Pequeno Dicionario da Cozinha Baiana

Verbete-M Mantinha

Carne defumada, feita a partir de técnica tradicional da região do Baixo sul da Bahia, conhecido também, por Costa do Dendê, onde até hoje é praticada, a carne é cortada em pequenas mantas, onde são temperadas e salgadas.
A palavra "Mantinha é derivada de"manter",proteger, assegurar; sustentar na posse ou gozo de algo; reter, conservar.  





Mantinha, foto: Fernando Sciarra

O processo acaba por ser anti-bactericida e antioxidante: o sal, o calor, a redução da umidade e a deposição de gorduras sobre a manta formam uma barreira química natural, que ajuda na sua conservação. 
A culinária local de Taperoá, Nilo Peçanha, Valença, terra do Zambiapunga, tem como comida típica a carne defumada de porco (a Mantinha).




Na cidade de Valença, Baixo Sul da Bahia, o Professor Bonfim, mantem a tradição na feitura das "Mantinhas" 










Os suínos foram introduzidos no Brasil por Martim Afonso de Souza em 1532 em sua capitania hereditaria. 
No início, os porcos brasileiros eram provenientes de cruzamentos entre as raças portuguesas, e não havia preocupação alguma com a seleção de matrizes. Com o tempo, criadores brasileiros passaram a desenvolver raças próprias. 

Fogo e família na recuperação da linhagem 
No Brasil, o fogo doméstico dos escravos, além de esquentar, secar e iluminar o interior de suas ‘moradias’, afastar insetos, e estender a vida útil de suas coberturas de colmo, também servia-lhes como arma na formação de uma identidade compartilhada. 




























Ao ligar o lar aos ‘lares’ ancestrais, contribuía para ordenar a comunidade – a sanzala – dos vivos e dos mortos. 
O fogo da lareira não era apenas fonte de calor e comida. 
Para o homem sentado na porta dessa casa, o cachimbo, aceso pela brasa dos espíritos, não era somente ‘um bom fumo’. 
Se no Brasil havia indignação pela presença do fogo sempre aceso dentro dos pequenos cubículos dos negros, também na África causava espanto. 
Foi Luiz Figueira [FIGUEIRA, Luiz. África Bantú. Raças e tribos de Angola 1938] , quem relata este costume dos Ambundo, no início do século XX: “Dentro das cubatas o fogo é permanente. De noite, sobretudo, esteja frio ou calor dormem sempre ao lado do fogo” 
O historiador Robert Slenes [SLENES, Robert W. "Lares Negro, Olhares Brancos: Histórias da Família Escrava no Século XIX" in Escravidão. Revista Brasileira de História. São Paulo, ANPUH/Marco Zero, vol8, Número 16, 1988], foi quem, no Brasil, apresentou os misteriosos significados simbólicos do “fogo” para os escravos. Recupera, de maneira brilhante, as implicações que a posse do “fogo” tinha para a sustentação da família e da comunidade escravas, completamente desconhecidas para os observadores da época e para os historiadores atuais. 
Em termos práticos, Slenes descreve os objetivos imediatos na manutenção de um fogo permanentemente aceso. 
Não havia fósforos, e seria sobremaneira incomodo ter de acender um, quando se quisesse cozinhar. Por outro lado, o fogo, em chama ou em brasa, controlava a temperatura de dentro das cabanas. A fumaça produzia fuligem e enegrecia o interior, agindo como um verniz, que afastava insetos, como a “formiga branca” (cupim). 
Os “buracos” ou frestas, que fizeram fez com que muitos observadores avaliassem como falta de cuidado ou pobreza, serviam como escapes de fumaça, na ausência de chaminés, de modo que o ar não se tornasse irrespirável. 
Caso houvesse chaminé, muitos destes objetivos práticos não seriam alcançados. 
Talvez mais importante do que estes, tenham sido os motivos religiosos e de organização social e política. 
Figueira, em 1938, afirmava que, entre os ovimbundu, o fogo sempre aceso era símbolo da continuidade de poder do soba (chefe)193. Quando um soba morria, os fogos das casas tinham de ser extintos, sendo de novo acesos pelo fogo criado pelo novo chefe. 
Slenes diz que era um costume tradicional e comum a vários grupos da África centro-ocidental. Entre os mpangu, um povo bakongo do Norte de Angola, o fogo representava o culto aos ancestrais e a continuidade da linhagem. 
Van Wing, [VAN WING, J. Études bakongo: sociologie – religion et magie. 2a. ed., 2 v. Bruxelas: Desclée de Brouwer, 1959.em 1938, descrevendo uma construção que servia para o culto aos ancestrais, afirmava que no meio dela existia um fogo que não podia nunca se apagar194. 
Entre os nsundi, outro povo bakongo, os fogos domésticos tinham ligação com o mundo dos espíritos – o mundo dos mortos e dos ancestrais. Em vários povos da África banto, há uma chama comunitária, de onde os habitantes devem buscar acender seu fogo, assim como, nos grupos onde há a criação de um novo fogo por um soba, todos devem ter seus fogos acesos a partir dele.

