Nossa visita ao Quintal Sensorial

Na busca por autonomia, e ao encontro de um lugar que seja sua referência ética, com equilíbrio e contato profundo com a natureza, à pedagoga Ivana Pereira, criou um espaço onírico e funcional.

Poderia parecer antagônico o fato, mas se harmonizam por uma essência incomum, onde os contrastes, vão dando espaço a uma elaboração  continua, silenciosa, como que cada coisa tivesse uma função e se apoiassem nesse querer, algo assim como, uma pedagogia da resistencia.

O Quintal Sensorial fica em Salvador no Situado no Subúrbio Ferroviário de Salvador, o bairro de Itacaranha já teve um passado bucólico, quando era apenas um local de veraneio e moradia dos pescadores locais. 

O espaço como metáfora do autoconhecimento 

O nome do bairro Itacaranha, tem origem indígena, ita = pedra e caranha = espécie de peixe muito importante para os índios tupinambás enquanto habitaram a 

localidade, antes da chegada dos portugueses na região. 

O bairro de Itacaranha têm sua história atrelada à história do bairro de Plataforma.

Atrás da estação ferroviária fica a Praia de Itacaranha, muito conhecida como “Praia do Oi”.

Segundo moradores, essa praia já foi referência em todo o subúrbio e hoje é o símbolo do bairro, com suas poucas barraquinhas, é uma vida tranquila.

Frente ao fato de assumir responsabilidade por essa nova realidade, Ivana se deparou com dificuldades, inseguranças, o medo que felizmente foram superados.

Ivana vem construindo de forma refletida, onde o mais importante é o objetivo, como dizer é o encontro com sua subjetividade, sua ancestralidade.

Na conversa, em algum momento me recordou algo que li sobre a Al-Falsafa a filosofia dos Árabes, na fábula do personagem Hayy o solidário em sua ilha, criado por uma gazela, que busca respostas, que só suas vivências podem responder.

Pude perceber a satisfação de alguém diante do seu processo mais íntimo com o que acredita, um momento inspirador, num espaço onde cada coisa tem um porque, e um significado, na busca do uno, em processo de construção, de afirmação.

Observei em sua fala, quando refletia sobre suas aulas com as crianças, os aprendizados trocados nestas vivências, principalmente quando falou das merendeiras, o quanto poderiam utilizar mais estes saberes, nos alimentos produzidos na escola, o quintal enquanto este encontro com sua avó, é suas recordações afetivas.

À essa altura, encontramos um pé de Cana de Macaco, que se transformou num delicioso suco verde e fresco, como as lembranças daquela planta para a família, e o significado do ato de beber este conhecimento tem um valor inestimavel para mim.

Corremos o quintal, descobrindo todas as espécies, falamos e trocamos receitas sobre as Panc, sobre as flores que podem virar geléias, sob o generoso pé de Fruta Pão, falamos em algum projeto em parceria, nas para que apressar o rio?

À arte ajuda nesse processo com os trabalhos que desenvolve com cerâmica e pintura em tecidos usando a simbologia as folhas, difundindo e criando quase uma linguagem cheia de sentidos.

Tudo no lugar tem um sentido, uma organicidade, um porquê, me chamou a atenção o fato de fazer uma alusão, ao não querer que o espaço fosse visto como uma "fazendinha" ou algo neste sentido, mas que cumprisse este encontro sensorial, que desvela realmente a natureza do lugar, e que da nome ao seu projeto, poder estar num espaço assim, de descobertas, talvez seja um ato generoso de compartilhamento, de contemplação que são fundamentais para nossa existência.

Deixo aqui um texto que fiz inspirado na minha visita ao Quintal Sensorial.


Para a querida Ivana.

Informação para ser conhecimento, 

necessita de cautela, 

como aranha tece sua rede,

ligando pontos,

há de haver construção de sentido 

plural, direta, democrática,

entre quem emite e quem recebe.


Conhecimento. 

para ser sabedoria, 

carece de vivência de carpinteiro, 

cuidado metódico, 

e conhecimento aprofundado, curtido no processar, 

é algo buscado, 

querido do verbo desejar 

conhecimento só tem força de sabedoria,

quando compartilhado entre todos,

como somos afetados pelo sabor.

Não é utopia, é justiça!



Comentários

  1. Que lindo!! Obrigada por sua escrita sensível e cheia de luz! Essas partilhas me impulsionam e me ajudam a continuar! Sigamos semeando! Axé 🌱! Muita luz ✨

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  2. Lindo demais esse quintal, o projeto e essa maravilhosa chamada Ivana Magalhães! Vida longa, muito axé e prosperidade!!!

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  3. Parabéns professora Ivana.
    O quinta sensorial se legítima como um espaço de redescobertas de nossa ancestralidade africana e indígena.
    Muito pertinente no contexto educacional para formação de professores, educadores e na aprendizagem do alunado.
    Façam uma visita, aprendi muito sobre o poder da folhas e raizes. Na medicina alternativa e degustei variadas frutas, amém de um bom papo cabeça.
    Forte abraço.
    Paz e Bem!

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  4. Que maravilha este lugar de muita luz e reflexão. Parabéns Ivana! Que perfeito o texto Alicio. Axé sempre!

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