Brasil, o paraíso desconhecido de Friedrich Sellow

Friedrich Paul Sellow botânico e naturalista, explorou o Brasil e enviou toneladas de tesouros da história natural para a Prússia, sua terra natal, ele próprio não voltou a sua terra natal, onde caiu no esquecimento. 
Trazido pelo Barão von Langsdorff, o explorador Friedrich Sellow (1789-1931) onde os apoiou nos primeiros dias de exploração no Brasil. 
Muitas das expedições levaram Sellow e seu amigo Ignaz von Olfers às tribos indígenas, neste desenho, Sellow mostrou uma cabana típica com redes e objetos do cotidiano
Nascido em Potsdam, em 1789, Friedrich Sellow, filho de um jardineiro da corte do Palácio Sanssouci, nasceu com a botânica em seu berço. 
Aos sete anos de idade, após a morte de seu pai, ele foi entregue pela mãe a uma instituição de meninos no Upper Lusatia. 
Por dois anos e meio, ele permanece na herdade religiosa para crianças missionárias, lê relatórios de viagem de missionários na biblioteca. 
Estes escritos devem tê-lo inspirado: o jovem Friedrich, segundo relatos, dormia no chão, lavava-se no inverno frio ao ar livre, comia peixe cru e aves recém-abatidas, provavelmente para endurecer seu caráter, decidido viajar para terras distantes há muito tempo. 
Friedrich Paul Sellow (1789-1831?) - Revista de História da Biblioteca Nacional, ano 3, nº 28, janeiro de 2008.  


"O Brasil! Como se você estivesse entrando em um paraíso desconhecido ... "
Brasil no século XIX: um país inexplorado se abre para o mundo. 
No Brasil, começa o alvorecer da independência, com os portos brasileiros abrindo suas portas para países estrangeiros pela primeira vez em séculos. 
Um dos primeiros a partir em busca de povos, culturas, animais e plantas até então desconhecidos é Friedrich Sellow. Mais do que qualquer outra pessoa (muitas vezes sozinho) sem residência permanente no país, nenhum outro europeu a conhecerá tão bem. 
Sellow recebeu subvenções financeiras do Museu Nacional (1815) e realizou visitas aos estados do Espírito Santo,
Minas Gerais, Bahia e São Paulo; ele se fez acompanhar de naturalistas ilustres, realizou importantes coletas e tinha apenas 42 anos quando encontrou a
morte nas águas do Rio Doce (FERRI, 1955). Muitas de suas descobertas foram incorporadas à obra de von Martius e von Spix, naturalistas alemães que produziram uma vasta obra sobre a biodiversidade brasileira (Reise in Brasilien, 1823).

Sellow coleciona milhares de animais e plantas, as impressões de sua jornada que ele guarda em seus diários recentemente decifrados. 
Paisagens, objetos naturais e retratos da população indígena são desenhados à mão pelo talentoso desenhista, e sua propriedade inclui mais de cem caixas. 
Depois de explorar o Brasil sem cessar por 17 anos, em 1831, Sellow, com a intenção de voltar a Berlim, não sem antes medir o Rio Doce, o "rio doce". 

Uma decisão fatal, porque no trabalho ele deve ter se afogado ou morto. As circunstâncias exatas nunca poderiam ser esclarecidas, e suas ferramentas ainda foram encontradas na margem do rio. 
Aquarela de Sellow mostra um membro da expedição local com equipamentos leves - "Pai Gotinho"

Texto de Friedrich Sellow sobre a colheita e o preparo da erva-mate nas cercanias da antiga Missão de Santo Ângelo, no atual estado do Rio Grande do Sul, extraído de um relatório por ele enviado em 1826 ao Barão de Altenstein. 

Friedrich Sellow constitui “material de primeiríssima ordem para a história” do estado sulino, apesar de restar esquecido, “à espera de atenção das autoridades governamentais, das entidades de cultura do Rio Grande do Sul” ou, ainda, de “alguma organização teuto brasileira” que se empenhe em “tornar conhecidos os resultados invulgares e universais” de sua “unipessoal” expedição científica. 
Parece inconcebível que um único naturalista tenha conseguido reunir coleções tão prodigiosas de plantas, animais, minerais e fósseis no Rio Grande do Sul, ao mesmo tempo em que registrava observações meteorológicas e astronômicas, elaborava glossários de termos charruas e minuanos, bem como desenhos de cidades, paisagens, tipos humanos, armas, utensílios e técnicas de produção. 
Quase todo este material, infelizmente, ainda continua inédito, guardado em instituições que apenas recentemente começam a divulgar esses tesouros ao público. 

