Pequeno Dicionario da Cozinha Baiana.

Verbete-S Saca-Rolha 
Farta em iguarias doces eram as mesas baianas nos anos cinquenta, e não menos copiosa eram as expressões utilizadas no cotidiano relacionadas à comida. 
Os ditados populares sempre estiveram presentes ao longo de toda a história da humanidade, e não é diferente no Brasil muitas vezes ocorrem expressões tão estranhas e sem sentido, mas que são muito importantes para a nossa cultura popular.  
Enfim, não confundam Carolina de Sá Leitão com caçarolinha de assar leitão.





















"Docinho de coco" costuma estar associado a uma pessoa meiga e querida, bem como "como rapadura é doce mas não é mole" e "não adianta chorar as pitangas ou mandar tudo às favas. 
Já que é pelo estômago que se conquista o leitor, o negócio é ir comendo o mingau pelas beiradas, cozinhando em banho-maria, porque é de grão em grão que a galinha enche o papo.

MULHER DA FAVA RICA! 
Varina Portuguesa
Mulher da fava rica é uma tipica expressão portuguesa. Refere-se a mulheres que vendiam sopa pelos ruas dos bairros populares de Lisboa antigamente. 
 Tal como as nossas fateiras e pregoeiras, trazia na cabeça uma panela de sopa dentro de um cesto de verga e apregoava-a a alto e bom som e no seu melhor timbre: "fava riiiiiiiiiiiiiiiiiica". 
Por ser uma sopa altamente nutritiva, era o petisco tipico do café da manha lisboeta, preferido pelas classes populares e trabalhadoras da época.
Revisitando o livro da Hilderagrdes Vianna, "A Cozinha Baiana, seu folclore e suas receitas", nos damos conta do entramado universo de expressões de uso cotidiano relacionadas com a comida e o ato de comer, a maioria desses dizeres tem pelo menos um século de idade, com vários datando do Brasil colonial e até da Idade Média. 



Assim, vamos seguindo a "Tradição" palavra que por sinal vem do do latim traditio, tradere = "entregar", "passar adiante" a continuidade ou permanência de uma doutrina, visão de mundo, costumes e valores de um grupo social ou escola de pensamento. 




Voltando a receita, os Saca-Rolhas, são bolinhos de forminhas, feitos com tapioca, ovos, coco, queijo e temperados com nós moscada. 
Infelizmente não conseguimos informações apuradas sobre esta iguaria, para fazer uma minuciosa descrição, mas acredito que seu nome provenha da textura áspera da tapioca. 










Receita Saca-Rolha
750 gm de Tapioca granulada 
6 gemas de ovos 
2 colheres de sopa de manteiga 
1 prato de queijo ralado 
sumo de 1 limão 
Raladuras de nós moscada á gosto 
1 coco ralado às avessas 
Modo de preparo:
Bater a manteiga e as gemas, acrescentar o queijo ralado as raladuras de nós moscada, o coco o sumo de limão, e a tapioca, assa-se em forminhas untadas. 

Os índios foram mestres em batizar frutas, como o cacau e o cajá. 
De acordo com a professora Ana Suelly Cabral, pesquisadora das línguas indígenas, cerca de 80% das palavras que nomeiam as plantas e bichos brasileiros são oriundas do Tupinambá, o mais conhecido idioma nacional nativo. 
Aliás, o tronco Tupi é um dos grandes agrupamentos linguísticos do Brasil.


São sete famílias de línguas: Arikém (1 língua), Juruna (1 língua), Mondé (7 línguas), Mundurukú (2 línguas), Ramaráma (2 línguas), Tuparí (3 línguas), Tupi-Guarani (21 línguas). Há ainda trêslínguas isoladas no nível de família: Aweti, Puruborá e Sateré-Mawé. Considerando que o total de línguas indígenas no Brasil é de 180, o tronco Tupi reúne 40 línguas, o que corresponde a 22,2 % do total. 

Segundo Suely, "A influência foi muito lexical, de nomes das coisas desse mundo rico, desconhecido para os portugueses, que era o Brasil, de uma diversidade ambiental e ecológica muito grande. E não só os nomes das plantas, mas como os processos, as técnicas de agricultura. 
A coivara, por exemplo, porque isso foi aprendido com os índios, de como plantar, como colher.(...) 

