Pequeno Dicionario da Cozinha Baiana

Verbete-A Acarajé-Bolinho de Oyá 

Dia 4 de Dezembro a Bahia se veste de vermelho para homenagear Oyá, a divindade é considerada a Senhora dos Raios e Trovões.
“Uma massa branquinha de feijão, pilado no Oló, bem aerada com cebola e frito nas línguas de fogo do azeite de cheiro.






Servido ainda quentes com uma boa dose de molho de pimenta, é talvez uma das mais gostosas experiências gastronômicas, um exemplo claro da resistência de um povo e sua dedicação ao oficio de alimentar o outro.” 

 O Acarajé é uma comida ritual do Orixá Iansã/Oyá, apesar de fazer parte do cotidiano de baianos e turistas que visitam nossa cidade. 
Documentos revelam que a celebração de Santa Bárbara teve início no final do século XVII quando o casal Francisco Pereira do Lago e Andressa de Araújo, fundou na Cidade Baixa, o morgado (vínculo dado a certos bens que deveriam ser transmitidos ao primogênito sem que este os pudesse vender) de Santa Bárbara para garantir riqueza aos descendentes do casal. 
Com o tempo, o morgado foi sendo transformado em mercado. 
De acordo com o antropólogo Fábio Lima, naquela época a celebração à Santa Bárbara era considerada uma festa marginal, bancada principalmente pelos comerciantes pobres e pela população de baixo poder aquisitivo. 
Além de ser uma festa que mesclava práticas religiosas de matriz africana em seu cortejo, reunia travestis, negros, sambistas e gente do povo, sendo perseguida e discriminada por muitos anos”, explica o estudioso.  
Segundo vários depoimentos da primeira metade do século XX, anos 30 e 40, as famílias ficavam esperando, ás sete horas da noite, a mulher do Acarajé passar, era uma espécie de cerimonia (...) 

Por que sua voz era especialmente aguda e alta para anunciar de longe ‘Iê Acarajé, Iê Abará’; ai o povo se preparava pegava o dinheiro e iam as portas. Esse acarajé e esse Abará iam nas portas, como se come ainda na Costa D’África. 
(Ubiratan Castro de Araújo) 



Na África, é chamado de àkàrà, mais precisamente na costa do Benin, atual Nigeria, ele significa bola de fogo, enquanto je possui o significado de comer. 
Segundo o antropólogo Vivaldo da Costa Lima, no Brasil foram reunidas as duas palavras numa só, acara-je, ou seja, “comer bola de fogo”. 


Devido ao modo de preparo, o prato recebeu esse nome. 


Os Beninense tem um dos alimentos mais saudáveis ​​da Africa. 
Podemos ver na foto ao lado: no Benin, África, ele é chamado de àkàràje. 

Àkàrà significa bola de fogo e jé possui o significado de comer, logo àkàràje é uma bola de fogo que se come, não podíamos esperar menos de Oyá, Orixá do dendê.
A regra de ouro é dar preferência a alimentos feitos na sua frente, para garantir a frescura e cozimento adequado. 

No entanto, existem alguns alimentos, como no caso o àkàrà, pré-fabricado, desde que eles sejam devidamente cobertos e servido com cautela, são refeições altamente deliciosas de cozimento típico local.
O acarajé, o principal atrativo no tabuleiro, é um bolinho característico do candomblé.

Sua origem é explicada por um mito sobre a relação de Xangô com suas esposas,Oxum e Iansã. 
O bolinho tornou-se, uma oferenda a esses orixás. 
Mesmo ao ser vendido num contexto profano, o acarajé ainda é considerado, pelas baianas, como uma comida sagrada. 
Por isso, a sua receita, embora não seja secreta, não pode ser modificada e deve ser preparada apenas pelos filhos-de-santo. 
O acarajé é feito com feijão fradinho, que deve ser quebrado em um moinho em pedaços grandes e colocado de molho na água para soltar a casca. 
Após retirar toda a casca, passar novamente no moinho, desta vez deverá ficar uma massa bem fina. 
A essa massa acrescenta-se cebola ralada e um pouco de sal. 
O segredo para o acarajé ficar macio é o tempo que se bate a massa. 
Quando a massa está no ponto, fica com a aparência de espuma. 
Para fritar, use uma panela funda com bastante azeite-de-dendê ou azeite doce. 

Normalmente usam-se duas colheres para fritar, uma colher para pegar a massa e uma colher de pau para moldar os bolinhos. 
O azeite deve estar bem quente antes de colocar o primeiro acarajé para fritar. 

