewé Isinisini = Mastruz
Ewé Iyá = Pariparoba
Ewé Kúkúndùnkú = Batata Docce
Ewé Lárà Funfun = Mamona
Ewé Lorogún = Abre Caminho
No Episódio metropolitano da serie Comida Aqui é Mato, apresenta Mona e Alício dentro do Parque São Bartolomeu, situado na periferia de Salvador.
Lá eles ampliam o conhecimento sobre a religiosidade da culinária baiana, através folhas sagradas.
Eles também encontram moradores que cultivam quintais produtivos no entorno. Colhemos uma grande quantidade da Panc "invasor", Bredo, também conhecida como Caruru, que forma a base do prato principal desse episódio: o Amalá com Acaçá de Coco e Caruru de Folhas.
A comida é preparada na casa de Marlene, moradora do bairro de Acupe de Brotas. A casa fica situada num vale verde dentro da cidade, em um dos bairros mais populosos da capital. Conhecemos Seu Zé e Dona Preta, antigos moradores do vale e
adeptos ao uso de plantas tradicionais em sua culinária caseira. O Amalá é acompanhado por Creme e Bolas de Inhame, Molho
‘Bori-Bori’ e uma sobremesa de Abalá (Pamonha de Milho e Banana, com Doce de Melãozinho de São Caetano).
https://www.mangaba-producoes.com/episodio-06
O Bredo é uma planta nativa das Américas, foi a primeira vez conhecido pelos europeus através dos Maias no México.
Na cultura brasileira, estudiosos acreditam que foi culturalmente introduzido pelos africanos.
Teriam sido combinadas as culinárias do Daomé nagô, da Nigéria ioruba e da Bahia.
Cita-se o caso do caruru de origem indígena, preparado com bredo, outra planta do gênero Amaranthus e que, levado para a África incorporou o quiabo, planta africana, tendo, então, o caruru retornado modificado, para o Brasil.
Suas folhas são ricas em taninos vegetais, saponinas, alcaloides, proteínas e glicosideos.
Contém boa quantidade de ferro, potássio, cálcio e vitaminas A, B1, B2, C.
Propriedade terapêutica:
Lactígeno, emoliente, vermífuga, antibacteriana, antidiabética, anti-hiperlipidêmica, antioxidante.
Indicação terapêutica:
Infecções, problemas hepáticos, hidropsia, catarro da bexiga, tratamento da inflamação durante a micção, constipação, disenteria.
Leia mais:
Caruru é a designação comum a certas plantas do gênero Amaranthus, da família das amarantáceas, algumas de folhas comestíveis, bastante utilizada em culinária.
A maioria delas é invasora de plantações.
É também conhecida como bredo em Pernambuco e na Bahia, onde é utilizado na culinária local, reservando-se o termo "caruru" a um prato que, geralmente, não leva esta planta nos seus ingredientes.
O famoso prato tipico baiano, o Caruru, no Piaui leva verduras, feijão, e coco bacuri, tudo isso bem pilado e, ao contrario da receita baiana, usam-se as folhas dos quiabos.
Um dos legados que os indígenas deixaram para o Piauí foi a culinária.
No estado há uma forma peculiar de temperar os ingredientes, mas há quem diga que o grande diferencial da comida piauiense é a forma como ela é preparada.
Guilherme Piso, que viveu em Pernambuco (1638-1644), relata o caruru feito com a erva de uso medicinal e alimentício (e não com quiabos).
No seu relato em Historia Naturalis Brasiliae, o médico do conde Maurício de Nassau informa que "come-se este bredo (caruru)como legume e cozinha-se em lugar de espinafre...". Outro relato, em 1820, na Amazônia, por Von Martius, cita o "caruru-açu" durante uma refeição com os nativos próximo ao rio Madeira, quando experimentou "um manjar de castanhas socadas com uma erva parecida com o espinafre..." Ou seja: esta descrição é de caruru feito com a planta caruru, originária das Américas (e não da África, que é o caso dos quiabos).
Para o prato teriam sido combinadas as culinárias do Daomé nagô, da Nigéria ioruba, e indígena da Bahia.
Durante sua visita à África, no fim do século XVIII, o padre Vicente Ferreira Pires chamou de "caruru de galinha" a refeição em Daomé, revelando que o uso do dendê, palmeira de origem africana.
Originalmente, o caruru brasileiro era um refogado de ervas que servia para acompanhar outro prato (carne ou peixe).
Os historiadores afirmam que o sabor da nossa comida foi estabelecido pelos índios.
O hábito que hoje temos de usar o milho, a farinha de mandioca, macaxeira cozida com sal, o mel e pimenta da terra foram herdados dos indígenas.
Além disso, também tivemos influências dos africanos e portugueses. Com a chegada destes povos houve um interesse pela carne vermelha e pelas frutas locais, como o bacuri e a manga.
