Matapa, Xima e Mandioca na Culinária Zambeze

Matapa - delicioso ensopado verde com camarão e amendoim! Matapa é o nome por que é conhecido em Moçambique o prato feito com a folha da mandioca pilada, cozinhada num molho à base de amendoim pilado e leite-de-coco e temperado com um marisco, que pode ser camarão ou caranguejo.
A Matapa pode ser consumida sozinha ou com arroz branco, sendo uma excelente e deliciosa opção de comida vegana. No entanto, o ensopado também pode ser servido com camarão, resultando em um prato ainda mais colorido que sugere férias de verão.

Normalmente, é servido com peixe frito "Xima" e arroz.
Em quase todas as regiões, se consome muito peixe seco.
Nas feiras livres, o cheiro de peixe seco toma conta de tudo.
Eles são secos porque boa parte dos moradores não tem energia elétrica em casa e, portanto, geladeira para conservá-los.
Confira o vídeo do Marcelino Francisco para a preparação da Matapa.

Com pouco dinheiro, a população consome quase nada de açúcar e a base da alimentação é mandioca, milho, arroz e feijão. Além de frutos do mar e carne de frango. Incluímos em nosso cardápio o caril de vegetais, um prato local feito com legumes cozidos e molho de tomate.
Com a chegada dos colonizadores europeus, no século XVI, estes aprenderam dos indígenas as técnicas de utilização da mandioca. 
Moçambique, país tropical localizado na África do Sul com mais de 2000 km de costa no Oceano Índico foi uma colônia portuguesa por quase cinco séculos, até 1975. A influência portuguesa, frutas tropicais e frutos do mar fazem de Moçambique um dos os destinos gastronômicos mais interessantes da África.

A domesticação da Mandioca, significou o aprendizado de sua técnica de plantio (enterrando pedaços de seu caule no solo) e da técnica para remover o ácido cianídrico tóxico de suas raízes e folhas. A abundância de carboidratos propiciada pelo seu cultivo possibilitou o surgimento de grandes nações indígenas nas regiões tropicais americanas. 

A "farinha de pau", como era chamada a farinha de mandioca, passou a ser um alimento básico dos marinheiros europeus que viajavam pela costa americana. 
Os bandeirantes, exploradores de origem europeia que desbravaram o interior da América do Sul em busca de escravos índios, pedras e metais preciosos entre os séculos XVI e XVIII, tinham por alimentação básica a farinha de mandioca e a carne-seca.
As Folhas de Mandioca tem grande importância na cultura alimentar Moçambicana.

Os navegadores europeus foram responsáveis pela introdução da mandioca no continente africano a partir do século XVI, que encontrando condições climáticas semelhantes às de seu território de origem, a mandioca se espalhou pelo continente africano, tornando-se um ingrediente típico da culinária africana. 
Com o aumento da imigração europeia para o continente americano a partir do século XIX, o cultivo e o consumo da mandioca na América foram, em grande parte, substituídos pelos de espécies vegetais importadas como o trigo e o arroz.
Segundo Jaime Rodrigues em sua obra “De farinha, bendito seja Deus, estamos por agora muito bem”: uma históriada mandioca em perspectiva atlântica" 
O trânsito alimentar intercontinental tem atraído maior atenção dos historiadores ao menos desde a década de 1970 e do estudo clássico de Alfred Crosby Jr. (1972). 
No texto do historiados, o interesse recaiu sobre essas trocas como experiência global, concentrado na mandioca, vegetal que durante milênios foi domesticado pelos índios da América do Sul.
A apropriação do saber indígena representou um ganho para os conquistadores europeus, garantindo a fixação no continente e as calorias necessárias às viagens de longa distância, viabilizando o tráfico de africanos ao ser incorporado às rações de marinheiros e escravos em ambos os lados do Atlântico e na travessia, bem como na dieta de africanos em seu próprio continente.
O trânsito do vegetal e da farinha dele derivada incorporou os indígenas da América aos circuitos comerciais atlânticos.
 
"Comida de índios selvagens e de escravos negros no Brasil, acabou por fazer a viagem inversa, e ir alimentar em África os pais dos futuros escravos que a comeriam na sua América de origem.
As datas fogem-nos nesses mundos onde impera a transmissão oral, com referências cronológicas as mais das vezes impossíveis de reduzir a uma datação absoluta."
(Rocha, 1998, p.38)

Outra coisa surpreendente é o sol desta parte da África.
Parece brilhar mais e ser mais ardente do que o nosso.
Na beira de estradas, encontramos pessoas sentadas ao sol quebrando pedras com as mãos para serem vendidas para a construção civil. Mães que trabalham naquele sol escaldante, com os filhos amarrados às costas, e os bebês parecem confortáveis.
Moçambique é um país em reconstrução. Percebe-se que, a duras penas, a passos lentos.
São raras indústrias e pouco trabalho para a população.

Outros pratos fazem parte da dieta Zambeze, uma culinária simples mas muito rica e com sabor lusófono.

Mucuane: O prato conhecido como matapa nas outras regiões do país é feito com folhas piladas de mandioca, que são depois fervidas com dois litros de água. Junto ao preparo, adiciona-se camarão sem casca, tomate, cebola e mamão-papaia verde.
Quando a água estiver secando, o leite extraído do coco ralado é adicionado. Pode ser preparado na versão vegetariana, também muito comum, substituindo o camarão pela castanha de caju. Piripiri (pimenta moçambicana) a gosto. Frango Cafrial ou a Zambeziana: 
O preparo é simples e fácil e não há muito mistério, mas mesmo assim é a receita de frango mais famosa do país e também fora dele. 
O primeiro passo é abrir o frango e temperar com limão, sal, bastante alho e um fio de azeite. 
O segundo é deixar a carne marinando por um bom tempo em leite de coco ralado preparado na hora.
O prato é servido com arroz de coco ou chima, uma espécie de purê de farinha de milho. 

Camarão a Zambeziana: 
O camarão é uma das principais economias de exportação em Moçambique e pratos com o ingrediente não faltam no país e nem na culinária zambeziana, em que o camarão vem banhado em leite de coco.
Algumas pessoas preferem prepará-lo com berinjelas envolvidas em farinha e outras preferem uma versão mais simples apenas com um toque final de limão. 
Um dos acompanhamentos mais tradicionais é o quiabo à zambeziana.
Quiabo a Zambeziana:
A iguaria é acompanhamento tradicional do frango ou camarão, mas também pode ser servido sozinho com o arroz de coco. Na receita local, para evitar que solte muita baba, o quiabo é temperado com sumo de limão ou levemente fritado em óleo antes do ser cozinhado. Prepara-se então um refogado de tomates sem pele, cebola e leite de coco, onde o quiabo por fim é adicionado.
Opcional é o toque de final de pimenta piripiri, outra paixão nacional.

O turismo em Moçambique pode ser um dos caminhos e a esperança de que o mundo volte seus olhos para um lado inexplorado e belo, desta região da África
A chamada indústria que não polui, a conscientização ambiental, projetos sociais e de sustentabilidade, podem ser um dos muitos suportes para o progresso com o qual os moçambicanos tanto sonham.

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