ALIMENTOS TRADICIONAIS NA DIÁSPORA AFRO-ATLANTICA.

Povos Bantus.

Angola, Moçambique e Congo.

Os bantus constituem um grupo etnolinguístico localizado principalmente na África subsariana e que engloba cerca de 400 subgrupos étnicos diferentes.

A unidade desse grupo, contudo, aparece de maneira mais clara no âmbito linguístico, uma vez que essas centenas de grupos e subgrupos têm, como língua materna, uma língua da família banta.

Estimativas do censo demográfico indicam que 70% dos escravos trazidos para o Brasil no século XVIII vieram de Angola, com destino ao Rio de Janeiro e Bahia, com destacada relevância para o porto de Salvador. 

A partir do século XV, a África negra começou a ter contato com os navegadores europeus. Inicialmente com os portugueses, seguidos pelos espanhóis, ingleses, franceses e neerlandeses. As potências europeias procuravam riquezas na África, mas a principal riqueza que encontraram revelou-se cruel para os povos nativos: era o tráfico de escravos.

Os escravos eram adquiridos pelos navios no litoral africano, em troca de aguardente, contas de vidro, argolas, pequenos pedaços de cobre e fumo. Muitas vezes, os escravos eram obtidos a partir de lutas entre os próprios reinos africanos.

Os europeus introduziram uma nova religião na região, o cristianismo, bem como novas línguas, novos produtos agrícolas e novas formas de organização política.

Na luta contra os invasores portugueses, destacou-se a rainha Nzinga, do reino de Ndongo, no atual território angolano.

Esse grande contingente de escravizados, vindos de diversas nações e etnias, possuíam costumes, línguas, técnicas agrícolas, organizações de sociedade, religiões completamente diferentes umas das outras, se fixaram nas lavouras de cana de açúcar e nas lides com os serviços domésticos nas casas grandes, contribuindo definitivamente na formação da nossa identidade e produzindo um grande acervo cultural que se mantém presente até hoje.


"Alimentar é a representação da troca, quando eu recebo devolvo alimentando, ou quando espero, alimento primeiro, ou quando agradeço, alimento. 

Alimentar é estar vivo, quando não mais alimento já morri para esta tradição", diz Kota Mulanji. Reza, cuidado com a natureza, compartilhamento, respeito aos mais velhos, escuta, oralidade, conhecimento, alimentação e tradição. Kota Mulanji  (Regina Nogueira), médica e presidente do Fórum Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional dos Povos de Matriz Africana (Fonsanpotma) integra o chamado Fonsanpotma, que aborda o comer, como uma fonte inesgotável de conhecimentos sagrados e ancestrais que se multiplicam dentro dos terreiros e casas de axé. 

As plantas, os cultivos, as formas de comer e de compartilhar cada alimento dentro da tradição de matriz africana englobam o sagrado, o rito e a continuidade da religiosidade negra. Em entrevista para o OTSS, a liderança conta sua história de vida e sua caminhada na medicina e nos movimentos de luta anti-racista.

A vinda dos africanos não significou somente a inclusão de formas de preparo e ingredientes na dieta colonial, representou também a transformação da sua própria culinária. Muitos pratos afro-brasileiros que conhecemos hoje, habitam até hoje o continente africano, assim como vários pratos africanos reinventados com o uso de ingredientes do Brasil, como a mandioca, o dendê, também fizeram o caminho de volta, como a vinda do Inhame dos Carás, do Amendoim, dinhungo (abóbora-carneira) e quiabo.

As folhas e seus efeitos mágicos, alquimia que transformam-se em memórias.

"Ri, sem palavras. Mas, para ela, não havia riso, nem motivo. Cozinhar é o mais arriscado ato. No alimento se coloca ternura ou ódio.
Na panela se verte tempero ou veneno.
Quando assegurava a pureza da
peneira ou do pilão? Como eu podia deixar essa tarefa tão íntima em mão anónima?
Nem pensar, nunca tal se viu, sujeitar-se a um
cozinhador de que nem o rosto se conhece. Cozinhar não é serviço, meu neto – disse ela.- Cozinhar é um modo de amar os outros.

Neste trecho de "O fio das missangas" o
biólogo e escritor Moçambicano Mia Couto traz as crenças que envolvem muitas vezes o
ritual de cozinhar.
Mostra-nos que através dele sentimentos podem ser comunicados, demostrando o quanto é singular o ato de preparar alimentos. Este processo pode ser
comparado, e o é por várias vezes na história, ao da magia ou feitiçaria."

Manuel Querino (1928), foi o grande pesquisador que primeiro compilou as receitas tradicionais na Bahia, tanto de origem africana quanto novidades fruto de interações étnicas em território brasileiro.

Em Angola o alimento é um elemento de identidade cultural, assim como as maneiras de comer variam de etnias é tribos.

A mandioca (funge, kikuanga ou mandioca fervida) é o alimento de base do norte como nas regioes de Kikongo e Lunda; o milho (pirão) do povo do centro e sul de Angola. A banana o alimento principal do povo do Gabão e de São Tomé e Príncipe. 

A Moqueca de Feijão, muito comum na cultura do Recôncavo Baiano, é encontrada em Angola como Feijão de Dendém ou Feijão de óleo de Palma.

Outros pratos denotam a presença de adaptações ou releituras locais, como o prato mais popular em Angola, o Funge ou funji, uma massa cozida de farinha de milho ou de mandioca, com características muito similares ao nosso Pirão. Outra exemplo clássico, é a receita tradicional da muamba, que pode ser preparada com galinha, carne seca ou peixe, acompanhada de quiabo e dendê. Sem falar no Calulu, nas deliciosas Cocadas, Dinhangoa (bebida preparada com água, farinha de mandioca e açúcar), Gonguenha (feijão, abóbora e caldo de ossos), o nosso Feijão de Patinho.