Esse primeiro acarajé sempre é oferecido a Exu pela primazia que tem no candomblé. 
Os seguintes são fritos normalmente e ofertados aos orixás para os quais estão sendo feitos. O acará Oferecido ao orixá Iansã diante do seu Igba orixá é feito num tamanho de um prato de sobremesa na forma arredondada e ornado com nove ou sete camarões defumados, confirmando sua ligação com os odu odi e ossá no jogo do merindilogun, cercado de nove pequenos acarás, simbolizando "mensan orum" nove Planetas. 
(Orum-Aye, José Benistes). 

O acará de Xangô tem uma forma ovalar imitando o cágado que é seu animal preferido e cercado com seis ou doze pequenos acarás de igual formato, confirmando sua ligação com os odu Obará e êjilaxeborá.  

                     Caymmi -Preta do Acarajé 























“Dez horas da noite 
Na rua deserta 
A preta mercando 
Parece um lamento Ê o abará 
Na sua gamela Tem molho e cheiroso 
Pimenta da costa 
Tem acarajé Ô acarajé é cor 
Ô la lá io 
Vem benzer 
Tá quentinho 
Todo mundo gosta de acarajé 
O trabalho que dá pra fazer que é 
Todo mundo gosta de acarajé Todo mundo gosta de abará Ninguém quer saber o trabalho que dá Todo mundo gosta de acarajé 
O  trabalho que dá pra fazer que é Todo mundo gosta de acarajé 
Todo mundo gosta de abará Ninguém quer saber o trabalho que dá Todo mundo gosta de abará Todo mundo gosta de acarajé 
Dez horas da noite 
Na rua deserta 
Quanto mais distante 
Mais triste o lamento 
Ê o abará... 




Ainda hoje em muitos pontos da cidade do Salvador, podemos ver (Pegis) Oratórios em louvor a Santa Barbara, Iansã ou Oyá.

Onde se confraternizam pessoas de todos os credos,  saboreando um delicioso Caruru.






Lenda do Acará 
O acará (àkàrà) era um segredo entre Oxum e Xangô. 
Oxum sabia os segredos de preparar o Acarajé, uma forma figurada do Agerê (o fogo que é feito nas obrigações de Xangô). 
No dia do Agerê, Xangô entra com Oxum e Iansã(Oyá) que trazem a panela do Agerê (sua comida), que era preparada por Oxum, e pede a Iansã que colocasse em sua cabeça e levasse para Xangô. 
Iansã sempre cumpria este ritual e entregava a Xangô, saindo em seguida, e logo depois trazendo a panela como se já tivesse comido o que tinha dentro. 
Um dia, Iansã estava cansada das incursões de Xangô, Iansã quis dividir os afetos de Xangô com Oxum, quando Oxum preparou o prato e pediu que ela levasse para Xangô, pediu mais uma vez que Iansã levasse a comida, ela colocou na cabeça e seguiu. Oxum nunca tinha dito que ela não olhasse o que tinha dentro da panela, Oxum desconfiou que Iansã iria olhar o segredo para ver o que havia na panela, e ver o que comia Xangô. Na metade do caminho Iansã, olhou para os lados e viu que não estava sendo observada, abriu a panela, e subia aquela língua de fogo. Descobrindo o segredo, ela disse, agora sei o que ele come, ele come Acará, tampou rapidamente a panela, colocou na cabeça, e se apresentou a Xangô. Os deuses sempre sabem o que o outro fez ou vai fazer, Xangô, olhou bem nos olhos de Iansã e disse: Você viu o que eu como? Ela disse sim:- É Acará. 
Ele perguntou:- E o que é Acará? Ela disse: - É fogo, Xangô come fogo. Ele falou: - Só minhas esposas podem saber meu segredo, só minhas esposas comem. Na verdade não era bem assim, Oxum preparava, mas não comia, ai ele disse: - Você meta sua mão e vai comer comigo agora. Ela olha o fogo e come o Acarajé, (Jé que quer dizer comer em Ioruba) Acarajé quer dizer comer acará. Sendo assim Iansã passou a comer acarajé e ser uma das mulheres de Xangô. 

O Acarajé é comida sagrada e ritual do Candomblé, ofertada aos Orixás, principalmente a Xangô (Alafin, Rei de Oyó) e sua mulher a rainha Oya(Iansã), compartilham também Obá e os Erês nos cultos daquela região. 

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