Pequeno Dicionario da Cozinha Baiana

Verbete-A Arrumadinho
Esmerado, completo, acabado, acurado, aperfeiçoado, caprichado, excelente, elegante, alinhado, cuidado, aprimorado, rebuscado, requintado, apurado, perfeito, gracioso, distinto, chique, impecável, são sinônimos do prato que vamos falar hoje. 


















Com um pé nas origens do Brasil, o Arrumadinho é uma síntese do paladar Nordestino, que vem sendo construído ao longo de seculos, e por ser uma contribuição coletiva, se torna difícil precisar sua autoria, ou mesmo o lugar onde nasceu. 

Ele tem na sua forma de preparo, as cores, as texturas, um ar casual, sem ser pedante, foi feito para compartilhar, essência da diversidade do sabor Brasileiro, um pouco de litoral, uma pitada de sertão e muito de urbanidade, chegou rompendo os limites do regional, mostrando que a febre por um pais moderno, é ser ele mesmo, sem espaço para exclusões. 

São camadas de alimentos entremeada de símbolos, de uma cultura que custa a perceber a força e importância de sua heterogeneidade. 
Fazendo uma breve analise do nome desta iguaria, talvez tenha nascido com o intuito de quebrar o estigma que sofrem os nascidos no nordeste do pais, que padecem desde sempre, de sentimentos ambivalentes de fascínio e repulsa, preconceito e aceitação, envolvimento e distanciamento e a dificuldade de reconhecimento do outro em si mesmo compõem a história da construção da identidade nacional.

Ele não pleiteia, sugere, este talvez seja a mais deliciosa das suas características, um prato composto, onde ha de tudo um pouco, uma pequena mostra de nosso reconhecimento à mesa. 
O Arrumadinho, passa ao largo das criticas, existe ali uma organicidade que os detratores não compreendem, coisa assim de feira nordestina, onde em meio ao caos, tudo faz sentido. 
Rural e urbano, ha muito o Arrumadinho deixou as mesas do Nordeste, hoje é possível encontra-lo nas mesas chiques dos restaurantes sul, já foi redesenhado por muitos chefs, no intuito de "sofistica-lo", ele se mantem imune, não sabendo eles que o prato já nasceu sofisticado e cosmopolita.

Tem esse quê de comida feita em fogão a lenha, de prosa ao pé do fogão, sem pressa. 
Suas originalidade se revela na composição, feijões diversos, farofa, carne do sol, fumeiro ou charque, e uma pimentinha para dar calor, o Arrumadinho, nós remete aos sabores primordiais do brasileiro, elementos do cotidiano, seu irresistível charme, sua simplicidade. 

A cada garfada, vamos compreendendo bem o sentido da diferença entre um alimento e uma comida, esse espaço subjetivo entre o dever e o prazer. 

São muitos os métodos de cocção no mesmo prato, convivendo harmoniosamente, frito, cozido, cru, refogado, com distintas temperaturas entre seus elementos: frio, quente, as vezes sequinho, as vezes molhado e úmido, untuoso e farto, mesmo com suas variações de elementos, por todo o nordeste, o Arrumadinho, guarda o básico principio, contemplar a todos. 



Democrático, não há regras pré estabelecidas, no melhor estilo (faça sua composição) para alguns, Feijão Fradinho ou Verde, Manteiga de Garrafa para fritar a carne do Sol ou o Charque, deste refogado surge ela a farinha, ou melhor a Farofa, essa instituição nacional, para finalizar, uma saladinha de tomates, cebolas e coentro, tudo isso picado na mão, como reza o costume local, dão um toque de frescor.
Tudo bem acompanhado de um cachacinha, nós faz compreender o sentido de uma comida com identidade.

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