O Pão de Açúcar nas raizes da Rapadura

pão de açúcar era a forma usual de produção e venda de açúcar refinado até o final do século XIX, quando foram introduzidos os açúcares granulados e em cubos.
Um cone alto com topo arredondado foi o produto final de um processo no qual o melaço escuro , um rico açúcar bruto importado de regiões produtoras de açúcar como o Caribe e o Brasil, foi refinado em açúcar branco.

O termo "pão de açúcar" tem origem no processo de produção de açúcar, de uma maneira muito básica, era a forma usual de produção e venda de açúcar refinado até o final do século XIX, quando foram introduzidos os açúcares granulados e em cubos.

A Rapadura, embora muito popular no Brasil, e principalmente nas regiões norte e nordeste, surgiu nas Ilhas Canárias, em um arquipélago espanhol, por volta do século XVl, começou a ser exportada para o continente americano somente no século XVll e chegou ao Brasil em 1532.

No começo, não era produzida para fins comerciais, era produzida nos engenhos do Brasil colônia e usada exclusivamente para alimentar os escravos.

Como resultado da raspagem de camadas de açúcar que ficam retidas nas paredes dos tachos nos engenhos, por isso tem esse nome (uma variante da palavra raspadura).

A produção nos primeiros engenhos era bem rudimentar. Tanto o doce quanto o açúcar e outros derivados, como o melado, eram confeccionados em moendas de madeira movidas a água ou por cavalos e bois.

Faz-se da seguinte forma: 

1) da moição da cana-de açúcar extraia-se o suco e o bagaço; 

2) o suco da cana era cozido, filtrado e concentrado até atingir consistência melada; 

3) o melaço era batido até o ponto de cristalização do açúcar; 

4) o açúcar era quebrado e cozido com o intuito de o refinar, sendo colocado em formas cónicas conhecidas como "pão de açúcar". 

Quando os portugueses chegaram à Baía da Guanabara e viram aquela formação geológica, logo lhe chamaram "Pão de Açúcar" dada a óbvia conotação visual com as formas onde o açúcar era armazenado aquando da refinação.Do descobrimento à independência, um produto que, sozinho, rendeu mais que todos os outros somados, inclusive os da mineração: o açúcar, do qual exportamos 800 milhões de libras esterlinas”. Luís Amaral, história geral da agricultura brasileira v. 326, 1958.

A primeira espécie a ser domesticada foi a Saccarum officinarum, que ao longo dos séculos e o aumento do interesse no cultivo desta planta, levou à hibridação entre espécies, levando à criação de espécies híbridas, que apresentavam características melhores que as plantas originais.

Outro fato curioso é que a cana-de-açúcar pertence à família Poaceae, família à qual pertencem o milho, o arroz, o sorgo, o trigo, a cevada, o centeio, a aveia, o bambu, etc.

“A cana-de-açúcar não atinge a altura de uma árvore, mas sim a do milho e de outras canas, crescendo em cálamo de dois a dois metros e meio de espessura. É esponjoso, suculento e cheio de um miolo branco e doce.

As folhas têm dois côvados de comprimento, a flor é filamentosa e a raiz é macia e pouco lenhosa. Produz brotos para a esperança de uma nova safra. Gosta de solo úmido, clima quente e ar morno. A Índia Ocidental é muito feroz com estas canas, embora a Índia Oriental também as produza”.

O Açúcar e o império islâmico entre 632 e 750.

Foram os árabes foram responsáveis ​​por levar direta ou indiretamente a cana-de-açúcar para a África e a Europa.

Com o desenrolar das Cruzadas, os europeus tiveram contato com novas plantas, animais, povos e culturas, e um desses contatos foi com a cana-de-açúcar o que atraiu o interesse de alguns comerciantes italianos, que levaram algumas mudas para serem plantadas na Sicília e na ilha de Rodes.

Além disso, a expansão árabe levou estes povos do deserto a entrar no Egipto e a espalhar-se pelo norte e leste de África.

Nos séculos seguintes expandiram os seus domínios na Península Ibérica, dominando grandes partes dos atuais territórios de Portugal e Espanha, e com esta colonização implantaram o cultivo de novas plantas: laranjas, limões, chá, incluindo a cana-de-açúcar.

Os árabes, que naquela época se misturavam com os povos berberes do Norte da África, passaram a ser chamados de mouros pelos espanhóis e portugueses. Na Itália, na Grécia e na Terra Santa, os europeus também chamavam os árabes de sarracenos.

