Habitos africanos e a presença feminina na venda do mexilhões nas ruas de Portugal


Em Lisboa, como em outras grandes cidades, a inserção no mercado de trabalho constitui um passo decisivo para a integração dos seus habitantes e, muito particularmente, para a inserção de imigrantes recém-chegados, venham eles do interior ou do litoral, de outras cidades ou de pequenas aldeias, do país ou do estrangeiro.
Com efeito, os designados tipos populares referem-se, na sua maioria, a vendedores ambulantes, ou prestadores de serviços vários ao domicílio, mulheres e homens que povoaram as ruas da cidade de Lisboa em épocas passadas, parando nas praças, de giga à cabeça ou trazendo um burro pela arreata, sucedendo-se uns aos outros durante certas horas do dia, em cumprimento dos horário favoráveis à venda dos seus produtos ou consoante as épocas do ano e sempre associados aos seus pregões. Iniciavam os seus pregões logo que tocavam as 9:00 da manhã na Sé de Lisboa. 
Estes pregões ecoavam pelas ruas de Lisboa de outros tempos no seu quotidiano e atravessaram diversas épocas da história de Portugal e da cidade.


A venda de mexilhão por mulheres negras, foi um tipo de profissão ambulante iniciada em Lisboa por os negros escravos trazidos para Portugal, que começaram, pelo menos a partir do século XVI, a exercer a venda de comestíveis pela cidade de Lisboa. 

À época as condições das cozinhas da maioria da  população não permitiam que nelas fossem efectuados grandes cozinhados. 

Daí a profusão de vendedores ambulantes que percorriam a cidade de Lisboa logo pela manhã. 


A popularmente denominada preta vendedora de mexilhão das ruas de Lisboa em 1888 (col. priv.)

Em Lisboa, nos finais do século XIX, ainda eram famosas as mulheres negras da fava rica e do mexilhão. Popularmente denominadas por as "pretas do mexilhão" eram figuras típicas das ruas de Lisboa e já com clientela habitual. 

A fava rica, o grão de bico, o cus-cus, o arroz doce, o mexilhão, o berbigão e outros pratos já cozinhados facilitavam a vida dos habitantes. 

Estas vendedoras de mexilhão cozinhado com azeite, alho, cebola e colorau, punham um tacho dentro de uma celha de madeira ou de uma cesta de palha que cobriam com um pano branco e colocavam-no à cabeça. 

Pelas ruas da cidade apregoavam: 

"Iérri éérre, mexilhão! pró petisco do patrão!" 

Em finais dos anos 50 do século XX ainda era possível ouvir o pregão do mexilhão, ao final da noite entre os meses de abril e setembro. Pregão este cantarolado por peixeiros e peixeiras, muitas vezes com o menu completo, apregoando:

 "I...érri éérre, mexilhão/com molho à fragateira/ es eu alho zaraquitalho/ e azeite de Santarém/ ele é pouco mas sabe bem!"

Vendedores de Ostra



Vendedor de ostras das ruas de Lisboa no início do séc. XX, por Roque Gameiro(col. pess.)

Outra actividade similar eram os vendedores de ostras de Lisboa. Era tradição todas as tarde os homens das ostras, por norma indivíduos de meia-idade para quem este fraco negócio ia dando para as necessidades da vida. Normalmente eram antigos homens do mar e que depois de retirados da sua profissão recolhiam nos bancos de ostras existentes nas margens sul do rio Tejo, como na Aldeia Galega, actual Montijo e nas proximidades. Depois comercializavam-nas pelas ruas da capital e aos restaurantes onde se cozinhavam bons pitéus. Sempre com o seu pregão:

"Quem quer ostras?"

"Ostras, ostras!"

A maioria deste tipo de actividade manteve-se até ao final do século XIX, representada em muitas litografias e registos fotográficos da época, no entanto outras ainda mantiveram-se até meados do século XX. Com o aumento progressivo da poluição no rio Tejo as ostras desapareceram assim como outras espécies e estes petiscos muito apreciados por alguns desapareceram, tal como os seus típicos vendedores.

Fonte: blogg Histórias com História

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