A gente também tem verbos, como pipocar, cutucar...", cita. Essas palavras aprendidas pelos portugueses misturadas com a estrutura gramatical da língua dos colonizadores deram origem à Língua Geral do Brasil, que, com o passar do tempo, se dividiu em duas: a Língua Geral Amazônica (mais falada no Maranhão e no Pará) e a Língua Geral Paulista (mais corrente no sudeste do país). Até a metade do século XVIII, era essa última a língua mais falada por aqui. 
Em 17 de agosto de 1758, o Marquês de Pombal, que era o primeiro-ministro de Portugal, instituiu por meio de um decreto a língua portuguesa como idioma oficial do Brasil e proibiu o uso das línguas gerais, que eram, inclusive, usadas pelos jesuítas para catequizar os índios e pelos bandeirantes, nas suas expedições para desbravar o Brasil. 

Mesmo assim, as palavras que já faziam parte do vocabulário da população se mantiveram e são faladas até hoje. Além de ter sido essencial na formação do vocabulário do português do Brasil, a influência das línguas indígenas deixou marcas na forma de pronunciá-las. 
Uma amostra disso é o fenômeno pesquisado atualmente em Cuiabá, no Mato Grosso. Segundo Ana Suelly, por causa do forte contato com a língua Bororo, a população pronuncia os fonemas "ch" e "j" de forma peculiar. Em vez de "chuva" e "caju", fala-se `tchuvaï e `cadjuï, por exemplo. 

Conheça algumas palavras de origem indígena que fazem parte do Português do Brasil Acajá - ou cajá, é o fruto da cajazeira. 
Do Tupi Guarani: acã-já = o fruto de caroço cheio, graúdo; fruto que é todo caroço. 
Aracajú – Do tupi-guarani: ará = papagaio; caju (akaiu) = cajueiro dos papagaios. 

Também pode significar tempo, época do caju. 
Babaçu - Do Tupi-Guarani: ibá-guaçu = fruto grande. 
Baiacu - é como são chamadas diversas espécies de peixes que “incham” quando se sentem ameaçados. 
Do Tupi-Guarani: grafia antiga maiacu de mbaé-acu = a coisa quente, venenosa, por causa do seu fel. 
Barbatimão – Do Tupi-Guarani: bar por ibira = árvore; aba-r-emó = aba-t-emó = pênis; a árvore do órgão genital do homem. 
Boitatá – Gênio que protege o campo e as matas dos incêndios; cobra-de-fogo. Do tupi-guarani: m(baé) – coisa; tatá – fogo; coisa de fogo. 
Buriti – Do Tupi-Guarani: mbur = alimento; iti = árvore alta; = árvore alta de alimento ou de vida.  
Butantã – Do Tupi-Guarani: bu (ibi) = terra; tatã (atã, tantã) = muito duro. 
Caatinga - Do Tupi-Guarani: caá-t-enga = o mato ralo Cacau – Do Náhuatle: cacauatl = caroço Caiçara – do Tupi-Guarani: caá-içara = a cerca de ramos. 
Caipira – do Tupi-Guarani: caaipura = de dentro do mato.

Nome que os índios do interior de São Paulo deram aos colonizadores. 
Capim – do Tupi-Guarani: caá=folha; pií=fino, delgado. Capivara – do Tupi-Guarani: “kapii’ guara” - comedor de capim  
Capoeira – do Tupi-Guarani: co-poera = roça velha. 
Carioca – do Tupi-Guarani: kari`= branco; oka = casa. Casa do branco. 
Catuaba – do Tupi-Guarani: caá = planta, folha, mato + tuã = taludo + ibá = árvore. Cipó – do Tupi-Guarani: ici-fila; pó-fileira. Nome genérico de todas as plantas de hastes finas e flexíveis que servem para atar; plantas trepadeiras que pendem das árvores; embira. 
Copacabana - de origem quechua. Significa “olhando o lago”. A palavra original é kupa kawana. 
Curitiba - do Tupi-Guarani: Curi = pinhão; Tiba = lugar. Curumim – Palavra de origem tupi, e designa, de modo geral, as crianças indígenas. Cutia – do Tupi-Guarani: a-coti = indivíduo que se assenta para comer. 
Embiruçu : do Tupi-Guarani: ibira-uçu – árvore de muita estopa (Edelweiss). 
Erechim – cidade do Rio Grande do Sul – do Kaingáng (Jê) erê-xim – campo pequeno. 
Gariroba – do Tupi Guarani guara-iroba = o indivíduo amargo. Palmeira; coco amargoso. Gororoba : do Tupi-Guarani: guara – arvore; roba – amargo. Guri – do Tupi-Guarani: guirii – terno, brando. Termo muito usado no Sul do Brasil, para criança do sexo masculino . 
Igarapé – do Tupi-Guarani: ir-r´apé = caminho d’água. Iguatemi – Palavra de origem Tupi que significa rio ondulante. 
Irapuã: mel redondo (ira = mel, apu`a = redondo, esférico). Dá margem à interpretação como “cacho de abelha”. 