O Zambiapunga, manifestação popular considerado símbolo cultural de Nilo Peçanha, desfila nos festejos juninos e, sobretudo, em eventos que envolvam o padroeiro da cidade. Mas uma outra data importante e inusitada é o feriado de finados. Neste dia em especial, o colorido das roupas usadas na apresentação, vem representar as boas energias para receber os bons espíritos da alegria. 
Especialistas do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (Ipac) iniciaram a montagem de um dossiê para fundamentar a possibilidade de registro da zambiapunga como bem cultural intangível da Bahia.  




















O Zambiapunga é um grupo é formado por 60 homens que saem mascarados, com roupas e capacetes coloridos feitos de papel de seda e cetim. A manifestação é herança dos negros trazidos de Congo - Angola, de origem bantu, escravizados para trabalhar nos serviços agrícolas, no plantio de canaviais do Recôncavo e de grandes extensões de dendezeiros no litoral Baixo-Sul.

Em Nilo Peçanha tem um dos grupos mais tradicionais de zambiapunga, inclusive com sede própria, construída com recursos de apresentações de fora de Nilo Peçanha. Apesar de reino cristão, Portugal possuía elevado número de judeus em seu território, transformados forçadamente em cristãos-novos sob o reinado de D. Manuel, em 1497. 
Durante o período de expansão ultramarina, os judeus foram figura de destaque no financiamento e em diversas funções das navegações. Somente com a criação do Tribunal do Santo Ofício da Inquisição, em 1536, as práticas judaicas foram objeto de perseguição. 
A Inquisição portuguesa, a exemplo da espanhola, tinha como alvo principal as heréticas práticas judaicas, exercidas pelos cristãos-novos e seus descendentes. Apesar do empenho da Inquisição, as atividades criptojudaicas foram comuns, inclusive no Brasil, para onde se dirigiu elevado número de judeus conversos. 
Além de pretensos ou verdadeiros judeus, ciganos, muçulmanos, protestantes também faziam parte do mosaico religioso do Brasil desde o início do povoamento. 
Indicar todos como “brancos”, portanto, esbarra na mesma simplificação apresentada para os índios. 
Tratar dos “africanos”, como um grupo, significa incorporar mais um sem número de etnias no complexo cultural do Brasil. 
Antes de mais nada, é necessário frisar que o termo “africano”, para designar os negros oriundos do tráfico atlântico de escravos, é anacrônico para o período colonial e, mesmo, para a primeira metade do século XIX. 
Só se generalizou na segunda metade do século XIX. Inicialmente, os escravos eram denominados de “negros da guiné”, diferenciando-os dos “negros da terra” ou “negros brasis”, como eram chamados os índios. 
Não há consenso entre historiadores e nem mesmo entre as fontes de época sobre o termo “Guiné”, sendo bastante elástico, abarca diferentes porções da África Ocidental. 


Com o tempo, as descrições dos europeus vão-se restringindo a características mais humanas, embora sempre marcadas por juízos depreciativos. 
As denominações das áreas ocupadas ou atingidas pelos portugueses derivam, em boa medida, das motivações econômicas e religiosas da expansão marítima. 
Ainda no século XVII, a palavra “guiné” era utilizada como alusiva aos habitantes da costa ocidental africana. 
Durante o período de reconhecimento da costa africana e com o desenvolvimento do tráfico de escravos, outras designações começaram a aparecer, para diferenciar os muitos povos que passaram a ter contato com os europeus. Inicialmente, eram duas as principais áreas exportadoras de escravos: a Costa da Mina, onde estava a fortificação portuguesa do Castelo de São Jorge (localizado na atual cidade de Gana) e uma área mais ao sul, onde havia uma grande cidade denominada “Beny” (cidade de Benin), capital do Reino de Benin (atual Nigéria), que teve seu apogeu no século XIII, mas que, no século XV, já estava em decadência.

