Eduardo Athayde: 'Inovação no cacau da Mata Atlântica'

'A região cacaueira, imaginada como Floresta de Chocolate, vive um momento de mudanças intensas' 

















Quando o WWI-Worldwatch Institute, na virada do milênio, publicou internacionalmente estudo sobre a Mata Atlântica da região cacaueira da Bahia, batizando-a de “Floresta de Chocolate”, única no mundo, onde a matéria- prima do chocolate é produzida com recorde de biodiversidade no planeta, registrado pelo Jardim Botânico de Nova York, a prefeitura nova-iorquina iniciava o levantamento de cada uma das suas 683.113 árvores. 
Hoje, os cidadãos de Nova York conhecem o valor econômico individual das suas árvores, sabem que cada uma reduz a temperatura sob sua copa em cinco graus centígrados, joga no ar 150 mil litros de água por ano e produzem serviços anuais avaliados em US$ 111 bilhões (tree-map.nycgovparks.org); um padrão que está sendo seguido por várias cidades do mundo que plantam florestas urbanas visando a melhoria do ar, do clima local e da qualidade de vida dos seus cidadãos. 

Com a força das redes sociais, o mundo parece ter ficado pequeno e a biodiversa Mata Atlântica, antes pouco percebida, vem recebendo influência direta dessas inovações. O Centro de Inovação do Cacau (CIC), por exemplo, que será inaugurado esta semana na Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), em Ilhéus, é a parte concreta do projeto do Parque Científico e Tecnológico do Sul da Bahia, idealizado conjuntamente pela Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), Ceplac, Uesc, Secti, Instituto Arapiaú e outras instituições. 
Focando a cadeia produtiva do cacau e a economia florestal, o CIC, formado por acadêmicos e empresários, analisará propriedades físico-químicas do cacau e do chocolate, a qualidade de sementes e mudas das biofábricas de essências da Mata Atlântica, fomentando a indústria do reflorestamento que, cobiçada por investidores, floresce impulsionada pelo robusto mercado financeiro internacional interessado em ativos florestais. 
Na era da “economia”, oficializada pelo Acordo de Paris e já legalmente adotada pelo Brasil, a preservação, além de uma imperiosa necessidade, passou a ser analisada também por parâmetros econométricos da precificação e monetização (restaurar 12 milhões de hectares de florestas até 2030 - bit.ly/2cHvxT8). 
Observando o senso de oportunidade, o CIC nasce como elo local desta inovadora rede global, posicionando-se, com linguagem nova, como uma espécie de “porta USB” de alta velocidade aberta a conexões de pesquisa, geração de conhecimento e econegócios. Integrado a iniciativas como a Plataforma Brasileira sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (bpbes.net.br), que tem a missão de produzir conhecimento científico e saberes tradicionais sobre biodiversidade e serviços ecossistêmicos - onde o cacau se inclui - o CIC nasce como parceiro natural do Programa Fapesp de Pesquisa em Caracterização, Conservação, Restauração e Uso Sustentável da Biodiversidade (Biota-Fapesp), apoiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e alinhado com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) que lançou a Campanha da Fraternidade 2017 com o tema “Biomas Brasileiros e a Defesa da Vida”. 
A imaginação é mais importante que o conhecimento, afirmava Albert Einstein. 
Nesta linha, a Fazenda Futuro, localizada em Buerarema, base das pesquisas do WWI no final do século passado - e agora cliente do CIC - está sendo usada por pesquisadores parceiros do WWI, da floresta urbana de Nova York e do Smithsonian Institute como referência para um projeto piloto de fazenda do futuro, conectado com universidades e centros de pesquisas do mundo. 
Com a quebra de fronteiras e os espaços abertos pelas redes sociais, a região cacaueira, imaginada como Floresta de Chocolate, vive um momento de mudanças intensas observadas na metáfora da crisalida, quando a lagarta não mais existe, e a borboleta ainda não nasceu. 


A senadora Lídice da Mata (PSB-BA) da Bahia, comemorou a inauguração, em Ilhéus, do Centro de Inovação do Cacau, no Parque Científico e Tecnológico do Sul da Bahia. 
O centro, segundo a senadora, vai fortalecer a cadeia produtiva do cacau por meio de análises para melhorar a produtividade, a rastreabilidade e a qualidade das amêndoas de cacau. 
Lídice da Mata aproveitou para pedir a votação de seu projeto que estabelece o mínimo de 35% de amêndoa de cacau na composição do chocolate fabricado no Brasil. 
 A senadora explicou que esse índice é referência em todo o mundo e, portanto, poderá dar competitividade ao produto nacional no mercado internacional. Ela ainda defendeu a criação do selo “Chocolate do Sul da Bahia”. 
- São essas agregações de valor e esse debate sobre a produção local que poderão fazer com que nós passemos de um momento da economia voltado para a monocultura exportadora do cacau para uma agregação de valor na cadeia produtiva, que é a produção do chocolate, o chocolate da Bahia, e mesmo o cacau de melhor qualidade, com maior produtividade, que seja feito não apenas do nosso estado, mas maior produtividade em todo o país - afirmou.

*Eduardo Athayde é diretor do WWI-Worldwatch Institute

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