Pequeno Dicionario da Cozinha Baiana.

Verbete-M Malamba 
Malambas: (uma palavras m'bundo que que tanto pode significar "palavras" como "conversas") 






A Malamba é um prato típico do Cochó do Pega, hoje Seabra, na Chapada Diamantina. 
Das quituteiras do lugar, a melhor malamba era feita por Donana, servida sempre nas festas tradicionais da região. Segundo ela, a malamba era o melhor prato pra se servir nos casamentos, porque com a desculpa do excesso de pimenta os ex-namorados da noiva e as ex-namoradas do noivo podiam chorar à vontade sem preocupação ou acanhamento. 

O cultivo do milho no Brasil, vem desde antes do descobrimento, os índios guaranis, tinham o cereal como o principal ingrediente de sua dieta. 
Com a chegada dos portugueses, o consumo aumentou e novos produtos à base de milho foram incorporados aos hábitos alimentares dos brasileiros. 
O milho, plantado pelos portugueses para alimentar os animais, era dado aos negros como fruta, assado ou cozido. Nas mãos deles, encontrou outras finalidades, como o angu de fubá e o cuscuz. 


A Coroa Portuguesa nunca perdera as esperanças de encontrar metais preciosos nas suas terras na América. 
Essa esperança era alimentada pelas lendas sedutoras da cidade de Manôa, das Serras das Esmeraldas e de Sabarabuçu. 
A descoberta do ouro no interior da colônia, se nos menores detalhes foi obra da casualidade, na sua concretização foi, acima de tudo, obra da persistência histórica. 
Os primeiros núcleos de povoamento da Chapada Diamantina surgiram no início do século XVIII, com o crescimento das minas de ouro de Jacobina e Rio de Contas. 
A Coroa Portuguesa determinou uma abertura de uma estrada que ligasse as duas regiões de exploração aurífera. Esta estrada, chamada de “Estrada Real”, contava hoje as terras pertencentes ao município do Seabra, até então desertas. Muitos portugueses foram atraídos pelo garimpo do ouro, mas desiludidos com as exigências do Império vinculadas ao precioso metal, se fixaram naquela região, dedicando-se à agricultura e pecuária. 
O primeiro núcleo de povoamento foi a Vila de Iraporanga (Ex - Esconso e Parnaíba), hoje Iraquara.


Seabra possui locais de valor histórico, como Campestre e Vale do Paraíso, que ainda se mantêm praticamente intocáveis desde que surgiram. Na praça Quintino Bocaiúva, em frente ao prédio dos Correios, está o marco do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) indicando o centro geográfico da Bahia.

É tradição oral que a cidade de Seabra antes denominada povoado de São Sebastião do Cochó do Pega, originou-se de um aglomerado de casas de palhas que serviam de pouso aos viajantes, no início chamado de Passagem de Jacobina. 