Não tendo ouro, o Benin incorporou-se ao circuito de tráfico de almas desde o século XV. As tentativas de cristianização da população de Benin mostraram-se infrutíferas e, durante todo o período em que durou o tráfico, a imagem de povo pagão vai acompanhar os oriundos de Benin. 
A Costa da Mina será referida, desde o século XV, com duas configurações: o Castelo de São Jorge, que representava a presença e o sucesso cristão na feitoria-fortaleza que celebrava o santo, e o Benin, identificado como o símbolo que resistiu à conversão. 
As designações dos grupos africanos escravizados são bastante complexas e dependem da época, de onde e de quem fala. 
Os documentos que trazem referências a estes povos muitas vezes dão mais informações sobre os grupos que dominavam o comércio escravista do que sobre os escravizados. 
Deve-se levar em conta, inclusive, que, dependendo da época, um povo era o traficante e o outro, o escravizado; num outro momento, poderia ser o contrário. 
Foi o caso, entre outros, da região em torno do Benin, onde se localizava o antigo reino de Ifé, também em decadência antes da chegada dos portugueses. 
No século XVII, quando aumentou o tráfico para esta área, o reino de Ardra, localizado no litoral (tendo como principal escoadouro o porto de Ajudá), dominava o comércio negreiro.

Na segunda metade do século XVII, a expansão do reino do Daomé, que se intensifica no século XVIII, fez com que os Ardra passassem de comerciantes a escravizados. 
Assim como estes, outros casos puderam ser identificados. 
A região da Costa da Mina, de onde proveio o segundo maior contingente de escravos para o Brasil, era habitada por numerosos grupos de língua e etnias variadas. Em torno do Castelo de São Jorge, por exemplo, havia, no início do século XVII, oito grande reinos – Iukassa, Ante (Ashante), Kommenda, Fetu, Asebu, Fante, Agona e Accra – e mais outros, que estabeleciam relações com os maiores. 

O crescimento do comércio e o aparecimento de um grande número de intermediários dificultam um entendimento claro da procedência dos escravos. 
Deve-se levar em conta, inclusive, a grande afluência de outros reinos europeus na Costa da Mina, região de muito interesse por sua minas de ouro e pelos escravos. Em 1637, os holandeses tomam dos portugueses o Castelo de São Jorge. Posteriormente, ingleses, franceses, dinamarqueses e brandeburgueses vão ali criar castelos e fortificações. É necessário destacar a presença constante de grupos islamizados entre os habitantes da Costa da Mina e sua vizinhança. 
A expansão muçulmana, presente desde antes dos descobrimentos portugueses naquela parte da África, fez com que muitos dos escravos trazidos ao Brasil fossem maometanos, entre eles os malinkes, chamados na Bahia de mandingos. 
Mulheres Malikes



















Mas foi principalmente no início do século XIX, quando um líder muçulmano iniciou uma jihãd, a guerra santa islâmica, em particular na região da atual Nigéria, que se produziu entrada significativa de escravos muçulmanos no Brasil, mais acentuadamente na Bahia. 
As designações dos grupos étnicos indicavam ora a procedência do porto de embarque ou da região genérica de onde eram provenientes, ora um grupo identificado dentro do Brasil, com características, aos olhos dos colonos, semelhantes, ora, ainda, como eles próprios se autonomeavam. 
Os primeiros escravos africanos a chegarem no Brasil foram os negros de origem Bantu. 
Foi procedente de Angola, em particular nos séculos XVII e XVIII, a maior parte dos escravos entrados no Brasil. 
De Moçambique, na costa oriental da África, também composta, em sua maioria, de população banto, apesar de contar com presença portuguesa desde final do século XV e com a criação da feitoria de Sofola, em 1505, vieram relativamente poucos escravos durante o período colonial. Chegaram por volta de 1560, trazidos da África Sul–Equatorial, em sua grande maioria vinham de Ngola (Angola), do Kongo (Congo), Costa do Golfo da Guiné, Moçambique e Zimbábue. Falavam a mesma língua, porém traziam com eles muitos dialetos cerca de 270, representando 2/3 do continente africano, chamado de África Negra. 
Segue algumas dessas línguas faladas pelos negros de origem Bantu: Ajaua, Bemba, Kuanhama, Ganguela, Iaka, Lingala, Makúa, Nhaneka, Nhungue, Nianja, Kikongo, Kimbundu, Kuinguana, Kioko, Ronga, Suaíle, Sutho, Tonga, Umbundu, Yangana, Shona, Zulu entre outras. 
A língua Kimbundu (originária dos povos Angolanos- Ngola ) e a língua Kikongo (originária dos povos Bakongo- Kongo ) são as mais usadas nos templos religiosos de cultura e tradição Ngola Kongo no Brasil. Desde a captura dos negros em sua terra natal até o transporte para o novo continente (Brasil), os negros Bantu já eram submetidos a condições sub humanas, dentro dos porões dos navios, sendo tratados como se fossem animais selvagens e muitos deles já padeciam antes mesmo de chegarem ao seu destino (Brasil). 

