“As pessoas precisam entender o que é comida de verdade”, defende Rita Lobo

Apesar das várias publicações sobre alimentação disponíveis atualmente na internet, poucas apresentam orientações claras e práticas do que realmente é se alimentar de forma saudável. 
Muitas dietas que estão inseridas na vida moderna, trazem nomes difíceis de pronunciar e até mesmo alimentos que nem fazem parte da cultura brasileira. Isso afasta cada vez mais as pessoas de praticar algo muito simples: comer bem. 
De acordo com a chef e apresentadora de televisão Rita Lobo, para mudar essa realidade, preciso, em primeiro lugar, entender o que é imitação de comida e o que é realmente comida de verdade.


























“As pessoas confundem alimentação saudável com dieta, restrição alimentar. 
A diferença entre comida de verdade e imitação de comida é basicamente os aditivos químicos. 
É isso que transforma a comida em imitação de comida, quando ela é feita com sabores sintetizados, aditivos químicos. 
Sejam eles saborizantes, conservantes, acidulantes. Alimentação saudável é variação”, enfatiza. Confira a entrevista exclusiva que a chef da Rita Lobo: 

Como surgiu a ideia do curso ‘Comida de Verdade’?! 
Rita Lobo - A partir do Guia Alimentar para a População Brasileira. Quando o Guia foi lançado – e ele tem tudo a ver com a missão Panelinha, que é incentivar as pessoas a cozinhar -, a gente notou esse grupo da Universidade de São Paulo, o NUPENS (Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde). 
Ele explica conceitualmente que cozinhar é a prática correta para uma alimentação saudável. 
Ficamos com vontade de falar sobre o assunto num formato e linguagem acessível para o público do Panelinha. Comida de Verdade é um curso com 10 aulas, que pensa nos principais obstáculos que as pessoas enfrentam no dia a dia. 
Tem muita gente, por exemplo, que precisa comer fora todos os dias, ou precisa cozinhar sozinho para a família inteira. 
A gente propõe soluções, pensando nos obstáculos que afastam as pessoas da cozinha e de uma alimentação saudável. 

Um pouco do seu objetivo é desassociar a ideia de que o prático é aquilo que está pronto e que a gente compra embalado. Você traz o como fazer e o resultado da prática culinária como algo para o dia a dia. Esse é um enorme desafio. Como foi que você chegou a essa constatação? 
Rita Lobo: Isso passa um pouco pela minha história pessoal. Quando fiz 20 anos resolvi aprender a cozinhar. Gostava de comer e na casa dos meus pais a comida era um assunto importante, mas ali ninguém sabia cozinhar, sempre teve cozinheira. Quando resolvi aprender fui para a escola e fiquei fascinada com esse processo de aprendizagem. Descobri que não só é possível transformar alimentos crus em pratos saborosos, como é prazeroso, gostoso, terapêutico, libertador. Foi a partir de uma constatação pessoal que resolvi contar isso para as pessoas. 
Todo mundo pode cozinhar, não é dom, é aprendizado. 
A gente aprende. 

Vi que numa entrevista que você falava do desafio de executar receitas que fossem possíveis em qualquer região do país. Quais são os alimentos e pratos que você percebeu que são conhecidos comumente no país e que podem sempre ser apresentados como uma opção prática e saudável. 
Rita Lobo: Me parece que o PF [prato feito] do arroz com feijão, uma carne e verdura refogada é uma coisa bem brasileira, de norte ao sul. É importante a gente conseguir valorizar a comida de cada uma das regiões - o baiano tem que comer comida baiana, o mineiro tem que comer comida mineira. É superimportante conseguir valorizar as nossas tradições. São os padrões alimentares e a cultura gastronômica que bloqueiam os ultraprocessados e a comida pronta, o fast food e as dietas malucas. Quanto mais padrão alimentar, mais saudável será a nossa alimentação. E viva as diferenças! 
Você sempre afirma que pensa na sua mãe quando está cozinhando e em como aquilo pode ser interessante para ela que já tem conhecimento na cozinha. Conta pra gente alguns dos segredos, das novidades que chegaram para você na sua vivência mesmo já fazendo um prato conhecido.
Rita Lobo: A cozinha é um lugar muito dinâmico. Apesar da gente sempre resgatar os conceitos tradicionais ela está sempre evoluindo. Mesmo eu, que trabalho com isso há mais de 20 anos, observo a cozinha doméstica, fiz curso de formação de chef e escuto as dificuldades das pessoas nas redes sociais do Panelinha, todo dia eu aprendo uma coisa nova. A cozinha tem toda a parte afetiva, tradicional e amorosa, mas também é muito técnica. São muitas técnicas, possibilidades, alimentos, sempre tem alguma novidade acontecendo. 
Qual é a dica para quem quer começar a cozinhar, tomar um pouco mais as rédeas da sua alimentação e sair um pouco “comida pronta” para o "eu mesmo faço". Pode dar algumas dicas que podem ajudar nessa jornada? 
Rita Lobo: Já disse isso em outros momentos: cozinhar não é dom, é um aprendizado. 
Cozinhar é como ler e escrever: todo mundo deveria saber. No começo não é fácil aprender as letras, sílabas e depois grudar uma na outra e começar a fazer frases. De repente você está fazendo redações. 
Cozinhar é igual. Você precisa aprender a cortar, os métodos de cozimento e, de repente, você está prestando atenção nas combinações de sabores. Você vai fazer altos jantares num piscar de olhos!

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