Gastronomia Alentejana e suas semelhanças com a Culinária do Nordeste Brasileiro.

Portugal jamais permitirá o estranhamento à mesa que o paladar experimenta em viagens ao estrangeiro. 
Como dizia Câmara Cascudo, este é o mais pátrio dos sentidos.
O bom viajante sabe que um dos mais importantes princípios do turismo, é estar aberto a provar, ampliando à formação do paladar, num exercício sensorial, e o conhecimento de ingredientes inusitados.
Percorrer a tradicional cozinha portuguesa não é apenas travar contato com uma das gastronomias mais remotas e de sabores absolutamente íntegros, mas incorrer pelo próprio útero do que viria a ser a cozinha brasileira.  
Portugal, à mesa, fala diretamente ao nosso imaginário afetivo.
















Se não, vejamos: nosso tradicional pirão, por exemplo, a fórmula que Gilberto Freyre apontava como o mais brasileiro dos pratos, segundo alguns, nada mais é do que uma versão tropicalizada da açorda. 
Prato clássico do Alentejo, região de dificuldades como o Nordeste brasileiro, é uma receita típica de povos obrigados historicamente ao aproveitamento integral dos ingredientes.

Consiste no caldo resultante do cozimento de qualquer carne engrossado, como um mingau, com pão velho. 

Observemos o preparo de um pirão: o mesmo caldo resultante de algum ensopado (de carne, peixe ou aves, como no caso do outrora).
Vamos aqui recordar do popular pirão de parida feito no Sertão para recuperar a força das mulheres que deram à luz) engrossado não com pão, mas com farinha de mandioca. Carente de trigo, até pouco inexistente no Brasil, o português colonizador se viu obrigado a adotar o pão da terra: a mandioca cabocla das aldeias. 
 Percorrer a cozinha tradicional de Portugal ajuda a entender a formação da personalidade culinária brasileira. Ressignificada, a açorda não aparece apenas na mesa camponesa. 

E falando em ressignificação, o que dizer das "Migas Alentejanas" e a sua clara semelhança com a nossa tradicional Farofa.
E, claro, a carne de porco, que se observarmos tem suas raízes tradicionais e vasto receituário nas Minas Gerais. 

A tradição da Matança Portuguesa, com a presença do "Talhante", responsável pelo desmanche, onde tudo se aproveita, das carnes mais nobres aos miúdos, até o sangue, também nos remete ao trato dos vaqueiros . 
Até bem pouco tempo atras, a comida em diversas partes do Brasil, era guisada com a banha de porco e torresmo, elemento fundamental na confecção dos pratos. 
Ainda falando do Porco, não poderia deixar de lembrar dos "Miudos" as partes do intestino do animal, que na Bahia eram vendidas por fateiras, e se prestavam a confecção do Sarapatel ou Sopa de Cachola no Alentejo, e da Dobradinha, ( que apesar de estar mais ligada a região do Porto) chegou por mãos portuguesas, além muitos outros pratos tradicionais da cozinha baiana. 

Do Bucho do Bode temos a nossa tradicional "Buchada", que no Alentejo chama-se "Bucho Recheado"

“Os arrozes em Portugal são delicias à parte, feitos molhadinhos, escorrem no garfo. 

Por isso, são chamados de malandrinhos”, continua, lembrando da larga tradição de arrozes de Portugal. 
Na Bahia, come-se a "Galinha (Ao molho Pardo)", que se aproxima do "Arroz de Cabidela", preparação feita com o sangue da galinha. 
Em cada região, haverá sempre uma especificidade, um bastião culinário. 
Na Bairrada, por exemplo, ficam os famosos leitões assados (que podem ser maravilhosamente harmonizados com o interessantíssimo e bem ácido, para contrapor a gordura natural da carne, espumante tinto local). 
Cabritos, Borregos e o Bode do Sertão do Brasil. 
O cabrito e borrego português em Marvão, servidos com batatas e grelos, também são patrimônios que nos remetem á forma de preparo do Bode Assado na brasa do nosso Sertão, com aipim cozido e manteiga de garrafa.  
De Portugal, o Brasil herdou o azeite (e as frituras), as galinhas, a cebola, o alho, o tão estimado coentro, os ensopados suculentos.

A tradicional peixada pernambucana, por outro lado, é uma solução local para a Caldeirada Algaravia – como, de resto, o cozido brasileiro e, há quem defenda, até mesmo a feijoada.

A utilização do coentro e do cominho o hortelã fino e grosso, e até o cravo, lembram muito o tradicional "Tempero Mineiro" tão bem registrado no Livro: Minas de Forno e Fogão - Maria Stella Libanio Christo, uma verdadeira Ode, aos sistemas culinários da região.  
E como esquecer das delicias da cozinha doce brasileiras, muito tipico das épocas Juninas, como o Arroz Doce e as Rabanadas, ou mesmo os Quindins corruptela das "Brisas do Liz" tipico doce Lusitano.

São tantas as referencias, que é possível afirmar a  sensibilidade despertada por Cascudo, sobre a importância das nossas raízes gastronômicas lusitanas

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