Desde 1756, os botânicos europeus cozinharam os neurônios na identificação e classificação, até que elas vieram em 1971: Amaranthus viridis.
Avisaram, porém, que a espécie proveniente da África possivelmente cruzou com outras americanas após atravessar o oceano. Ramificações à parte, vale mencionar que é um alimento e tanto do ponto de vista nutricional.
Os Maias já sabiam e o usavam para prevenir doenças.
Comestível da raiz aos brotos, cheio de vitaminas e minerais, proteínas e fibras. Vitaminas A, B, C e K, ferro, magnésio, cálcio e potássio.
Em Angola e no Benin, a expressão corrente é “calulu”.
Um grupo de linguistas defende que a palavra nasceu de “kulúlu”, que é o nome dado pelo grupo étnico Bacongo à porção de comida que as mulheres deixam separada para seus maridos.
A preparação inclui tomate, batata doce, abobrinha e óleo de palma, acrescida eventualmente de peixe seco ou fresco, ou carne seca. Iguaria rica e bastante típica de São Tomé e Príncipe, onde é refeição familiar habitual, servida em cerimônias religiosas, casamentos e para convidados.
Chegamos, então, ao “caruru” brasileiro.
Uns dizem que ele vem mesmo do africano “kalalu”, locução que aponta genericamente qualquer folhagem destinada à culinária. Outros afirmam que é derivado do tupi-guarani “caaruru”.
Um refogado de ervas que, originalmente, acompanhava pratos de carne ou peixe. Depois, o caruru metamorfoseou-se na famosa receita baiana, feita com quiabo, pimenta-malagueta, camarão seco e azeite de dendê. Parceira dos acarajés ou abarás, consumida na tradicional festa de São Cosme e São Damião.
Curiosamente, nosso caruru não leva uma única folha ou talo de caruru, callaloo ou calalu.
A verdura existe no Nordeste sim (onde é coloquialmente chamada de bredo), mas entra em outras composições regionais. É tão popular na Semana Santa quanto em Caruaru, Pernambuco. E não, “caruaru” não é corruptela de “caruru”. Quer dizer “comer sapo”, em tupi-guarani. Sem nenhum tempero.
Texto: Fábio Angelini
Dividir o alimento com os deuses é prática comum em inúmeras culturas, bem como convidá-los para comer conosco.
Em muitas civilizações antigas, os rituais visavam ofertar parte da colheita às suas divindades, de forma litúrgica o alimento tornava-se sagrado.
No candomblé, não poderia ser diferente, o alimento é fundamental, pois é fonte de vida e saúde, ninguém pode viver sem se alimentar.
Infelizmente há os que o fazem com precariedade, alguns comem com fartura e desperdício, outros não têm nenhuma opção. Graças aos orixás, essa realidade não é definitiva nas cozinhas e mesas das casas de candomblé, sempre fartas, onde após os cultos sabia que logo chegaria o ajeum (comida sagrada que antes de ser servida aos homens, é ofertada aos nossos deuses). Esse alimento sagrado não supre apenas as necessidades do corpo, mas especialmente as do espírito.
Em todos os terreiros a hora da refeição é momento de confraternização e alegria.
Compartilhar o axé, ou o alimento sagrado, é tomar parte da alegria do outro. Contudo, vale ressaltar que a alegria que permeia os rituais não deve ser confundida com a falta de respeito.
O Ajeum é um momento muito importante nas festas dos terreiros de Candomblé e Umbanda, isso porque após os ritos de celebração aos orixás são ofertadas comidas às pessoas ali presentes, comidas como carnes de animais sacrificados em honra aos orixás (LODY, 2012).
É vital lembrar que as comunidades afro-ameríndias, onde os recursos eram escassos, um fator importante e que vem ao longo dos anos sendo esquecidos, são os alimentos a base de folhas, que fazem parte das praticas alimentares dos povos indígenas e afrodescendentes, que encontraram nas pequenas roças, hortas e quintais uma forma de subsistência criativa, transformando ervas e plantas, em cura e em alimentos.
O próprio termo "Roça" dá significado a muitas casas de candomblé, nos da esta dimensão da importância deste espaço na elaboração cotidiana do alimento votivo.
Neste espaço convivem de forma harmônica, além dos participantes da comunidade, todos os elementos relacionados a natureza, riachos, hortas e herbolários, espaços dedicados aos animais que são alimentados de forma orgânica neste espaço, e que farão parte da alimentação do dia-a-dia, bem como na preparação do alimento votivo, confeccionado para as datas festivas.
As plantas se tornaram essenciais para a sobrevivência da maioria dos seres vivos do planeta, devido não somente à sua importância ecológica, mas também por deterem uma complexa estrutura química, tornando-as indispensáveis na evolução da cultura humana através do fornecimento de uma variedade de materiais para o uso (MEDEIROS, 2010), seja para alimentação, na medicina, nas vestimentas, nos combustíveis, como em outros bens materiais (MINNIS, 2000).
