"Nem na Bahia, muito menos no Rio, o Samba nasceu foi na Cozinha. Você conhece o Samba do Machucador?

Samba do Machucador 

As mulheres que trabalhavam nos armazéns de tabaco em Cruz das Almas, faziam da batida do machucador, ritmo para o samba de roda, e a comunidade mantem viva essa tradição no recôncavo baiano.

MULHERES NEGRAS E PODER NA INDÚSTRIA FUMAGEIRA



Luzia Souza Ferreira e Elizabete Rodrigues da Silva, no artigo MULHERES NEGRAS E PODER NA INDÚSTRIA FUMAGEIRA, registraram e evidenciam a força feminina de Indústria Fumageira no Recôncavo baiano, onde destaca especialmente as mulheres que ocuparam a presidência do Sindicato da Indústria do Fumo, dentre elas, a forte presença de Maria Joaquina, mulher negra e semi-analfabetizada que fundou o primeiro movimento social desta cidade e sofreu várias formas de repressão nos anos da ditadura. Neste sentido observou-se que a trajetória das mulheres negras, trabalhadoras da indústria de fumo, foi marcada por uma luta acirrada pela sobrevivência material, bem como, pelos espaços de poder, minando a invisibilidade social e política a que eram submetidas no contexto das relações sociais de gênero, raça e classe daquele contexto.

Resistência sutil, também era uma atitude consciente e presente nas ações das mulheres fumageiras, nesse momento elas exerciam o poder por está numa posição de subalternidade o que não a impedia de levar o leite pra casa. Embora fosse na sutileza dessa obediência que residia a sabedoria política da charuteira, ou seja, obedecer não significava recuar, deixar-se dominar ou acomodar-se, mas aprender a conviver habilmente com a "inevitável" dominação daquela circunstância para atingir o seu objetivo que era manter-se no trabalho. 

“Minha mãe me deu de machucador, eu não sou pimenta, minha mãe me machucou”

Formado por sua maioria de mulheres negras e pessoas da comunidade. Essas mulheres resignificam a tristeza da escravidão mantendo suas origens e tradições, valorizando a ancestralidade e  relendo suas histórias de vida. 

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"Nem na Bahia, muito menos no Rio, o Samba nasceu foi na Cozinha.

As coisas nascem de condições e temperaturas necessárias, e foi da necessidade do encontro, que o Samba se deu, de fugentar a saudade, espantar a tristeza, de dividir alegria, que se amplia com mais uma dose de vida vivida, e de vida experimentada.

Foi na cozinha, lugar onde se produz vida e intimidade, que ele cresceu, firmando os pés descalsos, como que reafirma sua condição de liberdade, sem regras chegou fazendo troça, no sorriso da cabrocha, no flerte do olhar, assim tempera-se o samba, no miudinho, na chula do Recôncavo, de mansinho, como quem cozinha um feijão, para o bem amado.

Comida e Samba, transgridem as normas, insubmissos aos modelos formais, liberam o corpo ao prazer.

Eles nasce em qualquer lugar, como ofícios, usam o que tem a sua volta como instrumento, bem sabe quem cozinha.

Edith lança mão do prato para tirar um samba, enquanto Pastinha enchuga a emoção, ao passo que Zé mundinho, batuca com uma caixa de fósforos, tamburete vira instrumento, o couro na mão, é louvação ao Samba, pois sagrado, é o ato de afirmação da vida."

Mulheres que cresceram vendo e ouvindo, as batidas dos machucadores que suas mães e avós trabalhadoras de armazéns de fumo e cozinheiras das casas grandes dos fazendeiros da região. Sem perder suas riquezas e encantos, conseguiram transformar suas tristezas em alegrias e seguem contagiando com as batidas dos seus machucadores.

Vencendo preconceitos e quebrando as barreiras, o samba vem se desenvolvendo de forma surpreendente com apresentações belíssimas com o autêntico samba de roda do Recôncavo baiano. 

O grupo trabalha duas vertentes do Samba de Roda: Samba chula – considerado a forma mais primitiva do samba, onde os participantes não sambam enquanto os cantores entoam a chula em forma de poesia e a dança só começa depois disso. Samba corrido - onde todos sambam enquanto dois solistas e o coral se alternam no canto.

Nessa vertente percussiva, oriunda da tradição Bantu, o batuque africano, se fezem presente, alegrando os festejos juninos de Cruz das Almas. 


@elcocineroloko

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