O açúcar foi muito utilizado na Europa como medicamento, caso em que os médicos recitavam o seu consumo puro, ou era utilizado como ingrediente na fabricação de poções, pastas, bebidas, etc. alto teor de sacarose é um energizante natural.

“Servia como remédio, cataplasma, moeda e até como agente de magia negra, com feitiçaria e quiromancia.” 

Segundo Thevet, “os Antigos estimavam o açúcar da Arábia, porque era soberano... nos medicamentos, mas hoje o prazer aumentou tanto que não se pode fazer um banquete tão pequeno como todos os “Os molhos não são doces, e nenhuma ervilha é a carne.

Até o final do século XIX, o açúcar era comprado em pães esbranquiçados em forma de cone ou em pedaços cortados com cinzel e martelo

Após um longo processo de refino, o açúcar era colocado em formas cônicas com um pequeno orifício no fundo para deixar escorrer a calda escura. Para branquear o açúcar, uma solução de açúcar de pão dissolvido ou argila branca era aplicada repetidamente na extremidade grande do pão e, à medida que o líquido escorria pelo açúcar, eliminava qualquer melaço restante ou coloração escura.

"O maior consumo mundial do açúcar não parece vir resultando de uma pura pressão econômica de consumo sobre produção.  E sim, também, de facilidades tecnológicas para a transformação do simples açúcar em regalos industrializados. O papel desempenhado pelo anúncio nesse aumento de consumo é considerável.  As técnicas de comunicação, de persuasão, de propaganda não se apresentam como simples servas de interesses econômicos, mas também como expressões de outros afãs no sentido da dominação de massas por grupos que se vêm constituindo em novas formas de poder."

Gilberto Freyre

A cana-de-açúcar trazida da Madeira (Gabriel Soares diz que veio primeiro de Cabo Verde para Ilhéus) deu origem ao primeiro engenho de açúcar, que prosperou, com o nome de engenho dos “Erasmos”, propriedade de uma firma de homens ricos da Flandres, Erasmo Schetz, a cujos feitores Anchieta se refere. Na futura vila de Santos, próxima a S. Vicente, Brás Cubas fundou o primeiro monjolo, ou engenhoca, de pilar cerealífero.

Dois anos após a fundação da vila de São Vicente, D. João III decretou a criação das Capitanias Hereditárias no Brasil, dividindo o litoral em 15 capitanias iniciais e entregando-as aos seus donatários responsáveis ​​pela colonização das terras e pelo desenvolvimento da agricultura e da pecuária, bem como além de continuar a explorar essas florestas em busca de riquezas.




O registro mais antigo até o momento parece ser do século 12 na Jordânia, embora a referência a um cone de açúcar seja encontrada no livro árabe do século IX de al-Zubayr ibn Bakkar, Al-Akhbar al-Muwaffaqiyyat. 

Na Europa, eles foram feitos na Itália a partir de 1470, na Bélgica em 1508, na Inglaterra em 1544, na Holanda em 1566, na Alemanha em 1573 e na França em 1613.

Quando o refino da beterraba sacarina começou na Europa continental em 1799, os pães eram produzidos da mesma maneira.

Até meados do século XIX, o governo britânico utilizou um sistema de impostos punitivos para tornar impossível aos seus produtores coloniais nas Caraíbas refinarem o seu próprio açúcar e fornecerem à Grã-Bretanha pães de açúcar acabados. Anteriormente, a indústria de Amsterdam tinha sido igualmente protegida da importação de açúcar branco das Índias Orientais.

Em vez disso, um açúcar bruto escuro ou muscovado, produzido nas plantações por fervuras iniciais do suco fresco da cana, era enviado em barris para a Europa no que foi a terceira etapa do Comércio Triangular.

O pão de açúcar também era o sinal do dono da mercearia, muitas vezes encontrado fora de suas instalações ou na vitrine, e às vezes encontrado em suas fichas comerciais.

O açúcar bruto era refinado por uma série de processos de fervura e filtragem.

Após a fervura final, foi considerado pronto para granulação, era vertido em um grande número de moldes cônicos invertidos.

Nos dias seguintes, a maior parte do xarope escuro e da matéria não cristalina foi drenada através de um pequeno orifício no fundo do molde para o recipiente coletor.

Para melhorar a brancura do açúcar, aplicações repetidas de uma solução de argila brancaou de açúcar de pão dissolvido em água morna foi aplicado na extremidade larga do pão.

