A Feira de São Joaquim é o maior entreposto popular da cidade de Salvador, Bahia.

A mais tradicional feira livre tem suas raízes fincadas na cultura de matriz afro baiana, destinada para a população de baixa renda, e a comercialização de um sem numero de produtos, provenientes do recôncavo, a feira ainda hoje atende a um bom numero soteropolitanos, bem como a um bom número de turistas e interessados na cultura baiana. 
Foto: Marcel Gautherot
Fundada ha mais de 60 anos a feira de São Joaquim que antigamente era conhecida como Feira do Sete, era uma feira móvel bastante movimentada e localizada nas proximidades do comércio.
Com o desenvolvimento do Porto de Salvador e com o crescimento desordenado da Feira fez com que houvesse a mudança de local e de nome.

"As feiras existem como centros de trocas, há milênios e todas as culturas do mundo desenvolveram esta forma de circulação de mercadorias. Sejam elas fixas ou permanentes, em terra firme ou flutuantes, se constituíam não só em territórios especializados no abastecimento de gêneros essenciais à vida, mas possibilitavam o encontro regular de produtores e consumidores de mercadorias, se convertendo em fervilhantes centros de troca de experiências e vivências humanas."
Márcia Regina Da Silva Paim 
DO SETE A SAO JOAQUIM: O COTIDIANO DE "MULHERES DE SAIA" E HOMENS EM FEIRAS SOTEROPOLITANAS (1964-1973)

Nos primórdios da Feira de São Joaquim, encontramos a Feira dos Sete, (ficava ao lado do sétimo armazém das Docas no extenso areal que ia da Jequitaia até o 71 Armazém). 
O local foi obrigada a ceder seu espaço em nome do progresso, como disse, José Martins: 
"A Feira do Sete teve que mudar porque as coisa foro evoluano, teve que fazer o comelcio grande né?". 
Os feirantes do Sete foram obrigados a se deslocar para a enseada de Água de Meninos, local onde já existia uma feira móvel , desde o século XVII. 
Nos anos 20 do último século XX, vendedores e vendedoras de frutas e doces viviam atormentados pelo dispositivo do Código de Posturas, que estabeleceu que era terminantemente proibida a venda ou exposição de frutas que não estivessem devidamente amadurecidas, e que só deveriam ser comercializadas em mercados ou locais não expostos aos raios solares. 
Alguns especulam que o fogo teve caráter criminoso, devido a urbanização e do que para alguns historiadores ficou conhecido como a “desafricanização” da cidade. 

A Feira do Sete era montada todos os dias, o que vinha ser um inconveniente para a Prefeitura que tinha que lavar o lugar chovesse ou fizesse sol. Em conseqüência, havia sempre rumores de que um dia aquela feira iria acabar, o que veio acontecer. 
Determinada manhã, os fiscais da Comuna impediram a montagem das barracas, bancas, etc.. 
Houve protestos, mas a decisão era para valer.
Determinado grupo de barraqueiros resolveu montar seus equipamentos num terreno mais adiante onde ficavam os tanques de gasolina das empresas distribuidoras. Essas ficavam próximo ao mar que chegava até ali. Optaram por um espaço mais próximo da Avenida Jequitaia, onde o público teria um acesso mais fácil. Não houve reação da Prefeitura e das empresas. Foram ficando, inclusive sem a necessidade de desarmar as barracas ao fim da tarde. A cada dia o número de feirantes crescia e em pouco tempo era mais de duas centenas. Estava estabelecida a Feira de Água de Meninos. 
A Feira do Sete era montada todos os dias, o que vinha ser um inconveniente para a Prefeitura que tinha que lavar o lugar chovesse ou fizesse sol. Em conseqüência, havia sempre rumores de que um dia aquela feira iria acabar, o que veio acontecer.
Numa manhã, os fiscais da Comuna impediram a montagem das barracas, bancas, houve protestos, mas a decisão era para valer.
Um grupo de barraqueiros resolveu montar seus equipamentos num terreno mais adiante onde ficavam os tanques de gasolina das empresas distribuidoras. 
Essas ficavam próximo ao mar que chegava até ali, optando por um espaço mais próximo da Avenida Jequitaia, onde o público teria um acesso mais fácil. 
A esta ocupação não houve reação da Prefeitura e das empresas, e os comerciantes foram ficando, inclusive sem a necessidade de desarmar as barracas ao fim da tarde, a cada dia o número de feirantes crescia e em pouco tempo era mais de duas centenas. 
Estava estabelecida a Feira de Água de Meninos. 