Este é o caso de Die Erkundung Brasiliens, de Zichler, Hackethal & Eckert , que em obra ricamente ilustrada fornece uma amostra significativa da contribuição científica e artística de Friedriech Sellow à terra brasileira. 

A esse respeito, cabe salientar que Stephen Bell, antes mesmo da referida obra, já dizia não compreender como os acadêmicos sul-brasileiros, muitos dos quais de origem teuto-brasileira, não trataram de pesquisar mais a fundo o acervo de Sellow no Museu Zoológico de Berlim, a despeito da intensa cooperação internacional existente entre Alemanha e Brasil. 
Demonstrando investigação na fonte, o historiador americano comenta que ali se encontram desenhos de índios, feitos pelo naturalista, e plantas de antigas reduções jesuíticas do Rio Grande do Sul. 
Vindo a publico em 2010, a crítica de Bell fica inteiramente comprovada com a publicação de Die Erkundung Brasiliens, uma vez que a obra fornece alguns dos preciosos desenhos de Sellow, juntamente com textos muito elucidativos. 

O escasso conhecimento no Brasil sobre a contribuição de Sellow torna-se ainda mais difícil de aceitar quando se verifica que renomados intelectuais e cientistas do século dezenove já eram unânimes ao destacar o esforço quase sobre-humano do viajante. 
"Os próprios jesuítas deixaram os índios em nível inferior e lhes sufocavam o espírito de autonomia por força de uma educação inteiramente claustral, em que era tido por dever capital a obediência cega. Assim, tanto mais facilmente deles fizeram escravos os administradores espanhóis e portugueses. 
Foi também assim que esqueceram os nomes das plantas e dos animais do ambiente. 
Alguns objetos bem distintos; por isso, também nesse aspecto, não colhi de minha viagem as vantagens que esperava. 
A melhor situação é a de St. Ângelo, onde se cultiva, com proveito, a cana-de-açúcar e, em suas proximidades, nas matas do Uruguai e do Ijuí, se encontravam grandes ervais, trechos de mata alta em que abunda o caá, o mate ou erva, planta que, todavia, não vive em grupos. Para observar a preparação deste chá, de todo indispensável a muito sul-americano que o reclama sofregamente e que se toma em cuias de cucurbitácea, por meio de um canudo com a extremidade provida de peneira ou ralo, visitei um dos respectivos locais. 
Os empreiteiros penetram na mata em companhia de seus serviçais, levando víveres, material de caçador, bons cães de caça e, inicialmente, estudam o local das árvores que vão explorar.
Decidido onde se estabelecer, eles montam um acampamento, constituído de cobertura, à guisa de telhado, na forma usual ou de pirâmide, com a borda inferior a cinco pés do solo e sustentada por esteios, de forma que, em caso de perigo de incêndio, possam ser facilmente descobertas e postas de lado 15. Se forem muito grandes ou se houver receio de que possa chover, ainda se aplica uma cobertura de sapé. De fato, as árvores de erva-mate, por seu menor porte, integram o sub-bosque da Floresta Latifoliada e da Floresta Mista. Trata-se do porongo, fruto do porongueiro (Lagenaria siceraria (Molina) Standley). 
É do fruto desta Cucurbitácea que se extrai a cuia, isto é, o recipiente tradicionalmente usado para se tomar mate. Tanto a palavra mate (mati), como porongo, provém do quíchua, a língua do império inca. Com relação a mati, o termo era utilizado, originalmente, para designar o recipiente, e não à bebida nele tomada, correspondendo à cuia, palavra que, por sua vez, é usual tanto tupi como no guarani (cuya, kui aua) e no português brasileiro. Trata-se da bomba, em português, ou bombilla, em espanhol, objeto feito de metal, mormente de prata. Para sorver o mate, os índios valiam-se do tacuapí, canudo feito a partir do colmo de Poáceas do gênero Merostachys Spreng." Friedrich Sellow

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