O que as PANCs tem a dizer sobre os povos originários brasileiros?

A sigla P.A.N.C ( Plantas Alimentícias Não Convencionais) foi cunhada pelo biólogo Valdely Knupp, elas são uma referencia cultural e étnica, e fazem parte de um complexo sistema, muito mais abrangente, que envolve as inter-relação: de ancestralidade, ecológicas, evolucionárias, simbólicas, e dizem respeito a nossa soberania alimentar. 


Oficina da Rede PANCs Bahia-Litoral Sul

Muitas destas plantas tem rico potencial nutritivo, e sempre fizeram parte da alimentação do brasileiro, em vasto receituário da culinária baiana, do Pará, Maranhão, etc.

Acredita-se que mais de 10 mil plantas de diversos biomas brasileiros, sejam comestíveis. 
Por seu baixo custo e fácil de ser encontrada muitas destas plantas significam uma alternativa a alimentação de muitas comunidades. 

Com a proliferação de alimentos processados, muitos destes alimentos foram deixados para traz, o que não significa que foram esquecidas. 
A utilização de plantas medicinais e alimentícias em rituais no Brasil é uma prática comum resultante da forte influência cultural dos indígenas locais miscigenadas as tradições africanas, oriundas de três séculos de tráfico escravo e da cultura européia trazida pelos colonizadores. 
Efó prato tipico da Culinária Baiana

Muitas desta tradições chegaram por força da escravidão, na África o Babalosanyin ou Olosanyin da mesma forma que o Babalawo e o Babaogé é a pessoa encarregada de colher as ervas, também chamada de folhas sagradas usadas tanto na religião de Òrisà, na de Orunmila-Ifa e no Culto aos Egungun. 
Para ser um Babalossanyin a pessoa precisa de muitos anos de dedicação no aprendizado, ter memória privilegiada para guardar os nomes das plantas, formatos, horário da colheita, cantigas de cada folha, segredos, efeitos e aplicações. Kosí Ewé, Kosí Òrisà Não tem folha, não tem Orixá. 

A cultura indígena brasileira, também é rica em conhecimento sobre os poderes medicinais da natureza, não apenas sobre cada tipo de erva ou planta. 
Segundo Renato Athias, não existe um consenso, ou um discurso unificado, entre os povos indígenas com relação às plantas medicinais. Existem diferentes concepções, todas elas resultado de centenas de anos de uso e de observação. 

No caso dos povos Tukano e Hupd’äh, da Bacia do Rio Uaupés (Amazonas), a terapêutica e a prática da medicina tradicional têm uma ênfase muito grande no uso das palavras encantadas. Se cura muito mais com essas fórmulas, que as pessoas chamam de benzimentos. 

Não se pode dissociar o uso das plantas das palavras encantadas, que são de conhecimento mais limitado de especialistas e terapeutas tradicionais, comumente chamados de pajé. As palavras encantadas são um conjunto de práticas rituais que vão desde um simples pedido de proteção até as práticas mais complicadas de feitiçarias e malefícios. 

Todas as práticas de cura são realizadas e mediadas pela palavra. Este termo é traduzido como “sopro”, em alusão à forma como o especialista recita as fórmulas, num sussurrar de palavras. 
Na linguagem regional, o termo “soprar” está associado à prática xamânica. 
O pajé geralmente usa uma pequena cuia onde é colocada água ou alguma erva para a pessoa ingerir, ou passar no corpo. 
Também na cultura Iorubá, se encontram presentes os encantamentos das folhas, estes encantamentos são chamados ọfọ̀.
O Ofó é uma palavra de origem yorubá (ofò), que designa o encantamento através da palavra, que pode ser expressa por versos ou cantigas. 
Um dom que já nasce conosco, porém é maximizado na iniciação, por uma série de atos realizados em segredo e conforme o seu comprometimento e respeito pelo Orixá, esse poder aumenta. 
Os Ofó são usados para desejar graças ao próximo, para pedir saúde e interceder na hora de um grande perigo, não jogue esse dom divino ao vento por besteiras ou pedrinhas do dia a dia. 
O axé é algo precioso e deve ser usado com prudência, ou então de tanto invocar o espiritual para resolver besteiras, vai chegar uma hora que estará desacreditado e sua palavra não terá valor nem para os homens, nem para os deuses. 
Ofós também são as rezas para Òsányìn com a intenção de despertar o àse contido nas folhas e esse ritual pode ser cantado em vários momentos do culto à òrìsà.


Ciência; Ancestralidade; Soberania; Alimentar 
É um vídeo produzido pela REDE PANC BAHIA é uma articulação de instituições, profissionais e movimentos sociais com o propósito de valorizar e difundir as PANCs no Estado da Bahia. 
 A Rede tem como principais ações organizar encontros para trocas de mudas e sementes, conservar sementes, apoiar hortas comunitárias e divulgar o tema em espaços educativos. 
A REDE PANC BAHIA  é composta atualmente por uma equipe que envolve professores, pesquisadores, técnicos e estudantes, além obviamente de comunidades e agricultores urbanos e periurbanos. O vídeo foi produzido pela Mangaba Productions

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