Uma ferramenta muito eficaz na repressão aos vendedores populares, foi o Código de Posturas Municipais, editado no início de 1920 era o principal instrumento para regular o cotidiano de mulheres e homens pobres, que vendiam nas ruas ou em estabelecimentos comerciais de pequeno porte, onde além da além da matrícula, onde mulheres e homens também tiveram que atentar não só para as taxas, mas para as localizações a serem obedecidas e os demais ditames do novo Código, específico para cada segmento de negócio.


Neste sentido, os feirantes e os trabalhadores dos mercados teriam que observar os locais, os horários e os dias para a venda exclusiva a retalho, de frutas, plantas vivas ou mortas e gêneros de primeira necessidade, previamente permitidos pela Municipalidade Sua importância é vital para o comércio, cultura e favorecimento dos menos abastados, devido aos bons preços.

Da Feira do Sete, passando por Água de Meninos ate chegar a Feira de São Joaquim.
Criada na década de 1960, depois da destruição da antiga feira de Água de meninos em 1966, devorada pelo fogo, São Joaquim abriga inúmeros trabalhadores informais que descendem dos africanos escravizados. 
Após ser destruída por um incêndio passou a ser a atual Feira de São Joaquim, além de ser um ponto diversificado de venda e centro de abastecimento para o comércio da cidade, a feira contribui para a economia da cidade, pois é responsável por gerar emprego para a população de Salvador, já que mais de sete mil pessoas trabalham no local. 

Seu nome, “Água de Meninos” foi objeto de divergência entre vários autores. 
Segundo Afrânio Peixoto, em seu Breviário da Bahia, cita Serafim Leite para afirmar que a primeira sesmaria cedida para a Companhia de Jesus era denominada de Água de Meninos , e ficava na baixa praia , ao norte da enseada , provida de nascente de boa água. 
Entretanto Álvaro do Amaral, tem entendimento diferente é também citado por Peixoto , segundo o qual:
"uma nascente de copiosa água , que corria até à baixa, quase à beira mar, formando ali um grande lago, onde costumava banhar-se diariamente grande número de meninos, vindos até de longe, tomando por isso o lago o nome de Água de Meninos". 
Peixoto, entretanto, não concorda com Amaral, ao afirmar que esta era uma interpretação adaptativa visto que "nem havia crianças, ao tempo, para isso, nesses matos". 

O historiador Cid Teixeira, por sua vez, afirma que o termo tem origem em Cristóvão Aguiar Daltro, uma vez que fazia parte do patrimônio que este doou para a Companhia de Jesus - um engenho d'água, posteriormente denominado de Engenho d'Água dos Meninos dos Padres da Companhia de Jesus, localizado no espaço onde funcionou a Feira de Água de Meninos, até sua extinção.

Dimensões da Diversidade 
“A Feira da Água de Meninos, uma das mais populares de Salvador da Bahia, abastecia as casas de família e os armazéns da capital com produtos vindos do Recôncavo em rústicas embarcações que se chamavam saveiros. 
A Feira imortalizada em filme. Feira que lambia as águas da Baía de Todos os Santos e onde se encontrava de tudo, desde a farinha de tapioca de Santo Antonio de Jesus a cestos de mangas de Amoreiras, dos artigos religiosos às pimentas e manteigas em garrafas. E lá presentes, gente de cor e suor.“ 
Pierre Verger. 

