Não será mudando seu nome, que mudara seu caráter de protesto e resistência.

Mudar o nome das coisas, não fará com que elas modifiquem sua essência, um nome é uma construção social, faz parte do imaginário coletivo, por tanto devemos ter cuidado ao modificá-los, alterar significa desconhecer profundamente os princípios identitários de um povo, seu trabalho e suas lutas, e no caso, um desserviço à nossa gastronomia.
A algum tempo atras, a polemica tomou conta da gastronomia, quando a cantora Gaby Amarantos em suas redes sociais, reclamou a mudança do nome da Castanha que identifica o Estado do Pará.

Esta semana soube que suscitam "querer" modificar o nome de um dos mariscos mais populares das regiões do Recôncavo baiano e da Baia de todos os Santos, o CHUMBINHO. 
No corpo desta ideia, nota-se a longa estrada que devemos trilhar no conhecimento e respeito por nossa identidade gastronômica, na perspectiva errônea de visão, bem como, o cuidado efetivo que o tema objetivo e o foco merecem.
Malgrado o intento, está a estapafúrdia elaboração, parte do interesse em "valorizar o dito marisco".

Ora amigos, todos sabemos que o que deveria ser MODIFICADO, deveria ser a forma desastrosa e violenta com que a região e as comunidades ribeirinhas foram tratadas por décadas, desde a implantação na região do Complexo Industrial de Aratu (CIA), o Complexo Petroquímico de Camaçari (COPEC) além do Porto de Aratu-Candeias, poluindo e dizimando qualquer possibilidade de vida aos ecossistemas na região, comprometendo a natureza, o trabalho árduo de marisqueiras, bem como a saúde das populações circunvizinhas.

A proposito, o corpo do nome do Marisco (Chumbinho) reflete o descaso, ao qual foi submetido por anos, o estuário natural do recôncavo baiano, contaminado com níveis altos de chumbo e cádmio lançado por indústrias locais submetendo a população e comprometendo o ecossistema da região.

O CHUMBINHO (Anomalocardia brasiliana), como popularmente é chamado, é um molusco bivalve marinho da família dos venerídeos, comestível e de ampla ocorrência no litoral brasileiro, onde vive enterrado no lodo, e têm este nome, devido a contaminação que sofreram nos anos 50, ficando assim registrado e estigmatizado, como uma forma de protesto e resistência. 

Tais moluscos possuem coloração branca amarelada, superfície externa lisa com manchas de padrões variados. Em 2006 foram detectadas altas concentrações de íons metálicos como manganês, cádmio e arsênio em moluscos no manguezal do Recôncavo Baiano. 

bebe-fumo, bergão, berbigão, burdigão, bibigão, conchinha, fuminho, fumo-de-rolo, maçunim, marisco, marisco-pedra, marisquinho, papa-fumo, pimentinha, samanguaiá, samanguiá, samongoiá, sapinhoá, sarnambi/sernambi, sarnambitinga, sarro-de-pito, simanguaiá, simongoiá, simongóia, tumem.     

Valorizar nossos produtos, passa necessariamente em valorizar nossa gente, os verdadeiros formadores da nossa cultura, respeitar os mananciais e ecossistemas.
Não é com imediatismo preguiçoso que se constrói uma cultura gastronômica pulsante, é com respeito, conhecimento e principalmente, lutando pela vida.

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