Pequeno Dicionario de Cozinha Baiana

Verbete R- Rolete de Cana 
Vendedores de Rolete de Cana Caiana, alegrava as tardes de domingo, afiava os dentes da molecada e enchia a boca de farpas. 


O oficio da venda de Rolete sofreu grande impacto das transformações sofridas pelas formas tradicionais de venda a partir do século XX. 
Os vendedores de Roletes, escolhiam um ponto movimentado da cidade e enchiam seus balaios com "cachos" de roletes, com pedaço de cana-de-açúcar raspada e cortada em fatias grossas, espetados num fragmento de bambu. 
Neste contexto, as ruas estavam cheias de vendedores ambulantes de todos os tipos, trabalho feito por escravos, sem remuneração, onde o lucro das vendas eram revertidos para os seus senhores.

Sacando a Cana 
Raimundo Sodré 
Da cana é que se faz o aguardente ou o caldo de cana depende da gente o engraçado oh minha mana é que quando a gente toma uma cana diferente dessas que engana e dá ressaca de repente então toma caldo de cana pra ficar bacana e sentir contente. 
Sacou? 
É da cana 
Que se tira o rolete 
Pra melaço de deleite 
Pra quem é bom de dente Mas quem carece dentadura 
Que esqueça a raspadura 
E se agüente 
A raça que é maluca, 
 Por que é inteligente 
 Da cana astuciou o açúcar 


O ciclo da cana-de-açúcar representa o segundo maior ciclo econômico do Brasil, dirigindo os rumos da economia brasileira e portuguesa durante os séculos XVI a XVIII. Quanto à colonização, esse cultivo foi extremamente importante, uma vez que estimulou o povoamento da colônia e a ocupação de seu vasto litoral. 
Grande produtor de açúcar nos séculos XVI e XVII, o Brasil, teve principalmente a Bahia Pernambuco e São Paulo como grandes produtoras. 

O Caldo de Cana 
No início do século XIX sol abrasador dos trópicos e a necessidade de novas técnicas de manejo da Cana, abriu-se espaço para a venda do Caldo de Cana nas ruas, adotando uma nova espécie de cana, a otaiti, ou cana caiana, como ficou conhecida no Brasil. 
Segundo o historiador cubano Manuel Moreno Fraginals, esta espécie de cana de açúcar também era conhecida na ilha de Cuba e que sua utilização tardia tem uma justificativa tecnológica: por ser mais fibrosa e de bagaço mais grosso do que o da cana crioula – a outra variedade usada em Cuba –, as moendas com tambores de madeira danificavam-se em meio a moagem, além de não retirarem o caldo a ponto de seu uso ser vantajoso na produção. 
A Cana caiana é uma variedade de Cana-de-açúcar de coloração de colmos arroxeados. 
É muito suscetível a doenças em especial ao mosaico da cana, provocado por um vírus. 
A cana caiana foi muito utilizada para a produção de açúcar, devido à sua qualidade e alto teor de açúcar. 
Olha o rolete! Rolete é de cana caiana! Quem vai querer?
O folclorista Luiz da Câmara Cascudo, atenta sobre os pregões, que podem ser divididos em duas categorias: os individuais, em que os vendedores escolhem uma maneira própria de apregoar; e os genéricos, que são usados por todos os vendedores do mesmo artigo. 
Além de uma importante referência cultural, os pregões possibilitam o conhecimento de vários aspectos sobre os usos e modos de vida de uma sociedade. 


O musico Jorge Fernandes (1907-1989) em seu começo de carreira, caracterizando-se pela dicção apurada e cuidadosa, especializou-se na interpretação de composições de inspiração folclórica, fez uma homenagem aos Vendedores de Rolete, com o baião "Rolete de cana".

O samba de Caninha

Ainda no território musical, o mais antigo sambista de primeira leva, tinha o apelido de "Caninha" era o compositor José Luiz de Morais, que na infância foi vendedor de Rolete de Cana nos arredores da Central Ferroviária do Brasil para sobreviver. 
Caninha foi amigo de Donga, Pixinguinha, João da Baiana e Heitor dos Prazeres, entre outros. Por volta de 1900, começou a frequentar a casa de Tia Ciata, nesta época também estudou cavaquinho com o músico Adolfo Freire. Seu primeiro sucesso foi o maxixe Gripe Espanhola, num momento em que que a famosa gripe tornava-se uma epidemia, obrigando as repartições públicas a fecharem suas portas para evitar contágio. 

A figura pitoresca do Vendedor de Rolete de Cana,  hoje pouco vista nas cidades brasileiras, ficaram retratados na memoria de muitos artistas, como é o caso desta obra do pintor brasileiro Joaquim Lopes de Barros, datado de 1840.  ​









Foi o próprio artista quem atribuiu o título: "Preto de caldo de cana".
Podemos também encontrar na obra do artista Carybé, na coleção As Sete Portas da Bahia a figura do vendedor de Rolete.
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