OS TAPUIAS E O VINHO DA JUREMA





O Ajucá, também chamado de Anjucá ou vinho da Jurema, é conhecido entre os juremeiros como o "fogo líquido" que ilumina e aquece o espírito durante os rituais da ordem.

> "A Jurema é minha madrinha, Jesus é meu protetor.

A Jurema é um pau sagrado onde Jesus descansou…

Você, por ser um bom Mestre, me ensina a trabalhar.

Trabalhar com as três ciências: A Jurema, a Junça e o Vajucá."



Os povos indígenas do Nordeste brasileiro preparam uma bebida sagrada, utilizada em rituais mágico-religiosos. Essa bebida é feita a partir de partes da árvore Jurema (Mimosa tenuiflora) e enriquecida com outros elementos vegetais. Seu uso facilita estados de transe e êxtase místico, fundamentais para as práticas espirituais. No século XVII e XVIII, esses rituais eram conhecidos como "adjunto de Jurema", uma dança coletiva de origem tupi, conforme registrado por Luís da Câmara Cascudo em Meleagro.

Embora a cerimônia do Ajucá tenha se tornado rara no Brasil, alguns povos indígenas ainda a preservam. O ritual combina elementos cristãos, indígenas, espíritas e afro-brasileiros, refletindo o sincretismo religioso presente na cultura nordestina.

A Jurema: Árvore Sagrada e Fonte de Sabedoria

O nome Jurema refere-se a uma árvore da família das acácias, cujas raízes são utilizadas para preparar uma bebida de caráter enteógeno, ou seja, capaz de induzir visões e sonhos adivinhatórios. No passado, os pajés administravam a poção aos guerreiros para que estes pudessem viajar ao mundo dos espíritos. Curiosamente, era função exclusiva das mulheres interpretar os sonhos e revelar eventos do passado e do futuro.

O culto à Jurema tem grande importância no Nordeste, especialmente na Paraíba, assim como o culto a Iroko na Bahia. Antes mesmo da colonização, povos indígenas como os Potiguaras e os Tabajaras já veneravam essa árvore. A Jurema pode viver por mais de 200 anos, e todas as suas partes são aproveitadas em rituais: a raiz, a casca, as folhas e as sementes são usadas em banhos, infusões, unguentos e na preparação do vinho da Jurema. Os iniciados nesses rituais são chamados de Juremeiros.

O município de Alhandra, na Paraíba, tornou-se um dos principais centros do culto à Jurema, especialmente na forma do Catimbó, prática espiritual que mistura influências indígenas, africanas e cristãs.

Os Tapuias: Povos Indígenas e a Resistência à Colonização

No período colonial, os indígenas que não pertenciam ao tronco linguístico tupi-guarani eram chamados de Tapuias. Esse termo, originalmente pejorativo, foi usado pelos tupis para designar os povos do interior, como os Cariris, Tarairius e Canindés, que habitavam o sertão da atual região Nordeste.

Os tapuias eram considerados guerreiros ferozes, possuíam grande força física e eram exímios caçadores e coletores. Muitas dessas etnias praticavam o endocanibalismo, ou seja, consumiam partes dos próprios membros da tribo em cerimônias rituais, acreditando absorver sua força e coragem.

Apesar da narrativa eurocêntrica que descrevia os indígenas como passivos ou submissos, os tapuias demonstraram resistência feroz à colonização. A Guerra dos Guerém, travada contra os portugueses na Costa do Dendê (atual litoral sul da Bahia), durou 15 anos, até 1750. Durante esse conflito, os tapuias chegaram a invadir a cidade histórica de Cairu, forçando figuras políticas da época a se refugiarem nas ilhas vizinhas, como Morro de São Paulo, Boipeba e Garapuá.

Após anos de resistência, os tapuias foram "pacificados" por frades italianos, liderados pelo Frei Bernardino de Milão, que organizou um povoado indígena às margens do rio Una. Esse assentamento cresceu e deu origem à cidade de Valença, na Bahia, no século XIX.

Curiosidade: A Jurema e sua Presença no Mundo Espiritual

Segundo a tradição, a Jurema não é apenas uma árvore física, mas também um reino espiritual habitado por mestres encantados. Os juremeiros acreditam que, ao beber o vinho da Jurema, entram nesse mundo sagrado, onde encontram entidades espirituais que os guiam. Essa concepção se assemelha à crença em mundos invisíveis presentes em diversas tradições indígenas e afro-brasileiras, reforçando a ideia de que a natureza é um portal para o divino.

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