O Ananás, o exotismo das frutas tropicais despertou o olhar dos viajantes

Nenhuma outra fruta tropical, despertou tanta curiosidade aos viajantes europeus dos seculos XV, XVII, XVIII.
a fruta influenciou a cultura, foi usado misturado a areia na pavimentação de barcos, utilizado como tecido, na arquitetura, bem como nas artes decorativas.
Com sua coroa espinhenta, passou a ser chamado, no feminino, de a “rainha das frutas”. Transformado em iguaria de reis e rainhas, o abacaxi foi oferecido como símbolo de hospitalidade a convidados especiais da nobreza também nas cortes européias. 
Quando Cristovão Colombo chegou à Ilha de Guadalupe, no Novo Mundo, o abacaxi foi oferecido aos invasores europeus num gesto de hospitalidade e boas-vindas. 
1578 Jean de Léry: História de uma viagem falsa no mundo do deserto, índios tupinambá (l., Gravura em madeira)


Em virtude de um julgamento um tanto forçado e bastante apressado, a fruta foi considerada semelhante ao fruto do pinheiro europeu, sendo então chamada de “piña”, como é até hoje conhecida nos países de língua espanhola.

1783 Vicente Albán: 'Yndio Yumbo das intermediárias de Quito' (óleo sobre tela, Museu da América, Madri).

Provavelmente nativo do sul da América do Sul, da região onde hoje fica o Paraguai, o abacaxi foi carregado por toda a América pelos guaranis, tornando-se espécie cultivada pelas populações autóctones até a região da América Central e do Caribe muito antes da chegada dos europeus. 

1596 Jan Huygen van Linschoten: Itinerário, viagem de Schipvaert van Jan Huigen van Linschoten naer Oost of Portugaels India (gravura por Johannis Baptista van Doetecum)

Apenas depois de muito tempo de sua chegada a Europa, soube-se que aquilo que costumava ser considerado como uma fruta única não passava de uma ou duas centenas de pequenos frutos aglomerados em torno de um mesmo eixo central: cada “olho” ou “escama” da casca do abacaxi é um fruto que cresceu a partir de uma flor, fundindo-se todos os frutos em um grande corpo, chamado infrutescência, no topo do qual se forma a coroa. 

1690 anônimo (escola inglesa): 'Cultivo de abacaxi grande', de uma descrição de embaixadas para a China

O abacaxi, com o nome de “piña”, foi levado para a Europa como testemunho da exuberância exótica das terras existentes a oeste do Atlântico. 
Espécie de fruto de fácil dispersão e cultivo, o abacaxi cruzou os mares do mundo a bordo de galeões e caravelas, chegando para ficar na África, na China, em Java, na Índia e nas Filipinas. Nesses locais, o abacaxi propagou-se com facilidade e rapidez, tendo sido muito bem aproveitado nos últimos cinco séculos. 
1761 The pineapple at Dunmore Park 

Na Inglaterra, a partir do século 17, iniciou-se o cultivo do abacaxi em estufas especialmente preparadas para manter a temperatura equivalente à temperatura tropical de que a planta necessita para crescer. 
 No transporte do Novo para o Velho Mundo, o abacaxi deixou de ser apenas uma fruta e passou a ser um verdadeiro modelo de beleza e exotismo, representado incansavelmente pelas belas artes, estudado e admirado pelas ciências da natureza. 
c.1745 Joseph Anton Glantschnig: Europa e Ásia (r., óleo sobre tela, Museu Mainfränkisches Würzburg)

Uma imagem que permaneceu misteriosa por muito tempo, até que pudesse ser completamente desvendada pela ciência botânica. 
De perfume forte e sabor variado, ora dulcíssimo, ora bastante ácido, a massa composta pelo conjunto do abacaxi constitui uma polpa refrescante e cheia de caldo. 