Provavelmente, na mesma época surge a povoação de Campestre que foi a primeira Sede do município. Segundo Manuel Pereira de Godoy), na cozinha dos mais pobres e até dos mais abastados, havia o fogão e o forno separado e à lenha. Grande parte dos utensílios de cozinha e de mesa era de ferro, de barro queimado e de madeira, como as gamelas, feitas de raízes; colheres, garfos e pás de pau, de caxeta, madeira branca, mole e que não dá gosto à comida. 
Em nenhuma casa podia faltar o pilão, de vários tamanhos e para diversas utilidades: descascar arroz, moer o café em grão torrado, fazer paçocas de carne seca com farinha de milho e de amendoim torrado com farinha de mandioca. 
Na maioria dos quintais e na zona rural existia um poço perto de cada casa, com sarilho em corda e balde para tirar água de beber, para lavar louças e panelas e roupas, para cozinhar, etc. 
A comida principal e diária do passado, foi o arroz e o feijão, acompanhados de farinha de milho. Como “mistura” às refeições eram usadas carnes de caça, de vaca e de porco, lingüiças, torresmo, couro de porco frito e bem pururuca, ovo frito e em forma de farofa com farinha de milho ou de mandioca, peixe frito, assado ou ensopado, palmito do mato, pão e biscoito feitos em casa. 
Como doces: doces de leite e em pedaços, de abóbora, de cidra, de coco, de mamão, de figo, de pêssego, pés de moleque, cidrões e rapaduras e saborosos sequilhos e biscoitos de polvilho azedo, bolos e broinhas de fubá. 
Um lugar com água, florestas, cavernas e pedras preciosas é com certeza um lugar especial, sendo assim e diante de centenas de pinturas e inscrições rupestre comprovamos que a região foi ocupada à milhares de anos. Porém a invasão colonizadora e escravocrata foi intensificada com a descoberta de ouro no começo do século XVIII. 
As ultimas tribos indígenas foram dizimadas, e através de Jacobina ao norte da Chapada e Rio de Contas sudoeste , essas foram as primeiras cidades da região. 
O problema da alimentação na fase mineradora era grave não só para os escravos (mal vestidos e mal alimentados), como também para os homens livres, nas lavras auríferas e, notadamente, para os que viviam nas cidades. 














Os naturalistas austríacos Spix e Martius,que percorreram uma área considerável do Brasil entre os anos de 1817 e 1820, inclusive o sertão do rio S. Francisco, a Chapada Diamantina, parte do Recôncavo, Salvador, o sul da Bahia e parte do território semi-árido ao norte da capitania baiana, registraram que sertão era como os mineiros denominavam a vasta zona pouco povoada de “terreno desigual, muito interrompido, ora montanhoso, ora estendendo-se em vastas chapadas”. 
Avançando da parte ocidental do rio Jequitinhonha, na Vila de Bom Sucesso do Fanado, no termo de Minas Novas, em direção ao território baiano, até a fronteira do sertão, os pequenos povoados de Tapera, Curralinho, Jenipapo, Salgado, Catingas e Torto, “numa aprazível região aberta; cuja vegetação já trazia vestimenta primaveril, e cujo cultivo e população sempre crescente já anunciavam a proximidade de uma grande cidade” - Cachoeira Das anotações de Durval Vieira (1979, p. 181-184), há mais relatos da economia do município. Nota sobre a feira, “um tanto acanhada”, a abundância de cereais, mas “por preços ridículos”. 
E sobre as lavouras e criações, exuberantes no período chuvoso, este viajante destaca a criação de gado cavalar e vacum; as lavouras de milho, feijão, mandioca, fumo, algodão e o cultivo de frutas diversas; a existência de algumas engenhocas e alambiques que fabricavam cachaça, açúcar, rapadura, farinha e requeijões
No entanto, “[...] tudo ainda acanhadamente às necessidades do consumo”, e o que se exportava por tropas, a exemplo do algodão, “[...] é feita mais como lastro, do que como negócio, visto que para uma remessa constante o frete absorveria os lucros”. Menos de uma década depois, os registros em inventários post mortem documentam uma movimentação econômica mais acolhedora. 
Teodoro Sampaio chegou a Caetité por ocasião das festas de Reis. 

Nos quatro dias que permaneceu na “rica” cidade, “[...] cujo aspecto é deveras grato ao viajante que vem do sertão”, documentou uma economia que se diferia das vilas, povoados e lugarejos até então percorridos: Visitando pela manhã o mercado da cidade, que parecia uma feira bastante freqüentada, notei, além dos requeijões, couros e outros produtos da indústria pecuária, abundância de legumes, batatas-inglesas, batatas-doces, inhames, hortaliças, abó- boras, melões excelentes, grandes e boas melancias, mendubis, muito milho, arroz, feijão, rapadura, açúcar, excelente farinha de mandioca que, segundo me informaram, é aqui a produção mais avultada, principalmente na freguesia de Umburanas, nos distritos dos Furados e de Caculé, no rio do Antônio, exportando-se dela em tão larga escala para outros municípios que com razão se considera Caetité o celeiro próvido destes sertões. 

