MARIA DE SÃO PEDRO, A MAIS FAMOSA QUITUTEIRA DA BAHIA.
O empreendedorismo cada vez mais faz parte do universo feminino e a participação das mulheres no mundo dos negócios cresce em ritmo bem mais acelerado do que a dos homens. Mas a coisa nem sempre foi assim, as mulheres, sempre tiveram muitas dificuldades por muitos motivos, neste texto pretendo mostrar a força nata de mulheres baianas relacionadas a gastronomia, que mesmo diante de tantas dificuldades, conseguiram se impor e mostrar com segurança seu valor.
Talvez Iemanjá tenha levado esta grande mulher, cozinheira e mãe de família, para bem próximo dela no seu cotidiano. Em Salvador começou com uma quitanda na Ladeira da Barroquinha, vendendo gêneros alimentícios, inclusive iguarias baianas. Daí mudou-se para a Feira do Sete, na Cidade Baixa, onde montou uma barraca de comidas.
E a força de Xangô, tenha dado passaporte para conduzir seu negocio, num dos grandes momentos da cultura baiana. Certo é, que se hoje falamos tanto em Chefs e gastronomia, a Bahia, já sabia muito bem o que era ser uma líder em nossa cozinha.
Maria de São Pedro, é o espelho, que representa muito a nossa cultura, mista de alegria, sabor e generosidade.
Nasceu em Santo Amaro da Purificação, no dia 28 de junho de 1901 e viveu, durante quase toda a sua vida, em Salvador.
O Mercado Modelo possuía o comércio de produtos artesanais provenientes do recôncavo baiano e de várias cidades nordestinas.
As rodas de capoeira, os cantadores, os cordelistas, a presença das figuras típicas, dos boêmios, dos poetas, fazem do Mercado, além de um ponto de venda de produtos típicos, um centro de cultura popular nordestina.
Foi ali, no Mercado Modelo que a Santarenense estabelecida, começou a vender seus quitutes em 1925, na chamada Feira do Sete, onde hoje se encontra a Base Naval, próxima a antiga Receita Federal, no coração da Cidade Baixa, perto de Água de Meninos e mais tarde Transferiu-se para o Mercado em 1942, ao pé da ladeira de Água Brusca.
Em 1971, Dna. Maria reabre no primeiro andar do atual Mercado Modelo, após o incêndio que tinha acabado com o Mercado Antigo e o seu restaurante, em 1969, dividindo o espaço do salão com o outro restaurante pertencente ao Mestre Camafeu de Oxóssi, que continua assim até os dias de hoje.
Na Bahia, a presença feminina na venda de alimentos, sempre foi de grande importância, desde a época da escravidão, mulheres negras, ditas "ganhadeiras" vendiam seus acepipes nas ruas da cidade.
No ganho de rua, principalmente através do pequeno comércio, a mulher negra ocupou lugar destacado no mercado de trabalho urbano.
Encontramos tantas mulheres escravas colocadas no ganho por seus proprietários, como mulheres negras livres e libertas que lutavam para garantir seu sustento e de seus filhos.
Podemos ver na obra fotográfica do Marc Ferrez no cotidiano brasileiro na segunda metade do século XIX, principalmente da cidade do Rio de Janeiro, então capital do Brasil, onde a presença feminina nas ruas, com suas gamelas e tachos, na venda de frutas e alimentos.
Em 1945, havia poucos restaurantes “apresentáveis”.
Para uma boa comida baiana, afirma Jorge Amado, que recomendava o Estrela do Mar, de propriedade de Maria de São Pedro.
Em 1986, ano ela já havia morrido, a tradição continuava, agora com um restaurante que levava seu nome.
Hoje em dia, o Maria de São Pedro divide espaço com o Camafeu de Oxóssi. Às vezes ele vinha direto da Europa para o restaurante.
Nosso forte é a moqueca, mas galinha ao molho pardo era seu prato preferido aqui — completa Domingos.