Além do consumo ao natural, tais virtudes o recomendam como fruta que se presta à produção de uma grande variedade de doces, tais como compotas, cristalizados, geléias, sucos, sorvetes, cremes, gelatinas, tortas e pudins. 
José Teófilo de Jesus (1758-1847): 'Allegoria de América' (r., Museu de Arte da Bahia)

No Brasil, faz-se também uma bebida, chamada aluá, bastante conhecida e apreciada no Nordeste: deixam-se as cascas do abacaxi imersas em água por alguns dias, até que se processe a sua fermentação.


c.1840 anônimo (escola britânica): 'Senhora com um guarda-sol  e um abacaxi '(r., aquarela sobre papel, Museu Marítimo de Greenwich)

O abacaxi é, seguramente, uma das frutas tropicais mais populares do mundo, sendo muito utilizada no preparo de coquetéis de espírito festivo, tais como a famosa “piña colada”, feita com suco de abacaxi e rum. 


1835 Jean Baptiste Debret: Viagem pittoresque et historique au Brésil vol.2, placa 24

O abacaxi não é fruta calórica, mas seu conjunto contém altas porcentagens de vitaminas A, B e C, assim como carboidratos, sais minerais (cálcio, fósforo e ferro) e fibras. dos restos do abacaxizeiro também se pode extrair a bromelina, uma enzima nobre que ajuda a decompor proteínas, resultando dessa extração um bagaço consistente que pode ser utilizado como ração animal. 

O Brasil é um dos maiores produtores mundiais de abacaxi, com mais de 1400 mil toneladas anuais. As principais plantações brasileiras, responsáveis pela produção de cerca de 850 mil toneladas, estão concentradas na região do Triângulo Mineiro (Minas Gerias) e nos estados da Paraíba e do Pará. 

Outras regiões do país também são responsáveis pela produção de grandes quantidades de abacaxis: no Nordeste, destacam-se a Bahia, o Rio Grande do Norte e o Maranhão; no Sudeste, São Paulo (municípios de Araçatuba e Bauru), Rio de Janeiro e Espírito Santo; no Centro-Oeste, Goiás; e no Norte, o Estado de Tocantins. No entanto, apesar de manter uma área de cultivo bem maior que os outros países produtores, o Brasil ainda não detém completamente as técnicas que permitem a alta produtividade obtida nos abacaxizais da Costa Rica, Bélgica, França, África (Costa do Marfim e Gana), dos Estados Unidos , Tailândia e Filipinas.


O exotismo das frutas sempre chamaram a atenção dos viajantes

As narrativas de viagem elaboradas por viajantes no novecentos são fruto do deslocamento físico de um determinado grupo humano, por espaço geográfico e tempo determinado: mas isto não é uma novidade da modernidade. Desde os tempos antigos, os homens se colocavam nessa função, constituindo-se eles próprios em elementos épicos. Na idade moderna, culturas e civilizações de todo o globo tornaram-se contemporâneas, através das inúmeras viagens que foram então realizadas; o Novo Mundo se tornou “lugar privilegiado de contatos, trocas e interações culturais e civilizatórias, permeadas por relações de conquista, dominação ou extermínio” 
 No século XIX que os jardins botânicos e os museus se apresentam como um imenso livro da natureza, uma vez que dos quatro cantos do mundo, o viajante recolhe mudas, sementes, animais exóticos e minerais preciosos, cujo inventário revela a imagem de uma natureza inesgotável e de variedades infinitas; milhares de exemplares foram registrados por jardineiros e botânicos, estudiosos da geologia, zoologia e meteorologia desse período. 
 Os anos de 1780 a 1830 foram privilegiados para as ciências naturais que vai, aos poucos, conquistando um lugar como disciplina acadêmica. O contato direto com a natureza era considerado elemento importante para o bem estar e a moral dos cidadãos, contribuindo para a reforma intelectual por que passava a sociedade naquele momento. 
Neste contexto, o Museu, como instituição, se torna o local privilegiado de exposição e provimento do conhecimento e saber da pátria. 
 À medida que centralizava profissionais e informações, os interesses passavam da ordenação e classificação das espécies aos aspectos internos de funcionamento dos sistemas fisiológicos.

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