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EFASE-Uma Experiência Libertária 


Ao contrário do senso comum o que encontramos na região do Sertão da Bahia, foi acolhimento, pessoas esperançosas, e muitas possibilidades de alimentos. 
Com uma exuberante Fauna e Flora característica da região, chegamos a Escola Agrícola do Sertão-FASE, em Monte Santo, por volta das 16hs, local que serviria de base para nossa estadia e imersão na região. 
“A EFASE é uma escola que tem por princípio a formação que respeite e valorize as características da realidade que os educandos estão inseridos, preparando-os, também, para enfrentar as dificuldades do sertanejo. 
 São em média 260 alunos que convivem de forma colaborativa na escola, que tem a Pedagogia de Alternância que tem como grande instrumento de formação, organização e mobilização da nova geração de agricultores da região. Seu método científico de ensino e aprendizagem é baseado no tripé ação-reflexão-ação e propõe o aprendizado no espaço familiar ou na comunidade de origem, compartilhando esses saberes no ambiente escolar e reflete sobre eles em base científica e, por fim, retorna para família/comunidade, multiplicando esse conhecimento.” 

Fica claro o espirito democrático professado nos princípios da escola, com alunos e todo o corpo coordenador, participando de forma ativa e mesmo politica, na formação cidadã. 

Fomos recebidos pela coordenadora Chris Reisque nos contou um pouco da historia da escola e encaminhou para a coleta de dados no campo, com o ex aluno Josevaldo José Silvae convidados à uma verdadeira aula sobre a caatinga, agroecologia e respeito ao ambiente.

Visitamos a unidade de beneficiamento do Licuri, e vimos todos o processo de feitura do Azeite, os maquinários e equipamentos, bem como a qualidade do resultado de final. 

É sempre bom lembrar que, o Licuri, tem grande importância econômica, sua cultura, melhora a qualidade de vida de muitas famílias da região e principalmente mulheres que trabalham no extrativismo, respeitando e mantendo os princípios agroflorestais.

A partir daí, fomos ao campo, onde conhecemos melhor sobre as cactáceas locais e as possíveis PANCs que seriam utilizadas em nossa demonstração. 
Fizemos uma pequena apresentação a um grupo de alunos, sobre a importância da utilização e implantação das PANCs em nossa alimentação e devido a riqueza de elementos encontrados no local, não faltaram ideias de aproveitamento.


Registro a riqueza e o potencial de inúmeras culturas de PANCs nativas que podem ser usadas como melhoradores de sabor, tais como a Erva Sal, a Quebra Facão, a Erva Preá o Alecrim do Mato, verdadeiras especiarias que infelizmente são pouco conhecidas, mas de grande valor nutricional, e melhoradores de sabor. 

"A difusão e a troca de saberes entre as populações tradicionais e a sociedade, é uma fundamental contribuição ao diálogo para o crescimento da sociedade e das ciências. Mas para que a cultura e o conhecimento cheguem a nós, é necessário que as populações, sejam protegidos e valorizadas, e que tenham o direito de permanecer em seu local de origem, é fundamental que sejam fiscalizados o acesso e a proteção a estes povos e seus saberes." 

Nossa proposta e desafio, foi preparar uma refeição para a noite, para isso, fomos a cozinha conhecer o espaço físico, sob a coordenação da Merendeira Gilmeire Oliveira,  ou como carinhosamente a chamamos, Meire, que nos deu apoio incondicional e grande suporte na preparação. 

Devo destacar a importância desta profissional não só na EFASE, mas no que tange a relação Alimento\Qualidade\Segurança Alimentar em qualquer espaço pedagógico, e não seria diferente com a Meire, um grande ser humano, que com sua simpatia, franqueou todas as informações e apoio técnico necessários para a execução da refeição. 



Com o afetivo e efetivo apoio dos parceiros de projeto ComidaAquiéMato, os pesquisadores da área de Economia Solidaria, Ian de Castro e Juliana Fonseca,  e o produtor Jon Lewis, iniciamos à preparação dos alimentos e a montagem do espaço onde seria servido a café. 

Optamos por utilizar um item "surpresa", para ver a aceitação por parte dos alunos, quanto ao elemento básico proposto, no caso a Torta do Licuri, (um subproduto da extração do Azeite de Licuri) que até então não era destinado a alimentação, mas que alem de saboroso e conhecido alimento, se mantém rico em nutrientes e princípios oleaginosos. 

Cabe um parêntese sobre os valores nutricionais das amêndoas do Licuri, segundo pesquisas da Embrapa
"A amêndoa de licuri apresentou um alto teor de óleo que variou de 61 a 66 %, sendo que o ácido graxo predominante foi o láurico que representou em torno de 50% do óleo, seguido de mirístico, caprílico e oleico, e semelhante a gordura de babaçu e coco. 
Os teores de proteína e de fibra alimentar da amêndoa variaram de 8 a 10 e de 13 a 15%, respectivamente. 
Os minerais predominantes na amêndoa foram o potássio (508 a 517 mg/100g), fósforo (325 a 346 mg/100g), magnésio (132 a 162 mg/100g) e cálcio (33 a 36 mg/100g) e quanto aos microelementos, foram o cobre (0,98 a 1,08 mg/100g), manganês (2,3 a 3,5 mg/100g) e ferro (2,6 a 3,2 mg/100g)." 

A amêndoa do licuri é um produto disponível na região do semi-árido baiano, utilizada em várias preparações culinárias e que pode ser considerada uma boa fonte de energia e de minerais como o potássio, fósforo, magnésio, cobre, manganês e ferro.
Fica aqui nosso grande abraço a todos da EFASE, pela receptividade, com o compromisso de um breve retorno.
Confira todas as fotos do Jon Lewis no link: https://photos.app.goo.gl/g11bEMLHYtrNUeD12

Segue, não deixe de conferir o segundo Caderno de Viagem, posto amanhã:

Comentários

  1. Muito bom Alício e equipe. Essa valorização é fundamental para a formação de uma cadeia alimentar harmoniosa, de ponta a ponta. Vamos combinar uma vivência dessas numa comunidade que conheci e convivi por um tempo, onde estou a finalizar uma série de 10 matérias sobre Agroecologia e autosustentação orgânica.
    Saudações harmoniosas

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