Pequeno Dicionario da Cozinha Baiana

Verbete C-Caruru de Oyá
A religiosidade do povo baiano deveria servir de exemplo de tolerância ao mundo. Em que lugar do planeta uma santa católica comunga a mesma identidade de uma entidade essencialmente africana? 
É assim, no dia 4 de dezembro, que católicos, adeptos do candomblé, umbanda e outras religiões celebram Santa Bárbara e Iansã numa das festas mais disputadas do calendário religioso de Salvador. Iniciada, como em outras festividades religiosas, com uma alvorada de fogos às 5 horas da manhã, acontece na Igreja de Nossa senhora do Rosário dos Pretos uma missa às 7 horas. Devido ao numeroso público, é realizada também uma missa campal. Finalizando os festejos, a imagem de Santa Bárbara deixa a igreja seguindo em procissão até o quartel de bombeiros na Barroquinha, onde faz uma parada para seguir adiante até o Mercado de Santa Bárbara onde é servido um caruru para a população. O caruru de Santa Bárbara é realizado em diversas localidades da Cidade, alguns batem recorde na quantidade de quiabos anualmente. A devoção à Santa Bárbara, padroeira dos bombeiros, enche as ruas de vermelho, incendiando as ruas com fé, regada a muita cerveja.
Leia também: O caruru é muito mais que uma comida, é um evento, muito relacionado à comida votiva do Candomblé, ele já fez parte da mesa do dia-a-dia do baiano.

LENDA DE IANSÃ por Luiz Carlos Pereira
Oxaguiã em certa ocasião decretou guerra a todos seus inimigos. Como eram muitos, precisava de muitas armas. Pediu a Ogum que as forjasse, delas dependeria sua vitória ou derrota. O ferreiro se pôs a trabalhar com sofreguidão, mas tantos eram os armamentos necessários que sua forja já não dava conta. Iansã, sua mulher na época, ofereceu ajuda e começou a soprar a forja para que o fogo se avivasse e Ogum pudesse continuar seu trabalho. Esse esforço conjunto fez com que as encomendas saíssem à perfeição e assim a guerra foi ganha. Oxaguiã, contente e agradecido, resolveu fazer uma visita ao casal reconhecendo o valor do trabalho feito por eles. Ao conhecer a bela mulher ficou totalmente apaixonado e tudo fez para que ela o acompanhasse. As belas e encantadoras promessas feitas em sussurros encantaram Iansã e ela se foi com o rei para seu castelo deixando Ogum desanimado e tristonho. Anos mais tarde nova guerra foi decretada. Oxaguiã correu a casa do ferreiro para fazer nova encomenda, conhecia e respeitava o trabalho de Ogum, este, porém o recebeu friamente dizendo que desta vez já não contava com o valioso sopro de Iansã o que deixava sua forja fria para o feitio de tantas armas. O rei garantiu-lhe que teria o sopro necessário. Chegando ao seu reino ordenou à mulher que ajudasse Ogum, mas teria que ser dali, não poderia voltar ao velho lar. Depois de muito pensar no que fazer, Iansã sentou-se em frente a uma janela da torre mais alta da construção e começou a soprar. Primeiro em pequenas baforadas que apenas faziam brisa.
A casa do ferreiro ficava do outro lado da terra e o sopro a ser enviado tinha que ser mais forte. Concentrando-se em sua tarefa, puxava o ar e o soltava cada vez com maior ímpeto. Em pouco tempo o sopro transformou-se em vento que balançava as folhas das árvores. Ao cair da tarde transformara-se em um tufão que varria todos os campos e terras por onde passava e chegava à forja de Ogum com a força necessária para avivar o fogo tão necessário. Reconhecendo o esforço da mulher querida, ele se pos a trabalhar com afinco. Pelas cidades onde os ventos passavam todos habitantes prostravam-se em terra para louvar a tempestade da bela Oyá. Foi assim que Oxaguiã venceu a guerra novamente, usando o trabalho do casal que ele separara. Ainda hoje, quando há missões especiais, Ogum se põe em frente à forja e Iansã de sua torre sopra com energia. Separados por quilômetros de terra, encontram-se a força e a tempestade!

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