Livro Capoeira Angola - Ginga e Ancestralidade tem lançamento na Fundação Pierre Verger

Livro Capoeira Angola - Ginga e Ancestralidade resgata origens da “arte da mandinga” brasileira 

Uma iniciativa que evoca a ancestralidade da Capoeira Angola, dialogando com sua prática contemporânea. 

A tradição desta expressão artística e cultural é o tema do livro Capoeira Angola – Ginga e Ancestralidade.
A obra, com textos assinados por Cinézio Peçanha, mais conhecido como Mestre Cobra Mansa, e pelos pesquisadores Eduardo Oliveira e Matthias Assunção. 

A publicação, que já teve reconhecimento internacional durante o seu pré-lançamento em Maputo (Moçambique), terá distribuição gratuita em escolas públicas, bibliotecas e universidades.
Idealizado em homenagem aos 20 anos da Fundação Internacional de Capoeira Angola (FICA), um dos principais grupos de referência da modalidade no Brasil e no mundo, o livro faz um resgate histórico da capoeira e do surgimento do estilo Angola, evidenciando o que é consenso e convidando à reflexão sobre as divergências de interpretação quanto a sua origem. 

“O livro Capoeira Angola – Ginga e Ancestralidade é uma homenagem a toda a ancestralidade contida na Capoeira Angola, um tributo aos que vieram antes e àqueles que continuam a preservar a memória dessa manifestação nas suas mais diversas formas”, declarou o mestre Cobra Mansa, um dos fundadores da FICA e doutorando do Programa Multi-Institucional em Difusão do Conhecimento da UFBA. 

Produzido pela Barro de Chão, o projeto traz, em 244 páginas, um panorama sobre a Capoeira Angola, numa linguagem multimídia, com fotos históricas de Pierre Verger e autorais de fotógrafos como Aramaca, além de gravuras de Carybé, que ilustram e revelam o encanto da “vadiagem” no mais autêntico estilo angolano.
Ao folhear o livro, os leitores são convidados, por meio de códigos QRs, a guiar sua descoberta com a trilha de toques da capoeira, ladainhas, além de assistir a vídeos e entrevistas exclusivas.
“Mergulhar no universo da capoeira e conhecer mais sobre a história da ginga e ancestralidade da capoeira angola foi uma jornada única.
Em meses de trabalho, só encontrei portas abertas, além de personagens fantásticos – historiadores, mestres, alunos, admiradores de Salvador, do Brasil e do mundo”, declarou Mauro Rossi, CEO da Barro de Chão.
Além de uma rica imersão na história da capoeira e sua ancestralidade, construída a partir dos estudos dos pesquisadores Cinézio Peçanha, Eduardo Oliveira e Matthias Assunção, a narrativa da obra é construída com depoimentos de guardiões veteranos e contemporâneos da Capoeira Angola, como o Vicente Ferreira Pastinha, o Mestre Pastinha, considerado pioneiro ao reivindicar e difundir a versão mais autêntica da capoeira, Mestre João Grande, Mestre Moraes, Mestre Valmir Damasceno e Mestre Cobra Mansa
“Angola, capoeira, mãe. E, embaixo, o pensamento: Mandinga de escravo em ânsia de liberdade. Seu princípio não tem método e seu fim é inconcebível ao mais sábio capoeirista”, depoimento do Mestre Pastinha (1889 – 1981), reproduzido na obra. Capoeira Angola* – Berimbau, mandinga, ginga e malícia são referências instantaneamente associadas à capoeira.
Mas é no estilo Angola que ela assume sua versão mais holística, diferente da modalidade esportiva ou Regional difundida mundialmente pelo Mestre Bimba.
Até a década de 1930, a manifestação na Bahia era chamada simplesmente de capoeira ou vadiação.
No entanto, era associada especificamente aos negros africanos vindos da Angola.
Os professores de vários mestres famosos são lembrados como tendo linhagem de Angola.
Pastinha lembra-se de seu professor Benedito como um negro Angola.
Nesta mesma década, um movimento cultural que visava reabilitar a cultura afro-baiana contribuiu para dar visibilidade às diferentes nações do candomblé na Bahia, quando foi realizado, por exemplo, o primeiro censo de terreiros e suas afiliações ancestrais. Ressaltar os vínculos com tradições africanas específicas podia ajudar a distanciar o candomblé da pecha de “baixo espiritualismo”, considerado charlatanismo e crime conforme o código penal da época.
A consagração do candomblé nagô/iorubá vem também deste período.
Acredita-se que a denominação Capoeira de Angola tenha surgido nesse contexto, através da qual os mestres tradicionalistas enfatizavam a linhagem e a ancestralidade da arte.
O ‘de’ caiu em desuso posteriormente, o estilo ficou conhecido como capoeira angola e seus praticantes, em analogia com os integrantes de terreiros de Angola, angoleiros.
Mestre Pastinha – A partir de 1941 ou 1942, Vicente Ferreira Pastinha assumiu a direção do Centro esportivo Capoeira Angola e dedicou o resto da sua longa vida a promovê-lo.
Foi um jogador de habilidades extraordinárias, iniciado à capoeira no final do século 19, pelo lendário Benedito, um liberto angolano.
Praticou esgrima, técnica de navalha e ginástica sueca enquanto serviu na marinha. Foi um músico talentoso que não somente aprendeu música de capoeira, como também recebeu instrução na orquestra da marinha.
Ele contribuiu muito para instituir uma tradição musical na capoeira angola. Depois de experimentar vários instrumentos, estabeleceu a composição da bateria com três berimbaus, dois pandeiros, um atabaque, um agogô e um reco-reco. Foi o primeiro “intelectual orgânico” da capoeira baiana, ou “cidade gingada” em oposição à cidade letrada.
Foi o único da sua geração a reivindicar uma ancestralidade angolana específica.
Quando soube, em 1965, por um pintor luso-angolano de passagem, que existiria uma manifestação similar à capoeira no Sul de Angola, mudou seu discurso sobre as origens.
O mestre refletiu sobre a capoeira como filosofia e preocupou-se com seus aspectos éticos e educacionais.
A música e o ritual associado ao jogo faziam da capoeira angola uma arte holística mais complexa que um simples esporte.
Ainda que não tenha inventado um novo estilo, ele contribuiu, mais que qualquer outro, a codificar a capoeira do seu tempo, estabelecendo normas para a Capoeira Angola, ainda válidas hoje.
Institucionalizou-se a ladainha, a chula e o corrido como as três formas sucessivas para iniciar uma roda.
Também contribuiu para estabelecer o formato da bateria: três berimbaus, dois pandeiros, um atabaque, um agogô, e um reco-reco.


Serviço
Livro Capoeira Angola - Ginga e Ancestralidade resgata origens da “arte da mandinga” brasileira, tem
lançamento marcado para a próxima quinta-feira (12), na Fundação Pierre Verger 
será lançada na próxima quinta-feira (12), das 18h às 22h, na Fundação Pierre Verger, em evento aberto ao público. 

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