Poucas pessoas compreenderam e sentiram tão completamente a Bahia quanto Roger Bastide. Naqueles idos da segunda guerra, quando ele veio para compreender, eu o acompanhei um pouco, por toda parte e dai nasceu uma amizade para toda a vida.
A força das mulheres baianas na gastronomia – Maria de São Pedro, pioneira e símbolo
Neta de escravizados, Maria de São Pedro nasceu em Santo Amaro da Purificação, no dia 28 de junho de 1901, e faleceu em 28 de maio de 1958, aos 56 anos. Mãe de família, cozinheira talentosa e empreendedora nata, ela representa um dos maiores exemplos da força feminina na história da gastronomia baiana.
O empreendedorismo tem ganhado cada vez mais espaço no universo feminino. Hoje, as mulheres entram no mundo dos negócios em ritmo mais acelerado que os homens. No entanto, esse cenário é recente. Historicamente, as mulheres enfrentaram inúmeras dificuldades — sociais, econômicas e culturais — para conquistar seu espaço. Este texto é uma homenagem à força ancestral de mulheres baianas, especialmente ligadas à gastronomia, que, mesmo diante de tantos obstáculos, conseguiram se impor e mostrar, com segurança, o seu valor.
Talvez Iemanjá tenha levado essa grande mulher para bem perto de si em sua morada aquática. Maria de São Pedro começou sua trajetória em Salvador, com uma pequena quitanda na Ladeira da Barroquinha, onde vendia gêneros alimentícios e iguarias típicas da Bahia. Mais tarde, transferiu-se para a Feira do Sete, na Cidade Baixa, onde montou uma barraca de comidas.
Foi a força de Xangô que parece ter conduzido seu destino, abrindo caminhos em um dos momentos mais marcantes da cultura baiana. Se hoje falamos tanto em "chefs" e "gastronomia", a Bahia já conhecia, há muito, o que significava liderar com talento e afeto sua cozinha. Maria de São Pedro é um espelho da cultura baiana: uma mistura vibrante de sabor, alegria, generosidade e resistência.
Desde 1925, ela comercializava seus quitutes na chamada Feira do Sete, onde hoje se encontra a Base Naval, próximo à antiga sede da Receita Federal, no coração da Cidade Baixa, perto da região de Água de Meninos. Em 1942, transferiu-se para o Mercado Modelo, ao pé da Ladeira da Água Brusca. Em 1971, após o incêndio que destruiu o antigo Mercado e seu restaurante em 1969, o restaurante foi reaberto no primeiro andar do novo Mercado Modelo, onde passou a dividir espaço com o restaurante de Mestre Camafeu de Oxóssi — uma convivência que se mantém até hoje.
Na Bahia, a presença feminina na venda de alimentos é antiga e essencial. Desde os tempos da escravidão, as mulheres negras — conhecidas como "ganhadeiras" — vendiam seus acepipes nas ruas da cidade. No comércio de rua, elas sempre ocuparam papel de destaque na economia urbana. Muitas eram escravizadas colocadas no ganho por seus senhores, outras eram mulheres negras livres ou libertas que trabalhavam para sustentar a si mesmas e suas famílias.
Essa presença é registrada também nas fotografias de Marc Ferrez, que mostram o cotidiano das cidades brasileiras no século XIX — especialmente no Rio de Janeiro — revelando mulheres nas ruas com suas gamelas e tachos, vendendo frutas e alimentos com dignidade e criatividade.
Em 1945, segundo o escritor Jorge Amado, havia poucos restaurantes verdadeiramente “apresentáveis” na capital baiana. Para uma boa comida baiana, ele recomendava o Estrela do Mar, de propriedade de Maria de São Pedro. Mesmo após sua morte, em 1958, a tradição seguiu viva: em 1986, o restaurante Maria de São Pedro já operava como um marco gastronômico no Mercado Modelo, lado a lado com o Camafeu de Oxóssi.
Domingos, um dos responsáveis pela casa, lembrava:
“Nosso forte é a moqueca, mas o prato preferido dela era a galinha ao molho pardo. Às vezes, vinham clientes direto da Europa só para provar.”
