Po'keka, o sabor da linguagem Tupi

São claras as marcas da presença indígena em nossa cultura, um legado visível, de um povo historicamente invisibilizado pelo colonizador.
Portugueses, Holandeses, passando pelos jesuítas, a língua Tupi, apelidada “Língua Brasílica” (língua de intercâmbio), proporcionou aos povos uma interação cultural e, científica, uma vez que, a partir dela, os europeus puderam catalogar, registrar, documentar as coisas novas da “terra nova” 

Eles deixaram gravadas em nosso cotidiano sua presença, alem de exercer grande influencia no desenvolvimento do português e da cultura do Brasil. 
“Ele vive subterraneamente na fala dos nossos caboclos e no imaginário de autores fundamentais das nossas letras, como Mário de Andrade e José de Alencar” 
“É o nosso inconsciente selvagem e primitivo.” 
Alfredo Bosi, um dos maiores estudiosos da Literatura do país. 
Mais de dois séculos foram suficientes para o português incorporar várias palavras do tupi, principalmente as designativas de elementos do universo indígena, tais como lugares, comidas, frutas, rios, plantas e animais. 
O tupi foi a língua mais falada no Brasil até o século XVIII. Em 1758, foi legalmente proibido de ser utilizado em estabelecimentos de ensino e em órgãos públicos. 

 "Há 300 anos, morar na vila de São Paulo de Piratininga (peixe seco, em tupi) era quase sinônimo de falar língua de índio. De cada cinco habitantes da cidade, só dois conheciam o português. Em 1698, o governador da província, Artur de Sá e Meneses, implorou a Portugal que só mandasse padres que soubessem “a língua geral dos índios”, pois “aquela gente não se explica em outro idioma”. Derivado do dialeto de São Vicente, o tupi de São Paulo se desenvolveu e se espalhou no século XVII, graças ao isolamento geográfico da cidade e à atividade pouco cristã dos mamelucos paulistas: as bandeiras, expedições ao Sertão em busca de escravos índios. Muitos bandeirantes nem sequer falavam o português ou se expressavam mal. Domingos Jorge Velho, o paulista que destruiu o Quilombo dos Palmares em 1694, foi descrito pelo bispo de Pernambuco como “um bárbaro que nem falar sabe”. 
Em suas andanças, essa gente batizou lugares como Avanhandava (lugar onde o índio corre), Pindamonhangaba (lugar de fazer anzol) e Itu (cachoeira). E acabou inventando uma nova língua. “
Com essa introdução, quero destacar a importância do Tupi em nossa cultura.
Estas deliciosas embalagens também nos remetem a outra contribuição legada pelos "gentios" brasileiros, as Redes de Dormir, e o cuidado em embalar, como ato de proteger e carregar, com o cuidado que se aconchega um bebê, ilustra bem as funções primárias da embalagem: acolher, proteger e transportar.

Sob esse ponto de vista, a embalagem tem sua origem antropológica e sociológica nos primórdios da civilização humana, pois deriva-se da necessidade básica do ser humano de se alimentar e de buscar formas de guardar e conservar seu alimento por mais tempo. 

Po'keka, mais que um prato, uma técnica Indígena.
O verbo Pok, (arrebentar com ruído, estallar, estrondar, crepitar, estourar, da sons aos sabores e cheiros que exalam destas preparações, envoltas nas folhas, sendo defumadas e mantendo úmidas a comida sob o fogo.

Pokeka, de poké ou mboké, embrulhar peixes, carnes, caças ou frutas assadas no calor da cinza ou borralho, embrulhadas em folhas.
Como todos os brasileiros falavam o tupi indistintamente (inclusive os escravos que aqui vieram também o aprenderam, por ser o tupi uma língua geral no Brasil) com o tempo a moqueca foi mudando de forma e se transformou na comida típica que bem conhecemos. (do tupi po'keka) algo semelhante a embrulho. 

A moqueca, de origem indígena, ou Po'keka é uma técnica de cocção de origem indígena, cujo o nome deriva de moquém, assado envolto em folha e feito sobre a brasa.
Dessa forma, esse assado que era envolvido em folhas era chamado tupi (do tupi po'keka) (embrulho) o que hoje em dia conhecemos por “moqueca”. 
Uma preparação densa, que usava a farinha de mandioca; pirão ou angu sem caldo,  acrescido de peixe, carnes ou caças sobre brasa ou mesmo em um gradeado de madeira conhecido como mokaen (de onde vem a palavra “moquém” assim como o verbo “moquear, ou mesmo em folhas de árvores cobertas por cinzas quentes.

Cozinhar nas cinzas, Bananas, batatas, inhames, carás, macaxeiras, amendoins, fruta-pão, e ate hoje uma técnica usada em todo o continente ameríndio, pré-colombiano e europeu, africano e polinésio, sistema que continua normal e vivo. 
E as cinzas do borralho desempenham função de guarda-comida, armazenando frutos, raízes, ovos, castanhas, no seu calor por muito tempo. 

O Padre Simão de Vasconcelos (“Crônica da Companhia de Jesus no Estado do Brasil” )em meados de séc. XVII inclui na culinária indígena do Brasil os peixes miúdos embrulhados em folhas, e metidos debaixo do borralho, em breve tempo ficam cozidos, ou assados, técnica ainda contemporânea.
A presença do padre jesuíta, nos mostra os esforços em aculturar através da catequese os indígenas em nosso território. 

Este post foi uma homenagem a criatividade de Neide Rigo, chef que admiro, e a releitura que fizemos no ano de 2o13 da Pokeka, no link a preparação e o passo a passo de uma receita deliciosa, que ela apresentou na sua pagina Come-se

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