A feira localizada na Cidade Baixa entre a Baía de Todos os Santos, no bairro do Comércio, possuindo uma área de 35 mil m², tem na sua “desorganização organizada”, uma clara referência a feira Africana, nos Zouks Árabes, sua multiplicidade de oferta e grande concentração de gentes populares, marreteiros, vendedores casuais, demonstram a singularidade da diáspora, fruto de séculos de fluxo entre África e Bahia. 
foto @Lazaro Roberto

Se seu tamanho impressiona, imagine então a variedade dos produtos comercializados. 
Grande entreposto de itens da culinária baiana com diversos alimentícios como legumes, verduras, frutas, carnes, peixes, temperos e ingredientes típicos como azeite de dendê até artesanato como peças em cerâmicas, esteiras e balaios.

Produtos para casa como panelas e vestuário em geral também podem ser encontrados na feira, além de artigos religiosos como de candomblé e ervas. Sem falar de animais como galinhas e até bodes. 
Ladeira de São Francisco de Paula, que dá acesso à Lapinha. A Feira foi destruída por um incêndio em 1964. O local é ocupado, hoje, pelo terminal de contêineres do Porto de Salvador.

Segundo Odorico Tavares, a Feira de Água de Meninos era a "Feira dos Mil Produtos", pois ali de tudo se transportava, se comercializava e se comia: 

"Todos os dias a feira prossegue (...). Os barcos chegando e saindo, são saveiros que vêm de todas as partes do Recôncavo. Trazem os mais variados produtos da terra baiana; bananas em cachos semiverdes, laranjas, cerâmica, aipim, os quiabos para os mais coloridos carurus, a pimenta malagueta de fascinantes efeitos: cana-de-açúcar de Santo Amaro; abóboras, tomates e pimentões; montes de verduras junto aos garrafões de dendê de todas as comidas; até as gaiolas de pássaros que não sabemos se cantam, até o louro imponente e malicioso no seu alto poleiro. 
Até o sagüim ali exposto pelo menino que vende, quem sabe, com lágrimas nos olhos, pela necessidade do dia difícil que passa...” 

Outro que contribuiu com seu olhar pitoresco sobre a diversidade da Feira de Agua de Meninos, foi o artista Carybé, (As Sete Portas da Bahia. 48 ed.Rio de Janeiro: Record, 1976. p.103-104. 
Carybé numa roda de Capoeira @Carybé

Nascido em Bueno Aires, aportou na capital, na segunda metade dos anos 30 do século passado, o artista, tornou-se cidadão baiano, e teve como fonte de inspiração as cenas do cotidiano da cidade do Salvador, as praias, as feiras, os mercados, enfim, locais onde o `povo' estava.

Em sua obra, As Sete Portas da Bahia, ao discorrer sobre a Feira de Água de Meninos detalhou:
"Barracas, divididas por becos, ruelas, passadiços, formigando de gente, de saveiros, de jegues , frutas, legumes , jabá, cestas e tamancos, camarão seco e raladores de coco, fifós, cana e farinha de guerra [...]. Cerâmica de todo Recôncavo. De todos os feitios e para todos os usos [...]. Mercam-se ali panelas de alumínio, bacias, canecos e bules [...]. Banha de jibóia para reumatismo, canela de ema para asma e folhas, cascas e paus [...]. Para andar com um sossego relativo é preciso passar às estreitas ruas entre barracas, ali o espetáculo humano é inesgotável, as mulheres do carimã peneirando puba, sumidas no cone de sombra dos seus enormes chapelões, quando mercam deixam ver seu riso tão branco como o cubinho de goma que estão oferecendo [...]. Há barracas especializadas em passarinhos [...]. Há montanhas de cachos de banana, de laranja, de pinhas, de limas e cana-de-açúcar."

Ainda hoje a feira e o principal distribuidor dos artesanatos de barro, alguidáres, cuscuzeiros, potes produzido no recôncavo baiano, frutas da estação, temperos e insumos para agricultura e pecuária, tecidos e elementos africanos, venda de produtos para rituais de candomblé, como folhas de toda ordem, orobôs, aridans. obis, gervão, bem como a oferta de restaurantes e bares populares debruçado sobre a baia de todos os santos.

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