Poucas pessoas compreenderam e sentiram tão profundamente a alma da Bahia quanto Roger Bastide. Nos tempos da Segunda Guerra, quando veio ao Brasil para estudar o país, foi acompanhado por Jorge Amado, com quem construiu uma amizade que duraria toda a vida. Maria de São Pedro foi parte viva desse cenário — de um tempo em que a gastronomia era feita com mãos de afeto, pés firmes no chão e alma de orixá.
Baianas e o Mercado Popular: De Maria de São Pedro a Carmen Miranda
Nos anos 1940, em meio a preconceitos raciais e sociais, mulheres negras baianas começaram a abrir caminho e impor seu estilo. Um nome marcante é o de Maria de São Pedro, que liderava o restaurante Estrela do Mar, no antigo Mercado Modelo. A fama de seu vatapá atravessou oceanos.
Foi nesse cenário que a artista luso-brasileira Carmen Miranda, chamada de A Pequena Notável, ajudou a popularizar mundialmente o ofício da baiana de acarajé. Visitando Salvador, Carmen almoçou no restaurante de Maria de São Pedro, mas não chegou a conhecer um terreiro — à época, ainda reprimidos pela polícia.
Carmen, ao lado de Dorival Caymmi, eternizou a figura da baiana no cinema e na música com a canção “O Que é Que a Baiana Tem?”, do filme Banana da Terra (1939). A artista transformou o traje da baiana em ícone da brasilidade — misturando dança, humor, música e estilo em performances que conquistaram o mundo.
Seu personagem, inspirado pelas mulheres negras da Bahia, levou o turbante, os colares e as saias rodadas ao estrelato em Hollywood, num tempo em que o samba ainda era marginalizado e a presença negra invisibilizada nos grandes meios.
Comida como Cultura, Corpo e História
A presença das mulheres negras nas ruas da Bahia, cozinhando e vendendo alimentos, é um dos pilares mais profundos da cultura brasileira. Em meio à repressão, ao racismo e ao preconceito de classe, elas criaram sabores, rituais e uma economia própria — sustentada pela ancestralidade e pela coragem.
A trajetória de Maria de São Pedro, a força dos terreiros e o gesto artístico de Carmen Miranda são fragmentos de uma história maior: a da culinária como instrumento de identidade, resistência e pertencimento.
Maria de São Pedro – Rainha da Cozinha Baiana
Carmen Miranda esteve certa vez no Mercado Popular, onde almoçou no restaurante “Estrela do Mar”, de Maria de São Pedro, famoso por servir “o melhor vatapá do mundo”. Naquela época, os candomblés ainda estavam sob forte repressão policial, o que impediu Carmen de visitar qualquer terreiro. Mas foi impactada pela presença marcante das baianas em trajes típicos — uma possível inspiração para o figurino que eternizaria em “O Que é Que a Baiana Tem?”, no filme Banana da Terra.
Influência e Visibilidade
Maria de São Pedro já era muito requisitada no meio político. Foi cozinheira oficial em diversas recepções no Palácio da Aclamação, a convite do cerimonial do governador. Sua fama correu o Brasil, com matérias em jornais e revistas exaltando sua arte. Em 1951, foi ao Rio de Janeiro preparar um banquete na posse do presidente Getúlio Vargas, no Palácio do Catete.
Com apoio de Genebaldo Figueiredo (vereador antes do Estado Novo), transferiu seu restaurante para o andar superior do antigo Mercado Modelo (destruído por incêndio em 1969), onde consolidou sua reputação como a grande mestra da gastronomia baiana.
Centro Cultural e Gastronômico
O restaurante tornou-se ponto de encontro de boêmios, jornalistas, poetas, escritores, artistas plásticos e políticos. Jorge Amado, Dorival Caymmi, Camafeu de Oxóssi, Mirabeau Sampaio, Carybé, Genaro de Carvalho e muitos outros eram frequentadores assíduos.
Carybé, inclusive, criou a icônica marca do restaurante.