Os relatos de outro observador do sertão, Pedro Celestino
da Silva (1932, p. 163-173), revelam “a breves traços” aspectos da sua situação econômica: “Caetité com justo motivo, tornara-se o celeiro próvido desses sertões”. 
Nota quanto à pecuária, que a criação do “gado vaccum” remonta a tradição antiga estimulada pelo comércio do “corte, das pelles, couros e lacticinios”. Exportava-se gado, “couros seccos”, “pelles”, “solla”, algodão, borracha, feijão, arroz, milho, toucinho, rapadura, requeijão, aguardente. Importava-se “fazendas nacionaes e estrangeiras”, molhado, ferragens, miudezas, drogas, “phosphoros”, calçados, louça, “kerozene”, gasolina, “productos pharmaceuticos”.
Impressionado com o “Mercado” da cidade, Pedro Celestino relata uma exposição agropecuária realizada em 12 de maio de 1918, “por iniciativa da Sociedade Evolutiva de Caetité”, que testemunhava sua “opulenta fonte de riquezas”. 
Na praça do “Mercado” foram expostos “touros de raça, animaes de differentes especies”, e em seu recinto produtos agrícolas e industriais. 
O artesanato e a culinária local foram exibidos no Paço Municipal: “[...] centenas de objectos artisticos, prendas, doces, bebidas, minerios, recebendo os expositores os mais francos louvores dos visitantes”. 
Outros municípios marcaram as suas presenças, como os de Bom Jesus dos Meiras (atual município de Brumado) e “Jacaracy”. 
Os expositores mais destacados receberam prêmios por seus ofícios exitosos.39 Os relatos de viajantes e inventários evidenciam a existência de uma economia diversificada no alto sertão e caracterizada por uma pecuária e lavoura que produziam para o abastecimento interno e para exportação; uma agricultura que alimentou a população pobre do sertão e cujos excedentes transportados em carros de boi e em bestas embruacadas, eram vendidos nas pequenas e nas mais ativas feiras locais; um comércio de produtos para exportação e de importados que intensificava o contato com o litoral. Atividades como a criação de gado e a lavoura, os pequenos engenhos, alambiques e casas de farinha, a “indústria” extrativa de sal, ametista e demais minérios, os empréstimos a juros e o tropeirismo dinamizaram a economia do alto sertão e mantiveram padrões de enriquecimento para parcela reduzida da sua população no final do século XIX e início do XX. 
Sobre a agricultura, detalha outras culturas cultivadas nas fazendas, roças e sítios: mandioca, arroz, feijão, milho, café, fumo, ervilha, batata doce, “andú”, fava, frutas, hortaliças, verduras – “abobora”, quiabo, “chuchú”, maxixe, taioba, couve, alface, coentro, “giló”, nabo, tomate, “cebolla”, hortelã, alho, pimenta malagueta, pimenta de cheiro, pimentão
Nos quintais, e também nos sítios, “grande é o cultivo das plantas fructiferas e alimentares”: laranja, lima, limão, tangerina, araçá, “genipapo”, maracujá, jaca, “jaboticaba”, mamão, manga, “fructa do conde”, “pecego”, marmelo, pitomba, abacate, caju, banana, “fructa-pão”. As flores “[...] são a fonte de gosos [e] merecem grande carinho dos amadores; revelado em bens cuidados canteiros; em quintaes, em jardins tratados com muito esmero e gosto [...]”: rosa, cravo, “dhalia”, cravina, saudades, amor perfeito, bogari, sempre viva, murta, flor de cera, “camelia”, boas noites, “angelica”, bonina, alecrim, “mangericão”, malva cheirosa, “myosolis”, mal-me-quer, jasmim, “madresilva”. 
No final do século XVIII , encontra-se na região os primeiros diamantes, provocando uma corrida de milhares de garimpeiros de todos os lados do Brasil, principalmente de Minas Gerais e do recôncavo baiano. 
Mucugê , Lençóis e Andaraí nasceram em berço diamantífero mas com o sangue da mão de obra escrava. 
Utilizando as trilhas dos índios e construindo novos caminhos na região. 
A Serra do Sincorá foi quase em sua totalidade revirada pelos garimpeiros, fazendo dessa região um dos lugares mais ricos do mundo. È nessa época que se encerra a escravidão e é proclamada a Republica e são encontradas jazidas diamantíferas na África. 
há 200 anos a Chapada Diamantina era realmente o coração da Bahia. Dali saíam toneladas de ouro e diamante para a Europa e para o mundo, gerando uma riqueza como nunca mais se viu. Hoje, o tesouro que resta na Chapada é seu incomparável patrimônio natural. 
Mas o que poucos sabem é que essa natureza toda se estende muito além da cidade de Lençóis. 
Segundo Eduardo Silva, ―muitos libertos que vegetavam à margem do sistema em Salvador, no recôncavo ou mesmo no alto sertão, viram a riqueza dos diamantes como uma possibilidade de integração e também de ascensão social.

