Pequeno Dicionario da Cozinha Baiana

Verbete-A Avoador
Avoador é um biscoito salgado típico do estado da Bahia, muito parecido com o biscoito de polvilho, numa licença poética, tem esse nome devido a sua leveza e textura etérea. 


















Se fizermos um breve estudo sobre por que o sertanejo utiliza o nome Voador ou Avoador, encontramos =vo.a.dor, que ou o que voa, rápido, veloz, tudo isso tem em sua raiz de significados o sucesso que faz estes biscoitos 
Outras palavras podem remeter ao desejo subjetivo dos Avodores, como Voar que vem do latim Volare, do Francês volée, “vôo” ou mesmo Volátil, podemos até arriscar avoado, com o significado de uma pessoa “distraída, confusa, atrapalhada”. A mandioca foi espalhada pelo mundo por europeus colonizadores no século XVIII, e é considerada, nos dias de hoje, um alimento importante para os países produtores. 
Segundo Câmara Cascudo, os biscoitos de polvilho no século XVIII o biscoito de polvilho, já era servido a senhores de fazenda em Minas Gerais, sendo preparado pelas próprias cozinheiras das fazendas. 
O biscoito data desde a idade da pedra, quando o homem comia grãos com os dentes, contudo, começou a moê-los em pedras e amassá-los com água e secá-los ao fogo, criando uma massa dura e seca, cuja forma assemelhava-se com os biscoitos atuais. 

A popularidade do biscoito aumentou rapidamente, (meados do século XVII), quando na Europa, começou-se a adicionar chocolate ou chá ao biscoito. 
Criando o sabor e aroma, desde então para estimular as suas vendas, investiam-se os mais variados tipos de gostos e aromas. A titulo de conhecimento o Biscoito é obtido pela mistura, amassamento e cozimento conveniente de massa preparada com farinhas e outras substâncias alimentícias. "Biscoito", foi o termo usado para descrever o pão cozido por duas vezes, com a finalidade de conservá-lo por mais tempo sem estragar. A origem está em duas palavras francesas: "Bis" e "Coctus" , significando "cozido duas vezes". 
Avoador uma tradição baiana.
Terra do geografo Milton Santos, Macaúbas está situado na região central do estado da Bahia, na chamada Zona Fisiográfica da Serra Geral, Chapada Diamantina Meridional.  Faz limites, ao Norte, com os municípios de Boquira, Paratinga e Ibipitanga, ao Sul com Botuporã, Tanque Novo, Igaporã, ao Leste com Rio do Pires e a Oeste com Riacho de Santana. 

Fica a 682 km da capital baiana Salvador. 
Outro município onde o Avoador faz sucesso é Vitoria da Conquista, no sudoeste da Bahia, se destaca na produção de biscoitos de polvilho artesanais e industrializados, existem diversos sabores do biscoito, pros mais diversos paladares: queijo, doce, goma, linhaça, gergelim, milho, erva-doce... e muitos outros.

Confira:

Receita de Avoador, é passada de mão para filha.

Biscoito fino pras massas 

O Avoador é feito com a goma ou polvilho azedo, a Goma é extraída da mandioca, desde o século XVI com a criação portuguesa da Casa de Farinha em Itamaracá. 
A farinha de mandioca tinha um lugar de importância nos mercados atlânticos desde o século XVII, um produto que ganhou maior proporção durante os séculos XVIII e XIX, considerando que a farinha de mandioca tornou-se uma das mercadorias que tinha lugar no valioso mercado atlântico, cuja função entre outras, era a sua comercialização nos complexas atividades econômicas protagonizadas pelo tráfico africano de escravos. 
A farinha de mandioca como destacada atividade econômica do Rio de Janeiro e suas conexões com o mercado africano também foi citada por Luís Felipe de Alencastro: 
"Navios de Lisboa embarcam mandioca no Brasil, em geral no Rio de Janeiro, antes de rumar para os portos africanos. 
Exportando a produção fluminense e vicentina, a baía de Guanabara enviava cerca de 680 toneladas anuais de mandioca para Angola na primeira
década do século XVII. Entregue do outro lado do mar – numa conjuntura em que os assentistas deportavam um número crescentes de escravos e aumentavam o consumo de gênero alimentícios em Luanda –, a farinha de mandioca brasileira valia quatro vezes mais." 