Sua esposa, Nancy, relembra com humor um episódio em que levou amigos que não gostavam de farinha. Maria respondeu prontamente:
— “Se não gosta de farinha, não coma!”
Nancy também destaca que o forte da casa eram os peixes, as moquecas e a galinha. Segundo ela, Maria “tinha uma mão muito boa”.
Cozinha de Prestígio
Internacionalmente reconhecida, Maria de São Pedro recebeu nomes como Stefan Zweig, Pablo Neruda e Orson Welles. Nair de Carvalho conta que, durante a visita de Neruda, ele se surpreendeu com o uso das alvas toalhas de mesa como guardanapos.
Personalidade Forte e Sem Medo de Se Impor
Maria era doce, mas firme. Em 1954, foi convidada a cozinhar no banquete dos 400 anos da cidade de São Paulo. O episódio, relatado por Odorico Tavares no livro Bahia: Imagens da Terra e do Povo, mostra sua força:
“Maria viajou de avião, com ajudantes e uma tonelada de ingredientes: dendê, camarão, malagueta, gengibre, coco, castanha, alguidares e colheres de pau. Chegando à casa dos Matarazzo, começou a dar ordens quando apareceu o cozinheiro francês da anfitriã, Dona Yolanda, querendo bisbilhotar suas panelas. Maria foi direta: ‘Ou o cozinheiro gringo ou eu.’ Dona Yolanda não hesitou: dispensou o francês, e Maria reinou absoluta.”
Na mesma temporada em São Paulo, preparou iguarias para o restaurante “Meninão”, frequentado por baianos ilustres como Caymmi.
Reconhecimento
Jorge Amado, grande amigo e divulgador do trabalho de Maria, escreveu em Bahia de Todos os Santos:
“Maria de São Pedro era uma rainha feita de alegria, bondade e arte. Mestra da maior das artes, a culinária, preservou e engrandeceu a tradição da comida baiana, sua cor, seu perfume, seu sabor divino.
Seu antigo restaurante era uma festa frente à Rampa do Mercado Modelo, que o fogo devorou.
Inesquecível Maria, rainha do vatapá e do efó, do caruru e do abará, das moquecas e dos xinxins, do dendê e da pimenta, da delicadeza e da cordialidade.”
Maria e a Tradição Afro-Baiana
Odorico Tavares reforça a importância cultural da cozinha afro-brasileira:
“Para conhecer a comida baiana verdadeira, não se deve buscar hotéis ou restaurantes finos. Vá à casa de Maria São Pedro, herdeira da tradição da mítica preta Eva. Seu restaurante no alto do Mercado Modelo é entrada modesta e sabor garantido.”
“Qualquer prato é saboroso: vatapá, caruru, efó, moqueca, siri mole. Coma-se sem medo. O siri mole, por exemplo, é uma maravilha.”
Também exaltava os utensílios da tradição afro-brasileira: pilão, pedra de ralar, alguidar, colher de pau, panelas de barro.
Legado
A antropóloga @SabrinaGledhill traduziu o cardápio do restaurante, que trazia um texto de Jorge Amado e outro que narrava sua história. Em 1986, após a morte de Maria, o restaurante reabriu com seu nome e continua em funcionamento, agora dividindo espaço com o restaurante Camafeu de Oxóssi.
Camafeu de Oxóssi
Nascido Ápio Patrocínio da Conceição, foi órfão e trabalhador de rua antes de se tornar figura emblemática da cultura baiana. Tocador de berimbau, poeta, sambista, fundou a barraca de São Jorge e depois seu próprio restaurante. Amigo de Jorge Amado e imortalizado em livros e canções, como a de Martinho da Vila:
“Camafeu, cadê Maria de São Pedro?”
Também cantou em versos:
“Maria é um pedaço da Bahia,
Maria é guisada de simpatia e de tradição.
É a menina pobre de Santo Amaro da Purificação,
Que nasceu no dia de São Pedro.
Maria é rainha,
Primeira-dama da cozinha baiana.”
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