Além dessas necessidades, a utilização das plantas abrange outros contextos como: magia, uso empírico/simbólico e rituais mantenedores e gerenciadores da ordem social (ALBUQUERQUE, 2005), os quais estão presentes em culturas e crenças de comunidades locais em todo o mundo (ALBUQUERQUE & ANDRADE, 2005; ALMASSY-JUNIOR et al., 2005).
Estes alimentos nativos e locais, somaram-se ao sabor marcante que aqui chegou através dos porões dos navios negreiros, e dos intercâmbios entre Bahia e Africa, bem como da Rota das Especiarias, constituíram um sistema alimentar identitário, que compõem a famosa comida baiana, expressa a mesma mistura que formou o povo brasileiro, onde se originaram as mais belas e variadas tonalidades que fazem os afro-descendentes desse país.
Ervas Litúrgicas
Abàfè = Pata de Vaca
Àbámodá = Folha da Fortuna
Àbàrà Òké = Baunilha de Nicuri
Ábèbè Kò = Tira Teima
Ábèbè Òsún = Erva Capitão
Abéré = Picão Preto
Ábitólá = Cambará
Àfòmón = Erva de Passarinho
Àgbá = Romanzeiro
Àgbàdó = Milho
Àgbaó = Imbaúba
Agbéye = Melão D'Água
Àgbon = Coqueiro
Àgogo = Figueira do Inferno
Àjóbi, Àjóbi Oilé, Àjóbi Pupá = Aroeira Comum, Aroeira Vermelha
Àjóbi Funfun = Aroeira Branca
Akan = Cará Moela
Akòko = Acoco
Jokonije = Jarrinha
Alékèsì = São Gonçalinho
Àlùbósà = Cebola
Àlúkerésé = Dama da Noite
Àlùmóm = Boldo Paulista
Àmù = Sete Sangrias
Apáòká = Jaqueira
Àrìdan = Aridan
Àrùsò = Alfazema do Brasil
Àsíkùtá e Efin = Malva Branca
Ata = Pimenta Malagueta
Ataare = Pimenta da Costa
Atopá Kun = Arruda
Àtòrìnà = Sabugueiro
Awùrépépé = Agrião do Para, Pimenta D'Água
Bàlá = Taioba
Balabá = Lirio do Brejo
Bánjókó = Bem me Quer
Bàrà = Melancia
Bejerekun = Pindaíba
Bujè = Jenipapeiro
Dandá = Junquinho
Dankó = Bambu
Efínfín = Alfavaca
Efínrín Kékéré = Manjericão da Folha Miúda, Manjericão
Ègé = Mandioca
Ègúsi = Melão
Èkèlegbara = Perpétua
Ekun = Sapê
Elégédé = Abóbora
Èpà = Amendoim
Eré Tuntún = Levante Miúda
Eró igbin = Erva de Bicho
Èsìsì = Urtiga da Folha Grande
Etába ou Asá = Tabaco, Fumo
Étipónlá = Erva Tostão
Ewé Bàbá = Boldo
Ewé Bíyemí = Quebra Pedra
Ewé Boyí = Bétis Cheiroso
Ewé Gbúre = Bredo
Ewé Idá Òrìsà = Espada de São Jorge
Ewé Inón = Folha Fogo
Ewé Isinisini = Mastruz
Ewé Iyá = Pariparoba
Ewé Kúkúndùnkú = Batata Docce
Ewé Lárà Funfun = Mamona
Ewé Lorogún = Abre Caminho
No Episódio metropolitano da serie Comida Aqui é Mato, apresenta Mona e Alício dentro do Parque São Bartolomeu, situado na periferia de Salvador.
Lá eles ampliam o conhecimento sobre a religiosidade da culinária baiana, através folhas sagradas.
Eles também encontram moradores que cultivam quintais produtivos no entorno. Colhemos uma grande quantidade da Panc "invasor", Bredo, também conhecida como Caruru, que forma a base do prato principal desse episódio: o Amalá com Acaçá de Coco e Caruru de Folhas.
A comida é preparada na casa de Marlene, moradora do bairro de Acupe de Brotas. A casa fica situada num vale verde dentro da cidade, em um dos bairros mais populosos da capital. Conhecemos Seu Zé e Dona Preta, antigos moradores do vale e
adeptos ao uso de plantas tradicionais em sua culinária caseira. O Amalá é acompanhado por Creme e Bolas de Inhame, Molho
‘Bori-Bori’ e uma sobremesa de Abalá (Pamonha de Milho e Banana, com Doce de Melãozinho de São Caetano).
https://www.mangaba-producoes.com/episodio-06
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