Prêmio reconhece sistemas agrícolas tradicionais

Boas práticas para agricultura sustentável foram selecionadas em várias regiões brasileiras.

Armindo Paiva visitando roça de abacaxi na comunidade Canadá, localizada na Terra Indígena Alto Rio Negro (AM)

No município de Santa Isabel, no noroeste do Amazonas, a Associação das Comunidades Indígenas do Médio Rio Negro (ACIMRN) implantou a Casa das Frutas, que dá suporte de infraestrutura e de gestão a diversas cadeias de valores para produtos desenvolvidos com frutas secas e atende povos indígenas que habitam aquela região. Essa iniciativa é a primeira colocada da 2ª edição do Prêmio BNDES de Boas práticas em sistemas para agrícolas tradicionais sustentáveis.

Durante o evento, será lançado pelo Mapa, por meio da Secretaria de Agricultura Familiar e Cooperativismo (SAF), o “Guia para elaboração de propostas ao reconhecimento internacional de Sistemas Importantes do Patrimônio Agrícola Mundial: Orientações aos postulantes”. O material é uma versão adaptada do manual em inglês elaborado pela FAO.

O documento fornece orientações para a elaboração de propostas nacionais ao reconhecimento internacional oferecido pelo programa Sistemas Importantes do Patrimônio Agrícola Mundial (SIPAM), da FAO. A iniciativa ressalta a importância global de sistemas agrícolas locais para a conservação dos recursos fitogenéticos, a segurança alimentar e nutricional, a proteção dos conhecimentos tradicionais e a conservação do patrimônio cultural e socioambiental.

“O Brasil, com sua imensa sociobiodiversidade, possui diversos Sistemas Agrícolas Tradicionais com potencial para serem reconhecidos pelo programa SIPAM. Para que isso se torne realidade e possa refletir em benefícios para as comunidades tradicionais, é preciso ter atenção na hora de elaborar a proposta. Nossa expectativa é que o guia auxilie de forma significativa cada pretendente a organizar sua proposição e preencher o formulário para a submissão da proposta”, destaca o secretário de Agricultura Familiar e Cooperativismo do Mapa, Fernando Schwanke.

Premiados

O primeiro lugar ficou com o projeto da Casa das Frutas de Santa Isabel do Rio Negro (AM), proposto pela Associação das Comunidades Indígenas do Médio Rio Negro (ACIMRN) para estruturar e gerir a cadeia de valor de produtos desenvolvidos com frutas secas no município. A iniciativa resultou no projeto arquitetônico e construção de uma casa de beneficiamento de frutas secas, que será utilizada por agricultores de comunidades indígenas de diversas etnias da região. 

O projeto de conservação da agrobiodiversidade por meio da Rede de Bancos Comunitários de Sementes da Paixão do Território da Borborema (PB) ficou com o segundo lugar. Apresentado pelo Polo Sindical e das Organizações da Agricultura Familiar da Borborema, o projeto, localizado no Sertão da Paraíba e iniciado em 1993, mapeou e promoveu o resgate e a conservação das sementes crioulas, conhecidas como “sementes da paixão”. Atualmente, a rede atende 4.308 famílias e conta com o envolvimento de 1.304 guardiões.

A terceira colocação ficou com a candidatura das comunidades de apanhadoras de flores sempre-vivas da porção meridional da Serra do Espinhaço (MG) ao programa SIPAM. A ação foi apresentada pelo Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas (CAA-NM) como estratégia de valorização dessas comunidades. Em 2020, o SIPAM concedeu o título a essas comunidades, reconhecendo as iniciativas seculares de povos tradicionais da região, que desenvolvem suas práticas agrícolas a partir de conhecimentos indígenas mesclados com influências de portugueses e africanos no período colonial. As famílias unem agricultura, criação e coleta de flores, e convivem de forma harmônica com todos os ambientes naturais.

Também foram premiados: A Associação Etnocultural Indígena Enawene Nawe, do Noroeste de Mato Grosso, pelo Ritual do Iyaokwa, que marca o início do calendário anual deste povo; o Centro Cultural Kàjre, pela feira de sementes tradicionais do povo indígena Krahô, em Goiatins, no estado do Tocantins; a Associação Comunitária dos Pequenos Criadores do Fecho de Pasto, do Oeste da Bahia, pela iniciativa dos guardiões e guardiãs do Cerrado em defesa da biodiversidade; a Associação dos Pescadores Artesanais de Porto Moz (Aspar), no Pará, pela conservação dos estoques pesqueiros e fortalecimento da entidade e da categoria; a Associação Indígena Ulupuwene, do Alto Xingu, pela festa do Kukuho (espirito da mandioca); o Centro de Tecnologias Alternativas Populares, do Rio Grande do Sul, pela conservação e manutenção dos potreiros tradicionais, por meio do aproveitamento e uso das espécies vegetais nativas; e o Centro de Agricultura Alternativa Vicente Nica, em Minas, pelo Catálogo de Sementes do Alto Jequitinhonha.


Fonte: ASA

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