Este foi drenado lentamente pelo pão, unindo-se prontamente com qualquer melaço restante ou outro corante e removendo-o para o pote coletor.

Os pães eram então retirados das formas, secos em um depósito contendo centenas de pães, aparados em seu formato final e embrulhados, geralmente em papel azul para realçar sua aparência branca.

Sabe-se que antes de 1500 o europeu adoçava seus alimentos e suas bebidas com um pouco de mel: desconhecia o açúcar .

 Na Europa o consumo de açúcar, foi lentamente aumentando ao longo do século XVI. 

O século XVII marca um grande aumento do consumo de açúcar, sobretudo depois que a população começou a consumir bebidas também tropicais como chocolate, café e chá da Índia. 

O historiador alemão Edmund von Lippmann descreve em detalhes a evolução do que ele chama de consumo generalizado de açúcar na Europa . 

Cita um professor da época: Hoje em dia, não há banquete em que não se gastem muitos artigos de açúcar (...) quase nada se come sem açúcar, usa-se nos temperos, no vinho, em vez de água se bebe água com açúcar, carne, peixes e ovos são servidos com açúcar, finalmente não se usa mais sal que açúcar . 

E um livro de culinária de 1570: açúcar com canela, amêndoa , uva, açafrão e água de rosa é usado em torta, bolos, pastelões, etc., como também em pratos de carne, aves, peixe, manjar branco, etc., sempre segundo o princípio: antes mais que menos.

A descoberta e a utilização da cana de açúcar acabou tornando-se uma das mais importantes “revelações” alimentares de todos os tempos. No decorrer do percurso alimentar individual e coletivo, o sabor doce acabou afirmando-se cada vez mais como codificador de prazer e bem-estar, tornando o sumo da cana e seus derivados fontes de uso quase indispensáveis. As funções atribuídas ao açúcar abrangem territórios diversificados, que interagem entre si constantemente. O açúcar torna-se, portanto, peregrino transeunte de um espaço tanto físico quanto simbólico; seu uso permite a cura das doenças do corpo e da alma, enobrece a comida híbrida filha de países imaginários, impulsionando a conquista dos mundos na rota do descobrimento do corpo e de suas extensões. 

A tradição de comer doces requintados na corte aconteceu mesmo durante o século XIX, onde grandes confeiteiros criaram especialidades que sobreviveram até os dias de hoje. 

Entre os mais famosos confeiteiros Austríaca: Sacher, Demel, Malakoff, Dobos e Linzer. 

Algumas das criações dessa geração de confeiteiros: a linzertorte, feita de nozes e avelãs moídas, depois recheada com geléia de ameixa ou framboesa; topfentascherl, um tipo de folhado recheado com queijo e coberto com açúcar; crèmeschnitte, uma mil folhas de creme extremamente delicada; gugelhupf, um bolo fofo de passas, também coberto com açúcar, que leva um pouco de uma cachaça de cereja; mohnkuchen, um bolo absolutamente delicioso elaborado a partir de sementes de papoula; dobostorte, uma torta húngara feita de pão-de-ló em varias camadas, recheadas com chocolate amanteigado e depois coberta com caramelo; e punschkrapferl, o clássico bolinho austríaco de cobertura açucarada de cor rosa, feito de uma massinha de nozes moídas embebida em rum e recheada com geléia de damasco.


Pão de Açúcar na arte de TIAGO SANT'ANA

O artista Tiago Sant'Ana realizou performances, revelando uma estratégia da produção do açúcar na Bahia através do uso de uma forma com nome “pão de açúcar”. 

Supostamente, é a estrutura em metal que inspira o nome da pedra no Rio de Janeiro.Na ação, é construída com ferro e latão uma forma de pão de açúcar – estrutura que era utilizada como tecnologia para o fabrico do açúcar no período colonial – que é tangenciada com uma conhecida e perversa ferramenta de tortura às pessoas escravizadas. Na performance, a antiga forma se transforma numa escultura de cerca de 25 quilos.

A ação justapõe a ideia de tortura não só ao caráter da violência física explícita, materializada pelos castigos, mas também em colocar a própria força de trabalho como uma agressão que destrói, diuturnamente, o corpo e a mente negra. Assim, a forma de pão de açúcar – apesar da sua harmonia visual ao ponto de ser colocada como nome de uma pedra da paisagem do Rio de Janeiro – é recorrida como mais uma máquina de destruição dentro do sistema colonial.


https://www.bahia.ws/en/history-of-the-emergence-of-the-sugar-mill-in-colonial-brazil/


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