História do Biscoito Globo vira livro; veja algumas curiosidades

Ó, o Globo! é uma homenagem apaixonada a um dos principais patrimônios do Rio de Janeiro. 


















A biografia de Ana Beatriz Manier levanta aspectos desconhecidos e deliciosos sobre a produção do biscoito, misturados à história da cultura carioca e da vida de empreendedores que fizeram do negócio um grande sucesso. Curiosidades incríveis e inéditas, a receita e detalhes da produção da iguaria crocante, desdobramentos da polêmica crítica do New York Times em 2016, depoimentos de famosos e anônimos, e encarte com imagens e fotos encantarão leitores. A história do alimento se funde às trajetórias das famílias donas do negócio. 

A biógrafa retoma a chegada dos emigrantes Ponce e Morales, vindos da Espanha para Franca em busca de melhores condições de vida e trabalho, focando em seguida na figura do paulista Milton Ponce, que ainda adolescente aprende a fabricar biscoitos na padaria de um primo no Ipiranga, mudando-se depois para o Rio de Janeiro em 1955, para fomentar vendas no 36º Congresso Eucarístico Internacional. Com o sucesso das vendas maior do que o previsto, é então aberta uma fábrica em Botafogo. A vinda para a capital carioca provocou uma mudança societária, contando mais à frente com a entrada da família Torrão no negócio e a mudança do nome do biscoito para Globo. 

A biografia aborda outro aspecto polêmico e inusitado para marqueteiros: como uma marca que preserva a mesma embalagem da criação (inspirada no bonequinho crítico de cinema do jornal O Globo) pode ser cada vez mais conhecida e positiva junto a consumidores e formadores de opinião, já que a empresa Biscoito Globo se recusa a investir em publicidade e divulgação? ´

Enquanto empresas de vários segmentos precisam alugar aviões para puxarem banners pelo céu, bem à vista dos frequentadores das praias, o Biscoito Globo tem sua própria vitrine circulando pela areia, no ombro de cada um dos 350 a 500 ambulantes que carregam sacos transparentes de 70x90cm exibindo sua marca bem na altura dos olhos de qualquer banhista. Saindo do âmbito da praia, a história se repete também em outros locais de grande visibilidade e aglomeração: nos engarrafamentos. 
Nas mídias é a mesma coisa. Sai no jornal, sai na revista, passa na novela. As pessoas nem percebem que estão fazendo propaganda. Não há exploração da marca por parte da empresa e nem política de licenciamento. 
É como se o nome Biscoito Globo fosse de domínio público. A grande propaganda do Biscoito Globo é não fazer propaganda´´, explica a autora Ana Beatriz Manier, que se apaixonou na infância pelo produto, degustado em travessias das barcas Rio-Niterói. 
 Depoimentos de cariocas da gema ou de adoção, famosos ou anônimos apaixonados por Biscoito Globo, como Helô Pinheiro, o ex-prefeito Eduardo Paes, Ziraldo, foram coletados pela biógrafa: “Já perdi a conta do número de vezes em que o Biscoito Globo me salvou a vida no passado. 
Na rua, às pressas, entre um compromisso e outro de trabalho e sem tempo para almoçar, era só esticar o braço e aparecia um providencial vendedor – para me dar prazer e mitigar a fome. 
O incrível do Biscoito Globo é que ele não é gostoso só quando você está com fome. Acho que ele iria bem até no meio de uma feijoada. A outra coisa importante para mim é que, quando volto de alguma viagem – e os que me conhecem sabem que não gosto de sair do Rio –, a melhor maneira de constatar que estou de novo em casa é quando vejo à venda um saco do Biscoito Globo”, afirma Ruy Castro, jornalista e escritor. No capítulo Ambulantes, nossos heróis do asfalto e das orlas contam suas histórias de superação e dicas para ter sucesso na profissão. 
Algumas Curiosidades de Ó, o Globo! 
 1 – O funcionário mais antigo do Biscoito Globo, Hildo Gonçalvez, começou a trabalhar como ajudante
de Milton em 1958. 
Com 44 anos de empresa, aposentado em 2002, aparece sempre por lá para papear e matar a saudade do patrão que considera amigo e irmão. 
 2 – Os saquinhos do Biscoito Globo são feitos de papel vegetal com uma película perolizada por dentro, para que a gordura seja absorvida e os biscoitos não percam a “crocância” em contato com o sol. 
 3 – A receita do biscoito é simples – polvilho, gordura, leite e ovos – e permanece praticamente a mesma desde o início de sua produção, ainda em São Paulo. 
O que se faz hoje são adequações ditadas pela qualidade do polvilho: um pouco mais de gordura, de leite, de sal ou de açúcar. 
 4 – Os funcionários do Biscoito Globo levam, em média, 8 segundos para colocar nove rosquinhas dentro do saquinho de papel e dar aquela dobradinha nas laterais. 
 5 – Após a compra do Matte Leão pela Coca-Cola, foi
a vez do Biscoito Globo ser alvo de uma proposta
da multinacional. A cifra milionária, no entanto, não foi aceita pelos donos. 
 6 – O Biscoito Globo e seus ambulantes informam: 70% das vendas são de biscoito salgado e 30% de doce. 
 7 – Após a matéria publicada no New York Times,a venda de Biscoito Globo para outros estados do Brasil disparou. 
Antes restrito ao estado do Rio de Janeiro e há pouco mais de um ano conquistando fãs em São Paulo, a iguaria carioca logo começou a ser encomendada por lojistas do Distrito Federal, de Minas Gerais, do Paraná e do Rio Grande do Sul. Ó, o Globo! 

SOBRE ANA BEATRIZ MANIER 
 Tradutora e escritora, Ana Beatriz Manier nasceu em Niterói e está radicada em Nova Friburgo há mais de 30 anos. É formada em Administração de Empresas e em Letras, com especialização em língua inglesa, literaturas de língua portuguesa e tradução. Assinou a tradução de autores, como Robin Pilcher, Nora Roberts, Mary Rourke e Dee Shulman. Sua estreia como escritora foi em 2011, com o infantil Astrobeijo (Editora Cubzac). Publicou vários contos e crônicas em portais, como o Cronópios, Autores S/A e a Revista SAMIZDAT. Participou também das antologias Poesia.com (Editora Multifoco) e Contos Mínimos (Editora Penalux). 

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