A farinha de mandioca ”Fubá”, em Portugal e Angola



Por este panfleto de 1950 tomamos conhecimento de que a designação «Fubá» foi usada como nome de uma marca da farinha de mandioca integral, comercializada em Portugal.

A palavra “Fubá” é usada no Brasil e deriva da palavra angolana “fuba”. 

A sua etimologia vem precisamente de «fuba», do quibundo, uma das línguas angolanas e significa “farinha”.

A palavra usa-se como sinónimo de farinha de mandioca mas também, nalgumas regiões de Angola, tal como acontece no Brasil, para farinha de milho ou até de arroz. 

O «funge» é a base da alimentação em Angola e é feito apenas com farinha, ou fuba, e água quente. De acordo com as regiões pode ser de mandioca ou de milho. 

Foram também os angolanos quem levou a fuba para São Tomé e Príncipe introduzindo-o na alimentação local.

Em Angola há eiras comunitárias em que as pessoas, em especial as mulheres, secam e esmagam a fuba.

No Brasil, a esta mistura de farinha de mandioca com água dá-se o nome de «angu». Foi descrita por Jean-Baptiste Debret (1768-1848) no seu livro Voyage pittoresque et historique au Brésil, publicado em França em 1834. 

Debret esteve no Brasil em 1816 fazendo parte da Missão Artística Francesa. 

De entre as suas interessantes descrições da vida local vem a propósito mencionar a das mulheres negras que, na rua, vendiam o angu a que se juntavam bocados de carne e miúdos (bofe, coração, língua, etc), azeite de dendê, algumas ervas e condimentos, formando um molho acastanhado. 

O fato de Debret se referir à farinha de mandioca e não à de milho leva a crer que o uso desta poderá ter sido mais tardio. Mas é possível também que tenha a ver com a região que descreve, uma vez que ambas eram usadas para o mesmo fim.

Voltando ao panfleto que deu origem a este post penso que a origem desta farinha seria brasileira. A designação “Fubá” (e não “fuba”) e o grafismo, fazem-me acreditar nessa hipótese. 

Também a declaração inacreditável de um médico brasileiro afirmando que a farinha de mandioca atuaria como preventivo para a apendicite reforçam esta teoria.

Era no entanto embalada e preparada na industria nacional de farinhas coloniais “Concórdia” em Campanhã-Porto, era depois distribuída pela firma Ramil, com sede na Rua das Gáveas, 20, em Lisboa. 

O folheto é composto por meia dúzia de folhas com receitas em que se utiliza a farinha de mandioca.

A aposta na publicidade à marca era feita de duas maneiras: através de um programa de rádio, com o nome ”Fubá, transmitido pelos Emissores Associados e pela distribuição de prêmio contra entrega de senhas existentes nas embalagens.

E por fim, para tornar esta conversa mais ligeira, apresento-lhes uma canção da portuguesa mais famosa, radicada no Brasil, que dava pelo nome de Carmen Miranda, intitulada “Tico-Tico no Fubá”.

No Dossiê: O protagonismo indígena na história, "De farinha, bendito seja Deus, estamos por agora muito bem”: uma história da mandioca em perspectiva atlântica"Jaime Rodrigues relata que:

"A circulação da farinha desde o século XVI não se restringia ao circuito sul-sul nem ao consumo local. Parte da produção também se destinava ao Reino de Portugal. 

Nos séculos da colonização lusa, as frotas que seguiam para lá se ressentiam quando escasseava a “farinha de guerra”, certamente a mesma que os indígenas usavam havia muito tempo.

A farinha de guerra era mantimento essencial nos navios da Armada ou mercantes em viagens transatlânticas entre os portos da América portuguesa e o Reino, a documentação sobre isso também é farta e inequívoca.


Fontes: 

Garfadas on line


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