Tradicional Casa Villariño vai reabrir graças ao Senac

Patrimônio Cultural do Rio de Janeiro, a Casa Villariño, fundada em 1953, que já teve como pianista Tom Jobim, foi fechada pela pandemia, o Senac vai reabir

A ideia é transformar o lugar em uma escola de gastronomia, incluindo aulas das receitas que fizeram a história do local.

Quando foi criada, por espanhóis, em 1953, a Casa Villarino funcionava como uísqueria – chegou a ganhar a fama de “A Rainha do Whisky” – e só abria a partir das 18h. 

O bar foi ponto de encontro de grandes nomes da nossa música, na época áurea do rádio. Artistas, boêmios, jornalistas, cartunista, escritores, políticos e personagens da boemia carioca eram frequentadores da casa. E chegou a ter um Tom Jobim de 27 anos como pianista, e foi lá que foi apresentado a Vinicius de Moraes em 1956.

Com uma atmosfera acolhedora, a Casa ainda preserva sua aura nostálgica por todos os cantos.

Fundada em 1953, a Villarino funcionava, inicialmente, como uma uisqueria e só abria às 18h. Naquela época, as grandes rádios e gravadoras localizavam-se na redondeza, o que contribuiu para que ela se tornasse ponto de encontro de ilustres, como Ary Barroso e Elizete Cardoso, entre muitos outros artistas, além de políticos, artistas plásticos e toda gama de personagens da fina boemia carioca.

Foi lá que a parceria de Vinícius de Moraes com Tom Jobim foi selada, gerando a peça “Orfeu da Conceição”. Ainda existe na casa a mesma mesa à qual se sentavam os famosos.

A parede atrás dela foi coberta com um painel fotográfico em tamanho natural onde figura boa parte deles, confraternizando. A casa que testemunhou o nascimento da Bossa Nova ainda conserva o piso, o mobiliário e os letreiros originais, bem como fotos e registros autografados. A propósito, registrar em fotos os clientes frequentadores, ilustres ou não, já virou um hábito, e tal acervo conta hoje com mais de cem quadros. Em 2013, na ocasião da comemoração dos 60 anos, foram convidados 60 clientes assíduos para soprar as 60 velinhas do bolo e sugerir, cada um, como seria seu prato predileto.

Os pratos foram batizados com seus nomes e estão até hoje nas sugestões do chefe, onde, a cada dia, um deles é oferecido. Várias outras opções completam o cardápio, que agrada aos mais diversos paladares. Dos produtos ao atendimento, tudo no Villarino tem qualidade.


A delicatessen, logo na entrada, expõe desde finos chocolates importados aos mais qualificados rótulos de bebida.

A carta de cervejas oferece as melhores marcas e sempre apresenta novidades. Passado o horário do almoço, o bar assume a antiga identidade, oferecendo petiscos como a tábua de frios, pães e pastas especiais e sanduíches diversos, além dos produtos à venda na delicatessen.

A atenção e gentileza dos empregados fazem com que cada um se sinta um cliente ilustre.

Histórias do Bar Vilariño.

Lá, Tom Jobim e Vinicius de Morais, em 1956, conversaram muito sobre o projeto de montagem da peça Orfeu da Conceição, que viria a se transformar em um marco para a música brasileira.
Na foto, dentre outros, aparecem Di Cavalcanti, o pintor cearense Antônio Bandeira, Dolores Duran, Elizeth Cardoso e o grande compositor Evaldo Rui. Faltaram, neste dia, outros frequentadores assíduos como: Lúcio Rangel, Ari Barroso, Antônio Maria, Sérgio Porto e Lígia Clark. Eventualmente a mesa acomodava também Paulo Mendes Campos e Manuel Bandeira que certa vez levou Pablo Neruda
Numa mesa de peso como aquela, só poderia dar em histórias memoráveis. 






No local, um impaciente Newton Mendonça, o talentoso e injustamente esquecido parceiro de Tom Jobim, foi dar um ultimato ao companheiro de “Desafinado”: terminar um projeto há muito pendente. Tratava-se da  da música “Samba de uma nota só” que os dois vinham compondo há tempos. Na verdade, Jobim não acreditava muito no que ele chamava de “sambinha” e por isso vinha adiando a conclusão da música. Quem perpetuou a memória de muitos casos acontecidos no bar, alguns hilários outros surpreendentes, foi o falecido jornalista e compositor Fernando Lobo, pai de Edu Lobo. Um boêmio incorrigível, Fernando Lobo era assíduo freqüentador do bar e registrou suas lembranças do local no livro “À mesa do Vilariño”,
uma comovente viagem às suas reminiscências.
No livro, escrito no início da década de noventa, Fernando se inspirou em uma velha foto tirada na mesa do bar para construir, nas palavras de Guilherme Figueiredo, “Um vernissage retrospectivo, uma hora da saudade.
E uma afirmação de vida”.
Disso se valeu Fernando Lobo para escrever um livro daqueles que lamentamos quanto termina. 

Ele conta que, certa vez, Avila, um dos freqüentadores mais assíduos, resolveu assinar na parede um desenho de sua autoria. Posteriormente o pintor Antônio Bandeira deu a idéia de cada um deixar declarações e traços de sua presença. 
Com o tempo, a iniciativa ganhou seguidores. 
De forma improvisada, o pintor cearense deixou seus desenhos, Panceti desenhou, com o batom de uma amiga, uma marinha, e com o batom de Dolores Duran, belos barcos vermelhos, Di Cavalcanti também deixou sua marca, Paulo Mendes escreveu versos, Vinicius idem, até um sisudo Pablo Neruda cedeu ao costume na sua única visita ao bar.

O ato desastrado do proprietário do bar parecia ser um prenúncio do fim do animado grupo. Fernando Lobo, que teve uma vida longa, relatou com certa melancolia, mas sem ceder à pieguice, o destino de cada um do grupo.

Alguns, a exemplo de Antonio Maria, Antônio Bandeira e Dolores Duran, morreram cedo, outros se afastaram devido às atividades profissionais e as mudanças dos costumes do centro do Rio. Alguns anos depois do atentado contra o painel dos famosos, o novo proprietário, Antonio Vasquez Alvares, um antigo garçom do estabelecimento, tentou recuperar o afresco escondido nas diversas pinturas, mas foi em vão. Estava perdida para sempre uma preciosidade da cultura. Restaram, entretanto, algumas fotos como a exposta  no  fim deste post. Parte do painel pode ser visto atrás de Vinicius de Moraes. Na mesa, estão: Lúcio Rangel à esquerda do poetinha; à direita, o pequeno Pedro, filho de Vinicius; em pé à direita, o poeta Paulo Mendes Campos; e logo a frente de Mendes Campos, o autor do livro, Fernando Lobo.

Vida Longa ao Villariño!



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