Estudo liga paladar seletivo a risco de ansiedade e depressão em crianças

Pesquisa saiu na revista 'Pediatrics' e ouviu 917 cuidadores de crianças.
Quase 20% dos pais dizem que seus filhos são enjoados para comer.


Crianças em idade pré-escolar que têm paladar extremamente seletivo podem também estar mais sujeitos a problemas relacionados à saúde mental, segundo um estudo.
A pesquisa concluiu que as crianças "enjoadas" para comer têm mais de duas vezes o risco de serem diagnosticadas com depressão ou ansiedade social em comparação a crianças que consomem uma grande variedade de alimentos.


"Tensões relacionadas à alimentação, se persistirem durante anos, podem promover ansiedade e depressão em crianças."
Myles Faith, nutricionista

Mesmo um paladar moderadamente seletivo foi relacionado com algumas dificuldades psicológicas. Essas crianças estão mais propensas a ter sintomas de depressão, ansiedade e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) do que crianças com dietas mais variadas.
Segundo os pesquisadores, apesar de o estudo não esclarecer a natureza exata da relação entre os hábitos alimentares e a saúde mental das crianças, os resultados mostram que o problema deve ser levado mais a sério e que profissionais de saúde devem interferir em casos extremos de paladar seletivo.
"Essa não é apenas uma história de pais indulgentes ou crianças malcriadas", diz a autora do estudo, Nancy Zucker, diretora do Centro de Transtornos Alimentares da Universidade Duke, nos Estados Unidos. "Essas são crianças que são profundamente sensíveis ao mundo externo e interno - então as coisas têm cheiros mais fortes e elas podem ter sentimentos mais intensos."
Receio de alimentos novos é normal
É normal que crianças pequenas passem por um período em que tenham receio de alimentos desconhecidos ou se recusem a consumir mais do que um punhado de itens diferentes, apesar de que a maior parte das crianças supera isso durante o ensino fundamental. Não é necessariamente prejudicial desde que as crianças mantenham um peso saudável para sua altura, dizem os pediatras.




Para o estudo, que foi publicado na revista "Pediatrics", Zucker e seus colegas questionaram cuidadores de 917 crianças de 2 a 5 anos.
A ocorrência de paladar seletivo doi comum, com quase 20% dos pais tendo reportado que seus filhos exibiam esse comportamento a maior parte do tempo.
Entre as crianças enjoadas para comer, 185 tinham aversão moderada a alimentos, o que tinha como consequência uma dieta restrita, e outras 37 tinham hábitos alimentares muito restritos que limitavam sua habilidade de comer com outas pessoas.
Cerca de dois anos depois das primeiras entrevistas, os pesquisadores ouviram novamente 187 crianças e seus pais e descobriram que as crianças com paladar seletivo estavam 1,7 vez mais propensas a ter sintomas aumentados de níveis de ansiedade generalizada.
Uma limitação do estudo é que ele confiava nos pais para reportar de forma precisa como seus filhos comiam e lidavam com a comida, dizem os pesquisadores.
Tensões relacionadas à alimentação, se persistirem durante anos, podem promover ansiedade e depressão em crianças."
Myles Faith, nutricionista
Ainda assim, o estudo acrescenta mais evidências sobre a ligação entre o paladar seletivo e as dificuldades de processamento sensorial, diz Helen Coulthard, pesquisadora na área de psicologia da Universidade De Montfort, em Leicester, no Reino Unido.

Preferir alguns alimentos a outros é normal, e pais devem tomar cuidado para não se tornar excessivamente ansiosos sobre como seus filhos comem, desde que os filhos cresçam e ganhem peso em um ritmo normal.
Ainda assim, os pais devem reconhecer que crianças com paladar muito seletivo podem ter um impacto psicológico real mesmo durante a infância, diz o pesquisador em nutrição Myles Faith, da Universidade da Carolina do Norte. Evitar conflitos na hora das refeições pode ajudar os filhos a expandirem sua dieta, diz Faith, que não está envolvido no estudo.
"Quanto mais frustrados ficam os pais, mais eles podem tentar controlar" diz. "Tensões relacionadas à alimentação, se persistirem durante anos, podem promover ansiedade e depressão em crianças."

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