As PANC e a Etnobotânica.

"No cotidiano da cultura negro-africana e indígena nasceram metodologias de experimentação e investigação. 
A leitura da vida e do mundo se fez pela pesquisa fixando seu aprendizado na cultura. 
A cultura da culinária, das plantas, da caça, da pesca, da construção, entre outros saberes experimentados. 
Desse conjunto de saberes sentidos no universo dos costumes, dos ritos, dos mitos, nasceu a etno ciência que tem a etnobotânica como uma de suas formas de expressão. 

Etno porque é na tradução cultural que se produzem os saberes vivenciados que foram retirados a ciência moderna. A etnobotânica ganha, assim, a relevância transdisciplinar, englobando saberes de diversos campos, tais como: o antropológico, o socioespacial, o agronômico, o farmacêutico, o medicinal, o ecológico, entre outros. 
A compreensão da relação sociedade-planta torna-se a porta de entrada para as traduções culturais das simbologias e as significações das plantas, seja como parte de um sistema de cura, seja na culinária, seja nas liturgias diversas. 
Como não são autônomos, esses saberes sempre necessitaram de leituras que os contextualizem em termos históricos e políticos. 
As traduções que as culturas realizaram dos vegetais transformaram-nos em elementos ritualísticos. 
A materialidade da etnobotânica pode ser a mesma: seres do reino vegetal, entretanto, podem significar campos culturais diversos, segundo a diversidade de saberes dos povos e da cosmovisão que os mesmos carregam. 
Aqui se utiliza a palavra carregar para expressar a capacidade dos indivíduos de migrarem com os saberes das plantas, mesmo sem levarem também a materialidade, que é a própria planta." 

Como recuperar e democratizar esse conhecimento relativo à biodiversidade? 
Como culturas diferentes resignificam e se relacionam com a biodiversidade? Para responder a essas reflexões faz-se necessário retomar alguns autores que recolocam a questão das relações entre cultura e natureza do ponto de vista da sociedade e da história. 
O que caracteriza o homem é ele ser produtor da cultura que o reproduz como ser humano. Ela é tudo o que o homem e o trabalho humano realizam ao transformarem a natureza e atribuírem significados ao que fazem e ao próprio ato criador do fazer. 
O processo social de criação de cultura é o que atribui ao homem à possibilidade de se afirmar como um ser de consciência. Um sujeito que habita de m odo único ao mesmo tempo à sociedade e a história (BRANDÃO, 1988, p. 4 6).

 Ângela Maria da Silva Gomes Rotas e diálogos de saberes da etnobotânica


Na foto, as Taiobas (Xanthosoma Sagitifolium) da comunidade do Outeiro, região metropolitana de Salvador, no episódio 6 do documentário #comidaaquiémato.
Suas folhas são muito apreciadas na culinária por serem ricas em sabor e nutrientes. 
Boas fontes de amido, fornecem energia ao organismo. 
As fibras facilitam o trânsito intestinal e diminuem a sensação de fome. Indicada na nutrição de crianças, idosos, atletas, grávidas e mulheres em fase de amamentação, é preparada tradicionalmente como uma couve. 

“Comida Aqui é Mato!” é uma série documental que trata de gastronomia baiana a partir das PANCs (Plantas Alimentícias Não Convencionais), com um ritmo revelador e uma linguagem contemporânea. A primeira temporada conta com 8 episódios de 26 minutos, divididos em 3 blocos. Uma apresentadora e um Chef de Cozinha nos conduzirão a diferentes territórios de identidade da Bahia para conhecer pessoas e comunidades que usam PANCs em sua tradição culinária. Seremos apresentados ao contexto cultural e ambiental dos personagens locais, destacando as plantas tradicionais utilizadas em sua culinária. Ainda, entenderemos alguns elementos sobre a história e simbologia dessas plantas, sobretudo as formas de uso culinário e benefícios nutricionais e a saúde em seu sentido mais amplo. 
 Cada episódio se inicia com a Apresentadora situando o lugar e ressaltando as plantas preparações gastronômicas a serem conhecidas. Logo em seguida ela se apresenta ao telespectador e completa com o título “Comida Aqui é Mato!”, abrindo espaço para a vinheta da série. #Sotoko #obéewê #Redepancbahia #elcocineroloko

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