Segurança Alimentar e Nutricional e Soberania Alimentar

Um dos aspectos mais interessantes da Segurança Alimentar e Nutricional, é no que tange as estrategias de como as populações encontram para alimenta-se mantendo suas tradições e origens.
Se hoje vemos varias  entidades preocupadas em manter e dar visibilidade a este conjunto de valores, é porque as culturas com todo avanço tecnológico e descaracterizador cultural,  resistem de forma brilhante. 

Gosto de citar a exemplo da Cucina Povera Italiana, o que podemos aprender com ala? Literalmente, essa expressão italiana significa "cozinhar os pobres" ou "cozinhar camponês".e em um nível mais profundo reflete uma filosofia que é comum em todas as culturas: se contentar com o que você tem que transformar ingredientes humildes em pratos que não são apenas bons, mas absolutamente requintado. 
O espírito de La Cucina Povera é sobre abraçar restrições e descobrir a deliciosa criatividade que pode surgir de fazer com o que você tem na cozinha. 
Esta filosofia austera conecta-se um século depois com a mais poderosa tendência gastronômica do momento: a que reivindica comida sazonal e produção local. 
Quando começa a ser percebida uma certa saciedade de anos por nitrogênio líquido elevado e criações com nomes mais longos que o Ebro, a Cucina Povera reivindica seu lugar à mesa.
Seus pratos despretensiosos, articulados em torno da matéria-prima e da técnica tradicional, não perderam um pingo de validade. 
A Segurança Alimentar e Nutricional, enquanto estratégia ou conjunto de ações, deve ser intersetorial e participativa, e consiste na realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras da saúde, que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis.
O modelo de produção e consumo de alimentos é fundamental para garantia de segurança alimentar e nutricional, pois, para além da fome, há insegurança alimentar e nutricional sempre que se produz alimentos sem respeito ao meio ambiente, com uso de agrotóxicos que afetam a saúde de trabalhadores/as e consumidores/as, sem respeito ao princípio da precaução, ou, ainda, quando há ações, incluindo publicidade, que conduzem ao consumo de alimentos que fazem mal a saúde ou que induzem ao distanciamento de hábitos tradicionais de alimentação.
A segurança alimentar e nutricional demanda ações intersetoriais de garantia de acesso à terra urbana e rural e território, de garantia de acesso aos bens da natureza, incluindo as sementes, de garantia de acesso à água para consumo e produção de alimentos, da garantia de serviços públicos adequados de saúde, educação, transporte, entre outros, de ações de prevenção e controle da obesidade, do fortalecimento da agricultura familiar e da produção orgânica e agroecológica, da proteção dos sistemas agroextrativistas, de ações específicas para povos indígenas, populações negras, quilombolas e povos e comunidades tradicionais.
É, ainda, fundamental que as ações públicas para garantia de segurança alimentar possam contemplar abordagem de gênero e geracional. A soberania alimentar é um princípio crucial para a garantia de segurança alimentar e nutricional e diz respeito ao direito que tem os povos de definirem as políticas, com autonomia sobre o que produzir, para quem produzir e em que condições produzir . Soberania alimentar significa garantir a soberania dos agricultores e agricultoras, extrativistas, pescadores e pescadoras, entre outros grupos, sobre sua cultura e sobre os bens da natureza.

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