Figo-da-índia está na moda em Portugal

Afinal, é um cato suculento de onde tudo se aproveita, depois de vencida a agressividade dos picos. Certo é haver já um grupo de 60 amigos do figo-da-índia que se constituíram em associação (APROFIP), com sede em Alcoutim, embora ainda só 15 tenham optado pelo cultivo profissional, com uma média de 5 a 10 hectares por exploração, revela José Alves, vice-presidente da associação e consultor agrónomo para o cultivo da planta.


A sugestão é conhecer o trabalho desenvolvido por grupos como a Comunidade de Opuntias e Pitaias de Portugal, sempre com boas informações sobre o tema.

A prova de ser tudo muito recente reside na idade da exploração mais antiga: tem quatro anos, quase o tempo necessário para a planta atingir a maturidade. É em Sesimbra. Para a maior parte dos produtores ainda se trata apenas uma atividade acessória, mas promissora, dada a multiplicidade de usos viabilizados pela planta, bem conhecida da civilização Azteca, a ponto de se manter como um dos símbolos na bandeira do México. Estima-se que tenha chegado à Europa por volta do séc. XVI, nessa altura, com especial importância em Espanha.

Cultiva-se como quem planeia um campo de plantas em fila, com as palmas semi-enterradas que depois se multiplicam até formarem o arbusto como o conhecemos. Também dá para sebes, além de ter a nobre missão de evitar a erosão dos solos ou permitir a sua recuperação e também como corta-fogo. Dá-se bem com o calor, mas é hipersensível às temperaturas negativas.

A colheita, entre agosto, setembro (principalmente) e outubro, é a fase mais arrojada para os produtores: são precisas luvas especiais, óculos e roupa de proteção. Tem de ser de madrugada, enquanto os picos estão húmidos (com o calor, os poros presentes na casca do fruto dilatam e assim eles saem com mais facilidade), e a favor do vento, para não existir a possibilidade de os picos voarem em direção à pessoa que está a colher. O fruto apanha-se com um pouco de cato, mas tem de ser submetido aos cuidados de uma máquina para ficar sem picos. Daí vai para câmaras frigoríficas para melhor se conservar. Chega ao mercado fresco ou segue para transformação.

A própria flor é comestível e seca dá para infusões. Já as palmas, além de poderem ser usadas em compotas, sumos e picles, também dão para a produção de biogás, espessantes, corantes e forragem para animais. Há quem aproveite as características dos compostos na construção como elementos de ligantes. Até o parasita seu hospedeiro, a cochonilha, é usado como pigmento, para acentuar a cor vermelha a refrigerantes, por exemplo. Atrai igualmente abelhas, com efeitos garantidos na polinização e produção de mel. Já as sementes podem ser usadas para a extração de óleo com fins cosméticos.

Em Portugal, apesar da apetência espontânea da planta pelos climas áridos e semi-áridos, estão em estudo produções em Guimarães, Mirandela e Castelo Branco, mas serão exceções face às soluções já implementadas mais a sul. Há o caso de Serpa, onde há três explorações. Numa delas fazem-se doces e compotas. Em Arraiolos, existirá uma unidade de transformação para a extração de polpa dos frutos e óleo das sementes. Em Portalegre produzem-se forragens, e em Sesimbra dedicam-se ao fruto em fresco, às flores secas, licores e compotas.


No último outubro até houve o Festival do Figo da Índia, em Portimão, um sinal da boa fibra que está a contagiar produtores e simpatizantes.


A primeira exploração em Portugal


Quando em 2008 Mário Gonçalves se apercebeu que o país ia por "um rumo menos saudável", decidiu seguir o caminho do figo-da-índia, que o haveria de levar a Itália, o país europeu da atualidade com mais conhecimento da cultura. Contactados vários pomares sicilianos, obteve o "know how" e importou as espécies a explorar no hectare que tinha em Sesimbra.


Criou a Cactacea e teve de lidar com o espanto de quem via a terra de cultivo ser ocupada por uma planta silvestre. Superou as críticas com a convicção de ter feito a opção correta. Criou uma máquina para limpar a fruta, investiu nas câmaras frigoríficas e na transformação: faz compotas, licores e seca as flores para infusão. Cultiva quatro variedades e trata delas apenas com a ajuda da família. Aos 47 anos, tem a sensação de dever cumprido por ver que conseguiu credibilizar a produção. Foi, aliás, um dos fundadores da APROFIP. "Posso morrer descansado porque contribuí com algo diferente para a agricultura portuguesa", sintetiza.

Licor de Figo da India

Ingredientes

- 1 l de álcool de 90 vol. de teor alcoólico

- 750 ml de água

- 500 g de açúcar

- 10 figos-da-índia picados (com casca)

Modo de Preparo

1. Em um frasco de vidro com tampa hermética, coloque a fruta e o álcool e macere.

2. Deixe descansar por dez dias, agitando-o de vez em quando.

3. Após esse tempo, quando o álcool ficar um pouco amarelado, retire os figos.

4. Leve os pedaços da fruta ao fogo baixo em uma panela com o açúcar, até derretê-los.

5. Espere esfriar e volte ao frasco com o álcool.

6. Deixe por mais 20 dias, mexendo às vezes, e coe.

7. Sirva bem gelado.

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