ESTATEGIAS LIBERTÁRIAS DE RESISTÊNCIA CARETAS DO MINGAU


Entre as celebrações mais marcantes do Dois de Julho — data que marca a Independência da Bahia — destaca-se uma manifestação única e pouco conhecida fora do Recôncavo: as Caretas do Mingau, tradição do município de Saubara.

Na madrugada do dia 1º para o dia 2 de julho, um grupo de mulheres vestidas de branco e com os rostos cobertos percorre as ruas da cidade, distribuindo mingau, bebendo licor e fazendo a maior algazarra. À frente da brincadeira está Dona Maria da Cruz Santos, de 84 anos, guardiã da tradição e liderança dessa festa ancestral que rememora o papel fundamental das mulheres na luta pela independência do Brasil.

Poucos sabem, mas a guerra pela Independência começou muito antes do famoso grito de D. Pedro I, em 1822. A Bahia, com sua produção de açúcar e tabaco dominada por grandes latifundiários, resistiu bravamente à permanência portuguesa. A luta tomou força quando as vilas do Recôncavo começaram a se unir à insurgente Cachoeira. Em Salvador, o general português Inácio Luís Madeira de Melo apertava o cerco, promovendo uma repressão violenta que levou à fuga de milhares de moradores para o interior.

Foi no Recôncavo da Bahia de Todos os Santos — em vilas como Itaparica, Madre de Deus, Santo Amaro, São Francisco do Conde, Cachoeira, Maragojipe, Nazaré e Salinas da Margarida — que os principais combates aconteceram. Saubara, então distrito da Freguesia de Santo Amaro desde 1696, tinha localização estratégica: à margem direita do Rio Paraguaçu, era passagem obrigatória das tropas portuguesas em direção ao interior.

A defesa da região foi liderada pelo Padre Manuel José Gonçalves Pereira, que convenceu os homens da terra a se refugiar no mato e resistir em estilo guerrilheiro. Com o povoado esvaziado e sob ocupação inimiga, as mulheres de Saubara criaram uma tática engenhosa e corajosa: disfarçadas como assombrações, saíam em grupos pelas madrugadas, fazendo barulho para assustar os portugueses. No trajeto, deixavam mingau e alimentos em locais combinados, garantindo a sobrevivência dos combatentes escondidos na mata.


Essa é a origem lendária das Caretas do Mingau. Verdade histórica ou não, a narrativa sustenta uma das manifestações culturais mais antigas do município e reivindica com força o protagonismo feminino nas lutas pela independência. Não por acaso, o símbolo maior da independência em Saubara é feminino: a imagem da Cabocla, saudada com entusiasmo ao final da festa.

A pesquisadora @Judite Barros resgata essa memória com carinho e rigor histórico, reafirmando a importância da cultura local como guardiã da resistência popular.


🎥 Confira mais sobre a história das Caretas do Mingau no vídeo: https://vimeo.com/12521103


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