lançamento do livro Sángò, da antropóloga Juana Elbein dos Santos e de Deoscoredes Maximiliano dos Santos, Mestre Didi Asipá

Por Verena Paranhos 
Pierre Verger

Lá fora o sol iluminava o mar azul de Ondina, mas na sala apinhada de lembranças podia-se sentir que os raios e trovões de Xangô rodeavam a conversa, fazendo justiça à sabedoria construída ao longo de 50 anos de vida conjunta. Para a antropóloga Juana Elbein dos Santos, falar do orixá do panteão nagô é também falar de Deoscoredes Maximiliano dos Santos (1917-2013), o notável escultor Mestre Didi Asipá, com quem assina o livro Sángò (Corrupio, 76 p). 
Juana Elbein dos Santos

A publicação, que aborda diversos aspectos da divindade em meio a memórias do casal, será lançada nesta quarta-feira, às 18 horas, na Livraria LDM (Espaço Glauber Rocha). "Xangô representa em si tudo que a humanidade é capaz de sentir, de presentificar pelo trovão, quentura, calor. Ele reúne tudo: destruições, guerra, ciúme, mas ao mesmo tempo amor, carinho, afetuosidade", afirma, com o sotaque peculiar, a argentina de origem judaica. Segundo Juana, foi Didi, Sumo Sacerdote do Culto aos Ancestrais e fundador do Ilê Asipá, quem a introduziu à verdadeira diversidade cultural. "Antes dele, a diversidade cultural que eu tanto pesquisava era um conceito vazio. Para Didi, Xangô significava identidade" resume a senhora de 86 anos, com os olhos azuis já mareados. "Xangô representa virilidade e procriação. É a continuidade da existência. Herói mítico e dinástico, extrapola a concepção de mundo nagô", afirma a agnóstica que ajudou a fundar o Ilê Asipá. Fotos e manuscritos Sángò (grafia em nagô) reúne textos escritos durante diversos momentos da vida do casal, no Brasil e na África. A obra soma-se à Èsù (2014) e Arte Sacra e Rituais da África Ocidental no Brasil (2015), concluindo a coletânea em três volumes da Corrupio, de autoria de Juana e Didi. 


Os três livros contaram com apoio financeiro do Fundo de Cultura do Estado da Bahia. Sángò traz imagens de manuscritos da antropóloga, fotografias de Pierre Verger que retratam sacerdotes de Xangô na Nigéria e no Benin e textos do antropólogo nigeriano Wande Abimbola e do linguista Olabiyi Babalola Yai. Atualmente, Juana luta para preservar o acervo artístico de Mestre Didi, juntamente com a Sociedade de Estudos da Cultura e das Diversidades Culturais (Secneb), responsável pela curadoria editorial e consultoria do livro. Além disso, ela escreve o livro Juana e Didi, itinerário do bem querer.
Foto: Rosilda Cruz

Comentários

Postagens mais visitadas