A farinha não era um produto exclusivo do recôncavo baiano, seu processamento era uma atividade já realizada pelos nativos que viviam no Brasil antes da chegada de portugueses e africanos. 
Entretanto, ao longo do processo de colonização portuguesa a produção de farinha foi aperfeiçoada e ampliada, tornando um lugar comum em todo o território da colônia portuguesa na América. 
Com a consolidação do comércio atlântico em suas diferentes conexões, a farinha atravessou os mares e chegou aos mercados africanos.
Para isso, seus estudos se voltaram para uma história de agricultores escravistas que se adaptaram às condições locais, às exigências de lavouras específicas e aos mercados locais e externos, revelando a paisagem de um recôncavo rural com características complexas e variadas no que se refere a sua organização econômica e social. 
Para ampliar o conhecimento sobre o passado escravista colonial do Brasil, o estudioso B. J. Barickman se debruçou sobre farta documentação original voltada para um estudo sobre a diversidade econômica do recôncavo baiano, de forma que tenha percebido a importância do comércio atlântico, onde se destacava a produção açucareira e a produção fumageira. 
Contudo, foi sua percepção da envergadura produção da farinha de mandioca no abastecimento de um comércio local e regional, pois tal mercadoria era a base da alimentação cotidiana da Bahia e seus arredores. 
Assim, a farinha de mandioca tinha um lugar de produção e de consumo no âmbito das fronteiras baianas. 
No final do século XVIII, na vila de Jaguaripe, região do Recôncavo Baiano,havia uma considerável preocupação com o controle da farinha de mandioca. 
João de Souza Eça, capitão mor daquela localidade, expediu diferentes ofícios ao governador da Bahia pedindo instruções sobre “os objetos relativos a farinha de mandioca e sobre a extração que fazem os lavradores da goma das farinhas de mandioca com total prejuízo”.
Após sete anos, já no ano de 1781, o capitão mor já não era mais o mesmo. 
Naquele momento respondia pelo cargo de capitão mor de Jaguaripe, Antônio José Calmon, entretanto, a preocupação era a mesma. 
Em 07 de maio daquele ano, houve a expedição de um ofício para o governador da província da Bahia procurando instruções sobre “o preço da mandioca”. 
Para B. J.Barickman no recôncavo baiano a farinha era considerada uma produção irrelevante e periférica no que se refere ao mercado atlântico. Contudo no recôncavo do Rio de Janeiro não havia nenhum vestígio de produção fumageira, a produção de açúcar e de aguardente era insignificante, sendo a produção de mantimentos o fundamento econômico da região. 
Os mantimentos produzidos mostram uma grande desproporção, entre os produtos consumidos localmente (arroz, feijão e milho) e a farinha. 
Os escravos africanos utilizados na produção de alimentos no recôncavo da Guanabara não poderiam ser adquiridos na troca de qualquer outra mercadoria, porque elas não existiam na região. Neste sentido, a farinha era o único produto oferecido pelo recôncavo ao mercado atlântico. 

A Goma é obtida a partir da mandioca ralada e batida no liquidificador, para conseguir isso deve-se descascar, cortar em pedaços pequenos e bater no liquidificador com um pouco de água, depois passe esse líquido por uma peneira e em seguida a fibra por um pano e torça até extrair apenas um líquido mais fino, nessa etapa não interessa em nada a fibra da mandioca que ficará no pano. 
Depois de extrair o líquido, o processo será deixar em um recipiente por cerca de 3 horas, até que o polvilho sedimente no fundo e um líquido de tonalidade amarelada fique por cima, esse líquido é chamado de tucupi, que também não será utilizado, já que o objetivo agora é apenas a obtenção do polvilho (goma) que ficará sedimentado no fundo. 

Escravidão, farinha e tráfico atlântico: um novo olhar sobre as relações entre o Rio deJaneiro e Benguela ( 1790-1830)

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