Ao chegarem no Brasil, principalmente no nordeste e com maior volume na Bahia, sua situação não era nada diferente, pois era o início da escravidão no Brasil e os negros trabalhavam à base de chibatadas e de grilhões, não tinham tempo para fazer nada, como praticar sua crença ou qualquer outra atividade sem ser o trabalho escravo. 
Além desse tratamento animalesco, os negros Bantu também eram obrigados à adorar os Santos de seus senhores, ou seja, os Santos Católicos, sendo assim suas próprias crenças, culturas e tradições foram deixadas de lado. Dois séculos depois da chegada dos negros Bantu, chegaram ao Brasil os negros Nagô, oriundos principalmente de Benin, hoje Nigéria. Trouxeram com eles seus costumes, seus cultos, suas tradições, seus Orixás (Orisá) e seu idioma, o Yorubá.

Os Nagôs, por terem chegado em uma época que a escravidão já se encontrava em uma situação mais amena, pois já existiam grupos de pessoas brancas lutando pelo fim da escravatura, até os senhores de engenho já usavam escravos dentro da casa grande para fazerem serviços mais leves, como limpar a casa, cozinhar, servirem seus donos como uma espécie de garçom e usavam as negras para alimentar seus próprios filhos com o leite materno. 
Os negros de origem Nagô sobressaíram aos negros Bantu com sua cultura, tradição e religião, pois os negros de origem Bantu já estavam em sua terceira geração aqui no Brasil e já estavam “desafricanizados” por seus senhores e muitos deles que haviam nascidos aqui, já se diziam “católicos”, ficando ao esquecimento sua própria tradição, cultura e religião. 

No século XVIII, os negros escravos aprenderam a aproveitar ao máximo todos os recursos alimentares disponíveis, pois era grande a dificuldade em conseguir alimentos no período da mineração, uma vez que as estradas eram precárias e toda a mão-de-obra estava voltada para a exploração das minas, por determinação da Coroa, assim, com o enorme afluxo de pessoas em busca do ouro, faltavam alimentos. 
Os suínos foram introduzidos no Brasil por Martim Afonso de Souza em 1532 em sua capitania hereditária. 
No início, os porcos brasileiros eram provenientes de cruzamentos entre as raças portuguesas, e não havia preocupação alguma com a seleção de matrizes. Com o tempo, criadores brasileiros passaram a desenvolver raças próprias. 
Outro episódio que comprova a excelente adaptação de porcos a ambientes selvagens americanos ocorreu após a Guerra do Paraguai: após a destruição das fazendas paraguaias por soldados, os suínos foram soltos no campo. Até hoje, a região central do Brasil tem porcos selvagens descendentes destes animais. 
Os suínos (Sus domesticus) apareceram na terra há mais de 40 milhões de anos. Sua domesticação, antes creditada ao chineses, remonta há mais de 10.000 anos atrás em aldeias do leste da Turquia, e norte da Africa, conforme recente pesquisa do arqueólogo americano M. Rosemberg, que descobriu que os primeiros homens de aldeias fixas, tinham como principal fonte de alimento os suínos, e não cereais como a cevada e o trigo.
Trazida pelo português, o porco, a carne de frango e de galinha era uma constante no cardápio desse período. 
A carne de frango era mais consumida que a de galinha, destinada a doentes e mulheres de resguardo. 
De acordo com Câmara Cascudo (1983), os indígenas não apreciavam galinhas e frangos, criavam-nos apenas para vender aos portugueses, o mesmo acontecendo com os ovos. Nessa conjuntura, o porco era o centro da economia doméstica, era criado nos quintais, ou debaixo dos soalhos, era alimentado com as sobras dos pratos e panelas. 
Do animal aproveitava-se tudo: desde a carne até a banha, o mocotó, o sangue, as tripas, enquanto a pele e os pés, as orelhas, o rabo e o focinho eram misturados ao feijão. 

Fontes: 
Sabores da tradição 
COTIDIANO DOS NEGROSNO BRASIL ESCRAVISTA

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