O liberto africano Benvindo da Fonseca Galvão, por exemplo, foi um daqueles que para as serras da Chapada direcionou atenções. Oficial do Exército brasileiro, pensador e articulador político. 

Cândido da Fonseca Galvão, mais conhecido como Príncipe Oba, ou Dom Oba II d´África, filho de africano forro, brasileiro de primeira geração, nasceu na Bahia, na região de Lençóis por volta de 1845. 
Neto do maior imperador yorubá, o rei Alafin Abiodun, responsável pela unificação do império yorubá na África. Seu pai – Benvindo da Fonseca Galvão – veio como escravo para o Brasil. 
Em meados do século XIX, já como escravo liberto e movido pela corrida em busca dos Diamantes da Chapada Diamantina. Quando Dom Oba II vem ao mundo, a comunidade escrava reúne suas economias e compra a sua liberdade, garantindo-lhe o título de homem livre. Aprendeu a ler e escrever com o pai.  

O Alferes Obá ficou eternizado na história depois de ter lutado na Guerra do Paraguai e em seguida se transformado numa figura conhecidíssima, amada e odiada nos últimos anos do Império, no Rio de Janeiro.
A aventura da Chapada Diamantina envolveu pessoas em diferentes condições jurídicas e sociais. Não foram apenas indivíduos de posses e/ou homens livres que para ali se dirigiram. Muito menos tinham como única pretensão acumular vultosas fortunas.
Os garimpeiros vinham de todos os lugares. 
Como bem pontuou J. Vieira do Couto, referindo-se a Minas Gerais no século XVIII: ―Ninguém precisa encorajar os homens para atividades mineradoras, o natural instinto, de que nos dotou a natureza, de caminharmos sempre pelo caminho mais curto à nossa felicidade, fará que haja sempre muitos mineiros.
Supõe-se que os mineradores de ouro já soubessem reconhecer os diamantes quando das explorações do referido metal em Rio de Contas no século XVIII e XIX, mas, talvez pela ilegalidade, garimpar diamantes fora da província de Minas Gerais, tenha inibido a sua divulgação. 56 Grosso modo, essas foram as duas primeiras etapas da ocupação na Chapada Diamantina

Fontes:
Veredas dos sertões da Bahia: economia e sociedade nos relatos de viajantes 

“Vinha na fé de trabalhar em diamantes.” Escravos e libertos emLençóis, Chapada Diamantina-BA (1840 – 1888).



AS SECAS NA BAHIADO SECULO XIX(Sociedade e Política)

Comentários

Postagens mais visitadas