* O Mututo tem similaridades com a nossa Moqueca, (onde a planta cujas folhas são preparadas como guisado, temperado com tomate, cebola, alho e louro), correspondentes as nossas Moquecas de Folhas.



*O Quibeba, na Bahia se diz "Quibebe" (guisado de choco, peixe, feijão ou carne seca, acompanhado de mandioca, batata-doce ou dinhungo Abóbora). 

*A Sumatena ou Súmate (peixe seco ou carne seca assado na brasa, com molho de água morna dinhungo) pode corresponder à nosso Moqueado o Moquem e a Mantinha.

A farta utilização das plantas tradicionais na alimentação, as quais vimos pesquisando, as "Pancs", também estão representadas neste acervo:













*A Matamba feito com a kizaka ou Quizaka( folhas de Mandioca) que para os baianos representa a Maniçoba, a Jimboa ou Gimboa Amaranthus Caudatus (nome ciêntifico) é utilizada de diverdas formas na cozinha Angolana, como na sopas, refogados para fazer calulu, guisados com azeite, óleo mana ou de palma.

*A Miengueleka feita a partir das Folhas de Abóbora.


*A Nhangana é um prato Moçambicano, o nome é dado pelas folha do feijão nhemba,( feijão fradinho) um vegetal abundante em todo o país. O prato que vou mostrar hoje também já salvou muitas famílias em tempos de fome. Para quem gosta de uma refeição que mistura saúde e sabor esta é uma excelente opção.


*A Muteta feita com os "Pevides", sementes da Abóbora piladas, dão um sabor especial ao prato.

Muteta são tipos de bolas ou almôndegas.

Os Pevides sempre foram utilizados na culinária baiana, onde hoje usamos o amendoim e a castanha.


Fumbua é uma das comidas típicas Angolanas.
Fumbua são folhas tradicionais (
Allium cepa), que crescem nas matas. Normalmente encontramos a fumbua nas regiões como: Uige, Cabinda, e Zaire, etc.




Fumbua
Apesar de dar título ao prato, na verdade se refere apenas à folha que dá corpo ao seu molho, muito dura e encontrada em abundância nas matas da África central, apesar disso, as folhas de Fumbua estão quase em extinção.

São folhas muito rica em vitaminas e que serve de boa alimentação para nosso corpo.
Não obstante de ter só as folhas nestas regiões mais agora come-se a fumbua quase em todo país, principalmente em Luanda que já há muita aderência.

Depois de colhida a fumbua na mata, leva –se é corta-se em pedaços muito finos, minimizando o trabalho nas praças É feiras, ja existem fumbua cortadinha e só comprar e prepara-la.

A história  do Fumbua está diretamente ligada à Guerra Civil Angolana, que devastou o país por 26 anos e forçou muitos cidadãos a fugirem para o Congo, onde se tornaram refugiados. 

A situação de miséria trouxe à tona a criatividade, que eventualmente transformou a dura folha num alimento saboroso, se preparado de forma correta. Com os tempos de paz, os refugiados voltaram para suas terras, mas carregaram consigo a cultura do Congo, e logo o consumo de fumbua ampliou-se tanto em Angola e no Congo quanto nos países vizinhos, tornando a folha uma iguaria continental. O prato é, portanto, considerado um fruto da união entre Congo e Angola.

*Mienguelecas de maxanana (Norte) ou de lombì (Sul)

Esse è um prato tradicional das regiões do Sul e do Leste do Pais. As mienguelecas se preparam para acompanhar carne ou peixe e funji.   








A Machanana é similar a nossa Quiabada, isso sem citar as "Ramas" como são conhecidas as de batata doce refogadas, e as folhas do feijão-mungo (Vigna radiata L.)



Receita da Manchanana por Anatalia Timbó

Ingredientes:
Folha de abobora, Kiabo, Sal e água.

Modo de Preparo
Para preparar a Maxanana temos que ter a folha de abobora e o quiabo, tira-se o lixo que contem as colhas, corta-se as folhas em pedaços e lava-se as folhas e corta-se o kiabo lava-se e coloca numa panela com água as folhas e o quiabo poem a ferver ate ficar pronta.depois de ponta escorre toda água da panela.

Depois com uma colher de pau bate-se as folhas misturadas com os quiabos por 5 minutos e está pronto a ser servido.


Em Moçambique o destaque é o Matapa - delicioso ensopado verde com camarão e amendoim!
Tradicionalmente, esse guisado é feito com folhas de mandioca, camarão, amendoim e leite de coco.



"Na sanzala o funji é a primeira alimentação diária do camponês de manhã cedo antes de ir para o campo e no seu regresso à casa de noite, o mesmo prato no jantar e evita-se nos almoços para não se ganhar preguiça de trabalhar porque cria um ambiente de relaxe no organismo convidativo de dormir a sesta."

Vemos nesta citação a presença das "Comidas de Sustança" comoda e forte que alimenta os trabalhadores, os que frequentam as feiras e os mercados.

Muito das causa do preconceito sobre as culturas Africanas no Brasil, se deve ao desconhecimento e o processo de subalternidade a que foram submetidos e impostos ao longo da história. Sendo assim, pretendemos pesquisar a construção das relações de identidade cultural e principalmente culinárias, entre os dois lados do Atlântico.


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