Você conhece o Conceito Economia Circular? Uma proposta para converter o desperdício em riqueza

A economia circular pode inspirar algumas das maiores oportunidades de negócio.
Se continuarmos a consumir os recursos naturais ao ritmo atual, vamos precisar de três planetas em 2050. Pode não ser o fim do mundo mas, se nada mudar, é certamente uma
forma mais rápida de lá chegar. As contas – e alertas – são de Peter Lacy e Jakob Rutqvist, directores executivos da Accenture que, nos últimos cinco anos, a trabalhar entre Londres, Xangai e Estocolmo, avaliaram o impacto económico desse consumo desenfreado e da consequente escassez de recursos, bem como as práticas que a podem evitar. Mais: que a podem transformar numa das maiores oportunidades de negócio da próxima década. A chave, defendem, está na economia circular (ver caixa no final do artigo).
Ideias e conclusões que os dois consultores reuniram no livro ‘Waste to Wealth’ (‘do desperdício à riqueza’), depois de pesquisarem 120 empresas e de entrevistarem 50 executivos, sobretudo da Europa e EUA – e que explicaram numa entrevista ao Económico. “Os negócios são o grande motor da mudança”, afirmam através de dados recentes. “Na segunda metade do século passado, era habitual ver o custo das matérias-primas descer, mesmo que a procura disparasse. Nos últimos 15 anos, contudo, graças à globalização, ao urbanismo e às economias emergentes, essa relação inverteu-se. Uma forte procura resultou em preços mais altos e mais instáveis e à menor disponibilidade de recursos.” As consequências? “Um maior custo para os negócios.”

Daí que empresas e consumidores tenham de fazer parte da solução. “Descobrimos que as companhias que adotaram mais cedo um modelo de economia circular também aplicaram mais cedo novas formas de inovar e servir os seus clientes. E isso refletiu-se em mais receitas e melhor rentabilidade.” Os próprios hábitos também começam a mudar. “Os consumidores procuram serviços e produtos convenientes, mas também sustentáveis. Muitos hoje preferem alugar. em vez de comprar. carros, outros escolhem empresas como a Airbnb para comprar férias a um melhor preço. Isto demonstra que os consumidores são uma força vital para a mudança.”
A tecnologia é uma linha mestra neste plano de mudança para reduzir o desperdício e promover a reutilização de materiais. “Se a economia circular for uma revolução, será uma revolução digital”, defendem. E os ‘smartphones’ são um bom exemplo disso, como explicam os autores. Cerca de 200 milhões de norte-americanos utilizam estes equipamentos, compostos por uma série de elementos metálicos e químicos. À sua crescente sofisticação tecnológica tem correspondido um cada vez menor ciclo de vida. “E se, no final desse ciclo, fosse possível desmontar e reutilizar partes do ‘smartphone’ num novo equipamento?”, questionam. “E seum utilizador só precisasse de mudar de telefone ao fim de dez e não de dois anos?”

Por tudo isto, o método tradicional de negócio – assente em “tirar, fazer e gastar” – deixou de ser o mais eficiente. Para converter o desperdício em riqueza, Lacy e Rutqvist propõem cinco modelos de negócio dentro da economia circular. Caminhos que passam por partilhar plataformas para maximizar os recursos, converter produtos em serviços para dispensar a sua compra, reparar e reutilizar para prolongar a vida útil dos bens, reutilizar materiais para diminuir o desgaste de recursos e danos ambientais e, por fim, recorrer ao próprio desperdício para reduzir o seu impacto. Práticas que, como reforçam os dois consultores, também passam por um maior envolvimento dos reguladores e governantes na definição de políticas – e que os levam a aplaudir o recente pacote de medidas para a economia circular aprovado pela Comissão Europeia.

Se forem devidamente aplicadas, as medidas propostas por Lacy e Rutqvist “podem evitar a escassez de oito toneladas de recursos naturais em 2030”, estimam, e gerar volumes de negócio na ordem dos 4,5 biliões de dólares. Mas alertam: “Não defendemos que a economia circular vá evitar toda a falta de recursos, até porque vários estudos calculam que a economia global precise de quadruplicar essa produção se quiser crescer sem estrangulamentos”. E isso, reforçam, “está muito longe daquilo que um modelo de negócio convencional consegue.”


O QUE É A ECONOMIA CIRCULAR?

É um conceito que assenta nas práticas de reduzir, reutilizar, reciclar e recuperar para poupar
recursos, reduzir custos e o volume de desperdício e ainda potenciar a sustentabilidade. No modelo da economia circular, todos os produtos são reaproveitáveis e podem dar origem a novos bens. O objectivo é inverter a tendência atual, em que se consome mais recursos do que aqueles que o planeta consegue produzir.

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