Marcos e mitos: línguas nativas e literatura indígena mexicana Hermann Bellinghausen

O caminho que as línguas indígenas percorreram, desde a tradição oral, até chegar à escrita e daí à literatura, foi árduo e complicado. Este artigo explora e documenta as principais fases dessa jornada, o trabalho de etnografia, antropologia, lingüística e os muitos esforços editoriais que foram feitos para lidar com "a ameaça de morte de muitas línguas"

A ideia de que contar e cantar em línguas nativas é literatura é contemporânea. Até pouco tempo atrás, a transmissão de histórias e canções acontecia oralmente; Em cada cidade vinha acontecendo assim há séculos. Como respirar. Povos mudos em cerca de sete dezenas de idiomas falados no México inventaram, traduziram, repetiram, adaptaram mitos, orações e baladas festivas sem nunca chegar à página. Nem como escrever nessas línguas. Com notável exceção da língua mexica, que logo após a conquista passou a ser transmitida no alfabeto trazido pelos espanhóis, a maioria delas pôde ser escrita até o final do século XX.

No entanto, exceto por pequenas coisas e diversões de Sor Juana e momentos isolados na obra de cronistas e historiadores, a dignidade literária do nahuatl não foi reivindicada até os anos vinte ou trinta do século passado, por Ángel María Garibay Kintana e Pablo González Casanova. pai (ou melhor, avô). Com formação clássica, Garibay mergulhou nos manuscritos dos "antigos" mexicanos e extraiu o primeiro corpus de "poesia" em nahuatl, traduzido por ele mesmo para o espanhol. Alguns dizem que ele "inventou" essa poesia a partir do conceito ocidental dela; Nezahualcóyotl como um bardo, um Horácio ou Virgílio.

"A emigração das histórias"

Outro pioneiro, mais humilde na abordagem dos contos indígenas, foi o malfadado Pablo González Casanova (Mérida, 1889-Cidade do México, 1936). Filólogo antes de tudo, desde cedo demonstrou atenção às línguas, e de seus trinta e seis textos recuperados sobre lingüística e folclore, o estudioso Carlos Martínez Marín destaca A língua de Yucatán, Os índios popolocanos e sua classificação, O Tapachultan, Um vocabulário chichimeca, O Mexicano do Vale de Teotihuacán, Um conto mexicano de origem francesa, Um conto grego no folclore asteca, A origem dos contos no México indígena, entre outros. Todo um catálogo para a época.

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