Também usado para designar algumas abelhas. 
Jabuti – do Tupi-Guarani: j-abu-ti=o que nada respira. Jacaré: Do Tupi-Guarani: jaeça-caré = o que olha de banda. Jenipapo - do Tupi-Guarani: iá-nipaba-fruto de esfregar. Jericoacoara - do Tupi-Guarani: îurukûá tartaruga-marinha / kûara – toca = Toca das tartarugas. 
Jururu - do Tupi-Guarani: juru-ru = pescoço pendido. Triste,abatido, chateado, desiludido Macuco – do Tupi-Guarani: maa=mbaé-coisa ; cucu =comer muito. 
Ave brasileira, tinamídea (Tinamus solitarius), muito apreciada por sua carne saborosa; tem o tamanho de uma galinha e vive solitária; encontrável nas matas de todo o país.

Maloca – do Tupi-Guarani: moro-oca = casa de gente. 
Casa de residência fixa, onde o indígena vive em comum. Maracanã – do Tupi-Guarani: paracau-aná - pagagaios juntos 
Mingau – do Tupi-Guarani: mi-caú = feito de papas. 
Mocotó – do Tupi-Guarani: mo-coto = faz que jogue. Mutirão – do Tupi-Guarani: pitibõ, popitibõ, picorõ = ajudar. 
Mutum – do Tupi-Guarani: mi-pele, plumagem; t-u-negro. O termo ¨mutum ¨ é a designação comum de aves galiformes, da família dos Cracídeos, de hábitos florestais, sendo que várias espécies destas aves estão ameaçadas de extinção. 
Oiapoque – do Tupi-Guarani: oia-poc = o que explode ao abrir-se. Nome de uma cidade município e de um rio que banha o estado do Amapá. 
Paca – do Tupi-Guarani: paca = ficar alerta. 
Paçoca – do Tupi-Guarani: paçoca = coisa pilada. 
Pajé – do Tupi-Guarani: pajé = profeta. Pessoa encarregada de realizar rituais e cerimônias religiosas nas tribos indígenas Pamonha – do Tupi-Guarani: apá-mimõia = envolvido e cozido. 
Pereba – do Tupi-Guarani: pere`wa = ferida. Ferida cutânea. 
Perereca – do Tupi-Guarani: perereca = andar às tontas. Pipoca – do Tupi-Guarani: pi(ra)- pele; poca-rebentar; a pele rebentada. 
Piranha – do Tupi-Guarani: pirá-anhã = peixe diabo. Pitanga – do Tupi-Guarani: pi (ra) – tanga – pele tenra . Quati – do Tupi-Guarani: cuá-cintura;ti-nariz; que se deita para dormir, esconde o focinho na barriga como defesa. 
Sapucaí – do Tupi-Guarani: sapucaia-i = rio do galo ou rio que grita. 
Saúva – Do Tupi Guarani iça-aíba=a formiga má, que destrói as plantas. Sucuri – do Tupi-Guarani: suú-curi = morde depressa. 
Tacacá – do Tupi-Guarani: tacacá – goma, mucilagem. Sopa tradicional da culinária amazônica, mais especificamente paraense. 
Tamanduá – do Tupi-Guarani: ta-monduá = o caçador de formiga. Taturana – do Tupi-Guarani: tata = fogo + rana = semelhante. Espécie de larva recoberta com uma felpa que produz sensação de dor em quem a toca. Tiririca – do Tupi-Guarani: Tiririca – arrastar-se . Espécie de erva daninha comumente encontrada nos açudes e que se propaga rapidamente. 
Tucano – do Tupi-Guarani: tu-can : que bate forte.  
Urubu – do Tupi-Guarani: uru – ave grande; bu – negro.

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